Já por diversas vezes, aqui em artigos, combatemos as falácias naturalistas e os sentimentos quimicofóbicos.
Sentimentos contra os químicos, não fazem qualquer sentido, porque todos somos feitos de químicos. Sem químicos, não existiríamos.
Estar “contra os químicos” como uma bandeira geral, é estar contra o elemento químico oxigénio ou contra a água, por exemplo. É uma estupidez.
Da mesma forma, tudo é derivado da natureza. Não somos mais naturais ou menos naturais. Nós próprios, humanos, fazemos parte da natureza.
Não podemos ignorar ou negar a ciência, com base em falácias, e depois, diariamente, hipocritamente utilizar os benefícios que a ciência nos dá.
Daí que gostei deste artigo de opinião.
Se retirarmos a parte política, e nos focarmos nas evidências das falácias, sublinho estas partes do texto:
Sobre a chamada Agricultura Biológica:
“(…) a agricultura biológica, aproveitando a ideia disseminada na população que é uma agricultura melhor para a saúde, para o ambiente e que não utiliza pesticidas. Todas estas ideias, filhas do marketing, não têm sustentação factual.
Na realidade a agricultura biológica não demonstrou ser melhor para a saúde, não demonstrou produzir alimentos mais nutritivos e apresenta-se pior para o ambiente segundo a última meta-análise de 2017, pela simples razão de precisar de mais terra para produzir a mesma quantidade de alimentos (entre 25% a 110%) e levar a maior eutrofização dos ecossistemas circundantes. Mais terra para o mesmo número de alimentos significa maior destruição de ecossistemas para produção agrícola. Maior eutrofização significa mais zonas mortas aquáticas, por exemplo.
Ao contrário do pensamento popular a agricultura biológica usa pesticidas, alguns dos quais mais tóxicos e menos bem estudados que os pesticidas habitualmente utilizados na agricultura convencional. Não deixa de ser engraçado que no “Relatório de Controlo Nacional de Resíduos de Pesticidas em Produtos de Origem Vegetal no ano de 2017”, publicado recentemente, tenha encontrado mais resíduos de pesticidas nos produtos biológicos e maior número de infrações percentuais, em comparação com a agricultura convencional.
Comprar produtos biológicos é pagar um preço pela ignorância científica. E, paradoxalmente, é contribuir para a degradação do ambiente e não o inverso do que o consumidor pretende. O marketing ganha, a ciência perde. (…)
(…) Podemos denominar os ativistas anti-transgénicos como os “anti-vacinas da agricultura”, já que esta tecnologia tem dezenas de consensos científicos que garantem a sua segurança, são uma tecnologia defendida por um manifesto assinado por 141 prémios Nobel e não haver qualquer registo de morte associada ao seu consumo. Zero.
Aliás, os transgénicos têm potencial de salvar milhões de vidas. Temos o caso do Arroz Dourado, arroz fortificado com vitamina A, que finalmente vai entrar no mercado. Este arroz poderá salvar centenas de milhares de pessoas da cegueira ou da morte, causadas por défice de vitamina A, problema extremamente relevante nos países Sul-Asiáticos e África Subsariana.
Contrariando o pensamento popular, os transgénicos BT têm o potencial de diminuir o risco de cancro, dado que apresentam menor contaminação por aflatoxinas, toxinas produzidas por fungos e que aumentam o risco de cancro hepático. Temos também a Innate Potato, uma Batata que contém menos Asparagina e que, quando frita, leva a menor produção de Acrilamida, um carcinogénio conhecido. (…)
Mas os transgénicos não são apenas seguros e eventualmente benéficos para a saúde. Sabemos que esta tecnologia permite a redução de forma impressionante da utilização de pesticidas, consegue levar a uma redução da erosão do solo e libertação e gases efeito estufa, o que é positivo para o ambiente. Tal foi demonstrado recentemente por um estudo Ibérico após 21 anos de utilização de transgénicos. E existem dezenas de estudos semelhantes. (…)”
Sobre as chamadas Terapias Alternativas:
“(…) Para além de não haver qualquer estudo que demonstre que as terapias tenham benefício para lá da melhoria da “qualidade de vida”, a realidade é que estas terapias são perigosas não apenas pela sua inutilidade, mas por serem focos de propagação de desinformação sobre tratamentos médicos eficazes. Não há estudos que demonstrem que as terapias alternativas prolonguem a vida, mas há estudos na área da Oncologia e Reumatologia que demonstram piorar o prognóstico e acelerar a morte. Acima de tudo por afastarem os doentes dos tratamentos médicos eficazes. Não só isso, os terapeutas alternativos são um dos grandes focos de promoção do medo relativamente à vacinação. (…)”
Todo o artigo, da autoria de João Júlio Cerqueira e Miguel Mealha Estrada, no Observador, aqui.
Deixem-me só fazer um à parte em relação aos nomes que são dados pelos pseudos, a estas vigarices.
Os pseudos gostam muito de utilizar a palavra “quântica” para tudo. Tal como em “cura quântica”, que nada tem tem de física quântica, mas é somente uma vigarice. Ou seja, os pseudos usam palavras científicas para enganarem as pessoas.
O mesmo se passa em “agricultura biológica”. Toda a agricultura é biológica. No entanto, eles utilizam a palavra “biológica”, como se fosse uma diferença para toda a outra agricultura… que também é biológica.
Igualmente se vê isso nas “terapias alternativas”. A palavra “alternativas” é uma manipulação. Se fosse realmente uma alternativa, teria as mesmas evidências e o mesmo peso científico que as terapias normais. Aqui, a palavra alternativa está em substituição de “não eficaz”. Mas como os pseudos não podem dizer “não eficaz”, manipulam as palavras através do marketing, e colocam “alternativa”.
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