RPG – Real Playing Game

Num futuro próximo, Steve Battier, um multimilionário idoso e com uma doença terminal, aceita a proposta da empresa de biotecnologia RPG, que a troco de um elevado valor monetário, oferece a um grupo muito restrito de clientes a possibilidade de voltarem a ser jovens, atraentes e saudáveis.

Durante 10 horas, 10 milionários de todo o mundo vão transferir-se para corpos jovens para viver um rejuvenescimento temporário num jogo muito real de emoções fortes em que a cada hora alguém morre.

Assim, é um jogo de sobrevivência, em que 10 jogadores estão num jogo mortal, onde só um pode sobreviver.
Enquanto os outros morrem na vida real (quando morrem no jogo), o sobrevivente irá permanecer jovem na vida real.

Os 10 jogadores, agora em corpos de jovens dentro do jogo, vão fazer de tudo para serem eles a vencerem, e continuarem jovens para sempre.

Os jogadores acordam no jogo sem memória: sabem quem são, mas não sabem como foram lá parar e o que é aquele sítio.

O dono da empresa aparece-lhes e explica-lhes que isto é um jogo. Que os corpos verdadeiros são velhos e estão nuns pods. Que eles são velhos, mas ricos, poderosos e famosos. E diz-lhes as regras: um morre a cada hora. E no final do jogo, só um estará vivo.

Quem mata, só pode matar se souber quem é a pessoa velha real “por trás” daquele corpo jovem. Se errarem na identificação, então o assassino morre.

Eles vêem um muro a rodear a arena do jogo. Parece um muro de pedra. Na verdade, é uma barreira electromagnética que cerca toda a arena de jogo.

A primeira a morrer é uma mulher jovem. Na verdade, era um atleta profissional masculino já velho. Ou seja, um atleta que queria ser mulher.

A segunda a morrer disse que era atriz ao seu assassino. Mas mentiu-lhe. Ela era a cantora. Por isso morreram os dois.
O assassino era o ditador africano.

A seguir, morre a atriz.
A quinta pessoa a morrer também era mulher. Era lésbica.
Seguidamente, morreu o chinês.
Depois morreu o playboy.
E posteriormente morreu o magnata russo.
A nona pessoa a morrer era a princesa.
Assim, ficou um sobrevivente.

Sem surpresa, ganhou o “cromo dos computadores”, Steve Battier.
E ficou com o corpo jovem, por mais algum tempo, na vida real.

Mas afinal, o corpo é idoso na mesma. No entanto, Steve acredita que está num corpo jovem.

Gostei deste filme quando o vi pela primeira vez.
Gostei sobretudo da potencialidade da ideia… até porque a tecnologia do filme está prevista para um futuro próximo.

Entretanto, já vi o filme mais algumas vezes, e cada vez me parece pior.
É um filme que vai piorando à medida que o vou vendo.

Este filme fez-me lembrar alguns outros filmes com premissas similares, como Existenz, Substitutos e Ready Player One. Em todos eles, os jogadores estão imersos no jogo, e o que acontece no jogo acontece-lhes a eles: se morrerem no jogo, morrem na realidade.
Também me parece um Hunger Games para idosos…

Em termos positivos temos o facto de ser um filme português de ficção científica.
Alguns dos actores são portugueses: Soraia Chaves, Débora Monteiro, Victoria Guerra e Pedro Granger.

É excelente terem utilizado o objectivo real da procura constante pela eterna juventude.
Parece-me algo que realmente as pessoas vão procurar.

Achei excelente a explicação do director da empresa: “I’m a kind of priest. They want to believe and I help them believe.” – “eu sou como um padre: eles querem acreditar e eu ajudo-os a acreditar”.
Ou seja, claramente o director sabe que está a enganar os clientes, mas manipula-os de modo a eles acreditarem nessa mentira. Isto é muito parecido com o que fazem os vigaristas pseudo.

O final do filme deixa a mensagem de que nem sempre aquilo que vemos é o que parece ser. Steve vê um corpo jovem, acredita que está num corpo jovem, mas na verdade está enganado (manipulado): ele é idoso na mesma, mas ele não o consegue ver.
Mais uma vez, parece-me uma ideia realista: muitas vezes, as pessoas vêem aquilo que querem ver.

Parece-me uma boa interpretação imaginar que idosos, sendo pessoas, querem ter corpos jovens para fazerem sexo com outros. Parece-me uma ideia realista.

Pareceu-me ver uma menção a Bruce Jenner (das Kardashian), na personagem do atleta que queria ser mulher (Caitlyn Jenner).

RPG é a resposta da biotecnologia neurocelular para a eterna juventude.
Mas isto é technobabble. Nada é explicado.
Além disso, é mentira: é só um corpo virtual num jogo de computador.

Outro ponto negativo é o não desenvolvimento das personagens. Não sabemos quem eles são na vida real (sabemos só o seu título).
Isso não cria empatia entre o espectador e as personagens.
Além disso, poderia criar-se um jogo com o espectador, em que ele iria tentar descobrir quem é quem. Mas nada disso é feito no filme. Não existe essa promoção da curiosidade no espectador.

As interpretações dos actores também são um desastre.
Mais um ponto muito negativo.

Os efeitos especiais são péssimos: desiludem imenso.

De resto, vi várias coisas que ou não entendi ou não fazem sentido…

Por exemplo, 9 deles morrem na mesma (como morreriam se não fizessem o jogo).
Em vez de morrerem em casa, de forma descansada, com a família… preferem morrer de forma violenta, assassinados num jogo.
Isto é uma morte melhor?
Só para terem um corpo jovem durante alguns minutos, quando nem sequer o têm na realidade porque é só no jogo?

Porque eles acordam sem memória? Porque eles não têm as memórias anteriores?
Supostamente deveria ser um cérebro velho (real, com as memórias) num corpo jovem: “old brain in the new body”.
Além de não fazer sentido a falta de memória, não acresce nada em termos de jogo…

Mais uma característica do jogo que não faz qualquer sentido é: se o assassino errar na identificação do assassinado, então o assassino morre.
Não era necessária esta regra. Ela serve só para complicar o filme.

No filme é dito que quem ganhar o jogo, fica jovem para sempre.
Mas parece ser dito como se fosse um defeito: como se fosse um problema técnico na tecnologia do dono da empresa.

O jogo é passado em Portugal, em 2013; com Portugal em ruínas.
Mas não vi Portugal. Não vi quaisquer ruínas de Portugal. Poderia ser qualquer lugar no mundo com casas abandonadas.

Conclusão: um filme com muito potencial devido a uma boa premissa, mas que desilude na sua execução.

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