Brincar faz Bem

Vi recentemente o documentário “The Power of Play” (Brincar faz Bem).

É um excelente documentário: dá-nos uma perspectiva académica, histórica e humana de como é importante brincar no mundo natural.

É um documentário muito interessante, com várias ideias curiosas.

A ciência demonstrou que brincar é essencial para a formação do ser humano.

Brincar ajuda a desenvolver a inteligência, torna-nos mais saudáveis e com maior probabilidade de sobrevivência.

Brincar é uma forma de explorar o mundo.

Brincar traz grandes benefícios ao nosso cérebro.
É exercício físico e mental.

Brincar ajuda a criar ferramentas sociais: desenvolve hábitos sociais nos mais jovens, o que faz com que os mais jovens comecem a perceber os limites nas interacções com os outros.

Esta criação de regras de convivência, é generativa e construtivista: vamos criando as regras com os outros.

Ao brincarem, as crianças resolvem problemas, aprendem mais sobre si próprias e sobre os outros, negoceiam as regras de convivência social com os outros, etc.

Ao brincarmos, criamos mais empatia com os outros (percebemos as emoções dos outros), o que é essencial para se viver em grupo.
Também respeitamos mais os outros.

Brincar cria laços com outros membros da comunidade, o que aumenta a nossa probabilidade de obter recursos e sobreviver.

Se brincar envolver riscos, ainda é melhor: os benefícios são maiores.

Enfrentar riscos ao brincar, em crianças, previne lesões.
As crianças percebem como o seu corpo funciona, o que as faz sentirem-se confortáveis, compreendem como o mundo funciona, etc.
Elas aprendem técnicas de gestão do risco, incluindo: andar descalço, utilizar ferramentas perigosas, subir para alturas arriscadas, etc.

Ou seja, as crianças aprendem, por si próprias, o que é possível fazerem sem se magoarem e o que deverão evitar se não quiserem se magoar.
Elas passam a compreender melhor a gestão do risco.

Claro que, ao tentarem várias coisas (de modo a perceberem o que funciona e o que não funciona), as crianças acabam por ficarem feridas.
E isto provoca insegurança nos pais/adultos.
Mas é uma forma das crianças se habituarem ao medo. Elas deixam de ter essas fobias.
Quando um adulto tem medo de algo, é porque não tentou isso de forma brincalhona em criança. Por exemplo, se a criança não tenta andar em alturas e é-lhe incutido o medo de que aquilo é mau, é natural que, após crescer, em adulto, essa pessoa tenha medo das alturas.

As crianças têm de fracassar (ex: magoando-se), aprender com esses fracassos, e perseverar.
Quando protegemos as crianças de todos os potenciais perigos, elas vão crescer não sendo resilientes e não sabendo como lidar com os desafios da vida.

As pessoas têm de estar preparadas para o inesperado.

Infelizmente, as crianças brincam cada vez menos ao ar livre.
Atualmente, as crianças passam o seu tempo ao telemóvel, a ver televisão, a jogar jogos no computador, etc.

Para os adultos, isto é melhor, porque as crianças parecem mais seguras: estão dentro de casa a jogar ao computador – não há forma de ficarem feridas.

Mas os estudos mostram que o exercício ao ar livre torna-nos mais inteligentes, mais corajosos e provavelmente mais amáveis (devido à empatia que criamos com os outros). Brincar ao ar livre também promove muito mais a imaginação. Por fim, também traz benefícios emocionais às crianças.

Pelo contrário, não brincar ao ar livre (passar o tempo à frente de um ecrã dentro de casa) leva a adolescentes e adultos mais propensos a depressões, com um elevado grau de ansiedade social e até a pessoas com problemas mentais. Não brincar ao ar livre em conjunto com outras crianças, leva a um aumento de comportamentos problemáticos.

Daí Marjory Allen – defensora dos direitos das crianças – ter dito: “Mais vale um osso partido do que um espírito abatido.”

Aliás, os estudos também mostram que as crianças são mais ativas quando não são vigiadas.
Quando não são vigiadas por adultos – e têm que negociar as coisas sozinhas – as crianças tornam-se mais independentes, mais autónomas e mais confiantes.
Apesar de difícil, o documentário promove a ideia de que a melhor estratégia seria os adultos afastarem-se (responsavelmente) e deixarem as crianças brincarem à-vontade.

O documentário também dá a entender que os homicidas, como assassinos em série, normalmente não tiveram infâncias em que brincavam com outros…

Devido a todos os benefícios, em 2018, a Academia Americana de Pediatria aconselhou os pediatras a prescreverem mais tempo de recreio, mais atividades lúdicas, para as crianças.

Interessante é também olhar para todo o reino animal em busca de comportamentos semelhantes.

Animais jovens (como os Humanos) brincam para se prepararem/treinarem para a vida adulta.

Brincar é comum no reino animal – é instintivo.
Até entre diferentes espécies existem brincadeiras.
Apesar de que nós, Humanos, brincamos mais que as outras espécies.

Surpreendentemente, há espécies de aranhas sociais que brincam.
As aranhas que brincam: vivem mais tempo, têm mais crias e são menos agressivas.

Infelizmente, não gostei da forma como os investigadores colocavam hamsters na mesma jaula de modo a lutarem uns contra os outros.
Percebo que é preciso estudar esse comportamento animal num laboratório.
Mas se nos fizessem isso a nós (colocarem-nos numa jaula de modo a nos “obrigarem” a lutar), não acharíamos bem…

2 comentários

    • Cibele Sidney on 20/01/2020 at 02:53
    • Responder

    Aqui no Brasil as diretrizes curriculares nacionais do ensino infantil prioriza muito o brincar e a sua importância no desenvolvimento. Adorei a matéria!

    1. Excelente! 🙂

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