A Fundação Francisco Manuel dos Santos realiza a rubrica Fronteiras XXI, com alguns programas de debate sob o tema “Os Temas que desafiam Portugal e o Mundo”.
O Fronteiras XXI já vai na 4ª temporada.
Da 3ª temporada, em 2019, destaco o debate com o título: As últimas fronteiras da Ciência.
“O que podem trazer para o mundo e para Portugal as novas fronteiras que a ciência ainda está a descobrir?
Qual o impacto que a investigação do fundo dos oceanos e do espaço pode ter na Terra e no ser humano?
Hoje produz-se mais investigação científica do que há 30 anos, revela um estudo inédito divulgado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. Contudo, apesar de o número de doutorandos ter aumentado substancialmente, as nossas publicações continuam a ter pouco impacto. Os autores concluem que é necessário mais investimento na ciência, sobretudo do sector empresarial português.
Este ano o país entrou na corrida cósmica. Pela primeira vez, Portugal tem uma agência espacial e é na ilha de Santa Maria, nos Açores, que será construída uma estação. Para já, sabe-se que será explorada por um consórcio (indefinido ainda) que a deverá usar como plataforma de lançamento de satélites para a órbita terrestre.
Este é, aliás, o mercado da indústria espacial que tem tido maior crescimento no mundo. E a estimativa da nova agência portuguesa é que nos próximos dez anos a investigação e desenvolvimento venham a gerar mil novos empregos qualificados e multipliquem por dez a facturação do sector do espaço nacional.
Mas o interesse no arquipélago açoriano não se fica pela ilha de Santa Maria.
Cientistas da NASA querem preparar uma primeira viagem a Marte no vulcão dos Capelinhos, no Faial. E outros investigadores procuram microrganismos semelhantes aos que poderão ter habitado o planeta vermelho há milhares de milhões de anos nos vulcões submarinos dos Açores.
A investigação científica e o desenvolvimento tecnológico decorrentes da exploração espacial irão ter um impacto profundo na Terra e no ser humano.
Se até ao virar do século XXI a corrida ao espaço foi impulsionada por interesses militares de alguns Estados, agora está a transformar-se também numa oportunidade de negócio para empresários bilionários como Elon Musk e Jeff Bezos.
A industrialização do espaço deixou de ser uma ideia de ficção-científica.
Nas próximas décadas, assistiremos ao aproveitamento de recursos como água e metais preciosos encontrados em asteróides, luas e planetas.
No Fronteiras XXI debatemos o que podem trazer para o mundo e para Portugal estas novas fronteiras que a ciência ainda está a descobrir. Do fundo dos oceanos ao espaço.
Com a astrobióloga Zita Martins, os físicos Carlos Fiolhais e João Magueijo e a vice-reitora da Universidade Nova de Lisboa Elvira Fortunato.”
Este debate é sobre as fronteiras do conhecimento, sobretudo em termos de exploração do espaço.
O objetivo do Homem é tentar perceber qual é o seu lugar no imenso cosmos.
Gostei de ouvir Carlos Fiolhais dizer que “a ciência, a exploração espacial, permite-nos ganhar conhecimento.”
“Sempre que se soube mais, passou-se a viver melhor.”
Zita Martins ponderou sobre o investimento: “Do pouco que temos, fazemos milagres.”
O país está melhor, mas ainda há pouco investimento em relação aos outros países.
Elvira Fortunato refletiu sobre a colonização espacial: “a exploração espacial será feita primeiro por máquinas. Até porque o corpo humano não evoluiu para as condições espaciais.”
“A nossa evolução como seres humanos está estruturada para o planeta onde vivemos: a Terra.”
João Magueijo medita sobre os limites da exploração espacial: “a nossa exploração espacial é local. Não saímos da nossa aldeia. Isto é parolice espacial.”
É o “vá para fora, cá dentro”.
Não estamos a ir para algo longe, diferente e deveras interessante.
João Magueijo conclui: devido à Teoria da Relatividade, estamos condenados ao provincianismo.
Devido a isto, João Magueijo opina que é errado fazermos a exploração espacial deste modo: “Em vez de procurarmos vida inteligente no espaço, deveríamos procurar vida inteligente na Terra.”
Concordo com João Magueijo quando se refere à terraformação: “é mais difícil terraformar Marte do que resolver o problema na Terra”. Como ele diz: “é ridículo. É ficção científica perigosa”.
João Magueijo também referiu que: “Estamos sempre à espera que seja tudo como nós somos”.
É uma excelente crítica à forma como a astrobiologia procura vida tal como a conhecemos.
Ele também diz que a obra preferida de ficção científica dele é o Solaris, de Stanisław Lem.
E realmente é uma história fenomenal (a do livro, não dos filmes).
Os Humanos encontram um planeta com uma forma de vida (talvez) inteligente. Mas nós, Humanos, não conseguimos identificar esse “ser” como inteligente ou sequer como vida.
Como diz Magueijo: Somos muito inferiores a essa vida. Essa vida não entra nas nossas definições de vida ou de inteligência.
João Magueijo é um “agente provocador” excelente.
Os outros convidados podiam pegar nas suas palavras sobre a “parolice espacial”, no provincianismo da exploração espacial, etc, e começar uma discussão saudável sobre a exploração espacial virada para o turismo. Por exemplo, eles podiam dizer que historicamente, a parte comercial sempre teve um tremendo peso na exploração (terrestre).
Infelizmente, os outros convidados não aproveitaram as palavras do João Magueijo para esse debate interessante. Limitaram-se a concordar com ele… perdendo uma excelente oportunidade de debate.
A certa altura, o jornalista pergunta se a vida extraterrestre é possível?
Esta é uma pergunta errada. Não se trata de ser possível, mas sim de ser provável.
No seguimento, pela mesma razão (palavra mal empregue), também não gostei da resposta da Zita Martins, dizendo que existem várias teorias (nomeadamente, panspermia e fontes hidrotermais no fundo dos oceanos) para como a vida surgiu na Terra. Mas isto não é verdade. O que existem sim são hipóteses, e no máximo, alguns cenários. Mas não existem teorias científicas para a origem da vida na Terra. Teorias científicas são outra coisa: são baseadas em factos.
Não gostei da entrevista a Michio Kaku.
Especulou sem sentido, quando disse que viajaremos para Marte e teremos uma comunidade humana em Marte em 2100!?!
Disse também que daqui a 100 anos, iremos digitalizar o cérebro e “teletransportar-nos” para a Lua, para Marte, para Plutão. Isto é absurdo, sobretudo no espaço temporal considerado.
Mais, juntando essas duas coisas, quer dizer que andaremos a viajar fisicamente para Marte, mas simultaneamente não vamos querer fazer isso, preferindo enviar somente a informação cerebral. Parece-me que Michio Kaku nem sequer percebe a incompatibilidade das duas situações.
Por fim, Kaku afirmou que já é possível com a tecnologia atual enviar para planetas distantes o nosso pensamento, que viaja à velocidade da luz. Esta afirmação pareceu-me totalmente pseudo.
Tal como disse sobre a sua palestra na Conversa Cósmica, Kaku é extremamente especulativo, e dá a entender que não sabe distinguir a realidade da ficção científica…
Gostei bastante deste debate.
Para mim, claro, foi o debate mais interessante do Fronteiras XXI.
Vejam todo o debate, no website da RTP, aqui.
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