Ateus gostam de gatos

Este é um estudo que nada tem a ver com astronomia, mas que além de muito estranho, parece-me um pouco pseudo.

O estudo social publicado no Journal for the Scientific Study of Religion foi feito por um investigador da Universidade do Oklahoma.
As perguntas (se têm animais de estimação e se são religiosas) foram feitas a somente 2000 pessoas, o que é uma amostra bastante pequena da população, não se podendo obviamente fazer generalizações.

No entanto, o estudo mostrou que os ateus têm uma maior probabilidade de terem gatos como animais de estimação.
A interpretação é de que os donos têm animais de estimação como substituto parcial para a interação com humanos (substituto de afectos). Como as pessoas religiosas (sobretudo os Evangélicos, nos EUA) têm uma interação enorme dentro da sua comunidade religiosa, não precisam tanto de animais de estimação (sobretudo se forem demasiado independentes, como os gatos).

Créditos: Paul Hanaoka / Unsplash

A análise do investigador é de que os gatos são substitutos para deuses, já que eles comportam-se como deuses – ou melhor, os ateus lidam com os gatos, como se eles fossem deuses.

Os gatos precisam constantemente de provas de afecto, mas nos seus termos. Tal como os deuses.
Os donos tentam desesperadamente garantir o afecto dos gatos, tal como os crentes em relação aos seus deuses.
Os donos dos gatos servem os gatos sem receberem muito em troca (apesar de ansiosamente o quererem). Tal como fazem os crentes em relação aos esquivos deuses.
Os gatos raramente retribuem os actos de devoção e afecto. Tal como os deuses.
Os gatos precisam de ofertas diariamente. Tal como os deuses.
Os gatos parecem estar constantemente a monitorar e a julgar os donos. Tal como os deuses julgam os humanos.

Ou seja, como os gatos são extremamente difíceis de agradar, tal como os deuses, os seus “escravos” (donos ou crentes, dependendo) tentam avidamente que os gatos gostem de si, fazendo tudo por eles, endeusando-os.
Assim, de forma subconsciente, os gatos tornam-se uma figura religiosa para os ateus.

Como disse Christopher Hitchens, quando o dono dá de comer a um cão, o cão trata-o como um deus; mas quando o dono dá de comer a um gato, o gato sente-se como deus (o humano, escravo, é que o serve).

Não é à toa que os Egípcios consideravam os gatos quase como deuses…

Deusa Egípcia Bastet.
Crédito: Egyptian Market Place

Precisamente, por não nos ligarem muito, é que não gosto de gatos como pets.

É uma pena que não me tivessem feito as perguntas a mim, porque considero-me ateu e tenho cães como animais de estimação.

Fonte: artigo científico, Daily Mail, Vice, The Times.

3 comentários

  1. Disclaimer: não li o artigo original.

    “somente 2000 pessoas, o que é uma amostra bastante pequena da população” – não me parece uma amostra assim tão reduzida. Para avaliar se é ou não ilustrativa da população, é preciso analisar a distribuição, variância, etc., e se para o efeito em causa têm poder estatístico. E isto conduz à questão seguinte: “têm uma maior probabilidade” – mas quão grande é o efeito? Sem estes dados, é difícil avaliar se a correlação existe, ou se é mesmo “pseudo” como receias.

    Do meu ponto de vista, há aqui um certo número de contradições e/ou falácias:

    (1) “não precisam tanto de animais de estimação (sobretudo se forem demasiado independentes” – então mas se as pessoas religiosas têm menos tempo, não faria sentido quererem animais independentes visto não terem tempo para eles? Parece que o argumento tanto pode ser usado para defender este argumento como o contrário.

    (2) Então quem é religioso e tem gatos tem uma maior probabilidade de ser politeísta? O meu ponto aqui é que a interpretação de que os ateus buscam os seus deuses nos animais de estimação parece bastante rebuscada. Se tivessem observado que os religiosos é que gostam mais de gatos, então facilmente diriam que é por gostarem de adorar deuses que têm gatos. É um tipo de argumento demasiado “solto”, e de facto muito “pseudo”.

    (3) As várias comparações entre gatos e deuses são muito rebuscadas. Por exemplo, “Os gatos precisam de ofertas diariamente.” – sim, quaisquer animais de estimação precisam de “ofertas” diárias. Os bebés também. Aliás, várias das afirmações poderiam atribuir-se a peixes de estimação. “Os gatos parecem estar constantemente a monitorar e a julgar os donos.” – Que personificação mais pseudo!

    A conclusão não faz sentido nenhum: “os gatos tornam-se uma figura religiosa para os ateus.” – Poder-se-ia igualmente inventar que os ateus adquirem gatos para colmatar a ausência da figura divina. Para poderem de facto discutir a questão, teriam que pelo menos verificar se os religiosos têm uma atitude diferente para com os gatos em relação aos ateus (o que duvido bastante).

    Há tantas hipóteses possíveis para explicar esta correlação (caso ela exista), que nem faz sentido discuti-las: mais dados são obviamente necessários.

    P.S.: Eu sou mesmo ateu: não tenho animais de estimação.

    Abraço,
    Marinho

    1. Só para te deixar ainda mais reticente em relação ao estudo, parece-me que o estudo mistura “pets” com “cats as pets”.
      E os resultados que eles dizem são claros: “People who worship more than once a week own 1.4 cats on average, compared to the non-religious who have an average of two.” É uma diferença pequena, que não me parece relevante tendo em conta a sample.

      E vê ainda outra interpretação na parte da Discussão dos resultados, no artigo:
      “Why were literalist evangelicals predicted to own fewer pets than other evangelicals, all else being equal? This may be indicative of some theological differences shaping pet ownership. The most fundamentalist evangelicals, prone to view creatures as inferior to humans and with a more utilitarian lens, may simply have less need for pets compared to evangelicals who adopt a less literalistic view of the Bible and thus view pets closer to the way the majority of Americans do, namely, as close companions and even members of the family.”

      Tudo isto parece-me demasiado rebuscado em termos sociais…

      1. Isso é mesmo absurdo. Pela informação no teu artigo pensei que fosse uma classificação binária: terem ou não terem gatos… Isso ainda torna as interpretações mais rebuscadas.

        Incrível como coisas destas sejam publicadas… mais ainda numa revista peer-reviewed.

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