The Core

32 pessoas com pacemakers morreram ao mesmo tempo em diferentes locais. Morreram devido a um impulso eletromagnético, que provocou interferências eletrónicas em vários dispositivos, incluindo nos seus pacemakers.
As aves (pombos) ficam confusas e começam a chocar com os edifícios e estátuas, morrendo. As aves usam o campo magnético da Terra para se orientarem.
Auroras boreais estão a ser vistas em latitudes bastante baixas.

A razão é simples: o campo magnético da Terra (que também nos protege da radiação cósmica) está a desaparecer, a colapsar.
O núcleo externo é líquido, metal quente (ferro e níquel derretidos) sempre a girar numa determinada direção a 5000ºC, que cria o campo eletromagnético. Ele encontra-se a cerca de 3500 km de profundidade, com pressões gigantescas.
Mas o núcleo externo da Terra deixou de girar: parou!
Gradualmente, o campo magnético terrestre vai-se tornando mais instável.
Os próximos eventos serão catastróficos: aviões vão cair do céu, os aparelhos eletrónicos vão deixar de funcionar, existirão super-tempestades elétricas, etc. Dentro de 1 ano, todas as pessoas estarão mortas, porque sem o campo magnético, a “radiação de micro-ondas do vento solar vai cozinhar o nosso planeta”.

A única forma de salvar a Terra de uma catástrofe é descer ao centro da Terra e colocá-lo a girar novamente.

Uma missão é planeada para ir ao centro da Terra.
Desenvolvem rapidamente uma nave que parte pedra de forma fantástica, de modo a ir até ao centro da Terra. Esta nave tem um revestimento que suporta temperaturas e pressões gigantescas.
O objetivo é que as pessoas que vão na nave, coloquem uma enorme carga explosiva, de modo a reiniciar o núcleo terrestre.

A missão tem 6 Terranautas:
– 2 astronautas (e da Força Aérea) para pilotar a nave: major Bob Iverson (comandante) e major Rebecca “Beck” Childs.
– físico especialista em armas de alta energia (nucleares): Dr. Serge Leveque.
– geofísico (cientista e professor) especialista em energia geomagnética e especialista em navegação. É o líder da missão: Dr. Josh Keyes.
– engenheiro que criou a nave e o laser de ultra-sons: Dr. Edward Brazzelton.
– geofísico, conselheiro científico do presidente e especialista na dinâmica terrestre: Dr. Conrad Zimsky.

No centro de comando/controlo da missão, além de vários outros especialistas, também está Theodore Donald “Rat” Finch, um informático hacker genial. O seu objetivo é controlar a informação que aparece na internet sobre esta missão: basicamente, ele deve detectar e apagar todas as informações na internet relativas a esta missão, porque se as pessoas soubessem o que estava a acontecer entravam em pânico.

Eles entram pela Fossa das Marianas.
Depois, passam da Crosta para o Manto.
Eles têm alguns contratempos no Manto, onde encontram enormes cavernas com cristais gigantes e diamantes gigantes.
Um dos astronautas (Bob Iverson) morre.
Serge Leveque também morre.

Entretanto, eles percebem que o que parou o núcleo externo do planeta foi o projeto D.E.S.T.I.N.I. – Deep Earth Seismic Trigger INItiative – Iniciativa de Ativação Sísmica da Terra Profunda.
É um dispositivo capaz de produzir enormes sismos em territórios hostis.

Na superfície, a atmosfera desenvolve um buraco cada vez maior sobre San Francisco.
Milhares de pessoas morrem. Os edifícios derretem.

A missão chega ao Núcleo Externo.
Edward Brazzelton morre.
Conrad Zimsky também morre.

No final, o projeto tem sucesso.
As bombas nucleares explodem como previsto. O núcleo externo da Terra começa a rodar novamente.
A nave sobe através de correntes de magma, já que agora não tem a broca a laser.
E sai por um vulcão submerso perto do Hawaii.
Josh e Beck sobrevivem, e todas as outras pessoas na superfície da Terra também.

Já depois da missão, Josh e Beck convencem Rat a divulgar as informações.
Assim, apesar da missão ser supostamente secreta, o informático hacker divulga o que aconteceu a toda a gente.

The Core (Detonação / O Núcleo – Missão ao Centro da Terra) é um filme que proporciona algum entretenimento, apesar de ser um mau filme (cientificamente e em termos de desenrolar da história).

É uma história recorrente: algo deixou de rodar no centro, e temos que ir lá rebentar algumas bombas de modo a reanimar o planeta.
O filme Sunshine explora o mesmo tema, mas nesse caso é preciso detonar bombas para reanimar o Sol.

Se é para ter aventuras descabidas no interior da Terra com muita pseudo-ciência, pessoalmente prefiro a fantasia do filme Viagem ao Centro da Terra.

Não entendo porque as aves (pombos) começam a chocar contra os edifícios.
As aves precisam do campo magnético terrestre para se orientarem nas migrações.
Mas elas têm olhos: elas vêem os edifícios. Não iam chocar contra eles!

As imagens da ponte de San Francisco a derreter são fabulosas.
Mas como a ponte (de metal) derrete e os carros (de metal) não derretem?
Vê-se as pessoas a derreterem só quando colocam a cabeça fora do carro – como se os carros tivessem proteções mágicas.

Não entendo porque são astronautas a pilotar a nave.
As condições no espaço, os treinos e aptidões necessárias para se trabalhar no espaço, são absolutamente diferentes do interior da Terra. Logo, essas aptidões não deveriam servir para esta missão.
Ou, no mínimo, deveria existir um processo de treinos específico que eles não tiveram.

O máximo de profundidade que estivemos (com naves não tripuladas) foi cerca de 11 quilómetros.
No entanto, neste filme, vão para 3000 quilómetros de profundidade, com humanos, e pelos vistos, não existiu qualquer problema e foi tudo feito rapidamente.
É totalmente irrealista!

Ainda pior, é já existir uma nave pronta para ir a essa profundidade.
Não faz qualquer sentido.
E têm tecnologia para isso, mas nunca tinham ido? Mais uma vez, não faz sentido.

Supondo que a nave tem um revestimento fantástico que suporta as temperaturas e a pressão do interior da Terra, isso não acontece com os fatos dos Terranautas.
E, no entanto, eles saem para fora da nave, sem qualquer problema.

Como é que umas bombas nucleares reiniciam a rotação do núcleo de planetas?
Não é explicado!
Racionalmente, as bombas são de magnitudes incrivelmente inferiores ao poder dos núcleos planetários.

No caminho de volta à superfície, com a broca a laser danificada, a nave sobe através de correntes de magma.
Se é possível ir por estes “corredores”, porque não desceram por aqui também?

A certo ponto da história, o Dr. Josh Keyes estava incrivelmente chateado com a astronauta Beck, devido ao seu amigo Serge ter morrido – Josh culpava Beck pela morte de Serge.
No entanto, um minuto depois, sem qualquer razão, a raiva de Josh deixa de existir e passa a ser amigo de todos novamente.
Socialmente e psicologicamente, isto não faz qualquer sentido.

O final é demasiado previsível.
A missão tem sucesso, o que é irrealista.

Foi interessante e irónico, serem as armas de destruição maciça a ajudar a salvar o mundo!

Gostei das várias pitadas de humor ao longo do filme, sobretudo proporcionadas pelo Dr. Keyes.

Zimsky grava para um livro as suas palavras ao longo da missão. O discurso é bastante floreado.
Mais do que um discurso de motivação, é um discurso exagerado, especulativo. Está revestido de ciência, mas é pouco factual.
Por exemplo, no início da viagem, ele pergunta-se se ir ao centro do planeta Terra irá fazê-los encontrar os segredos do Universo, os mistérios do Tempo. Ora, isto é absolutamente exagerado. A resposta é claramente: Não! Eles só vão ao centro da Terra: mais nada! Não vão descobrir nada sobre o tempo ou sobre o resto do cosmos.
É um discurso impregnado de marketing que manipula a audiência a pensar que se está a falar de ciência. O discurso visa “vender mais” esse produto, subvertendo o que se estava mesmo a fazer de um ponto de científico.
Curiosamente, Brazzelton chama a isto: “narração à Carl Sagan”.

Sobre o campo magnético da Terra, já temos alguns artigos: aqui, aqui, aqui e aqui.

2 comentários

    • Dra. Ana Lúcia Cintra Wittlin on 02/09/2020 at 18:57
    • Responder

    Muito interessante , voce contou o filme todo !!! 🙂
    Mas , pela narrativa, é um filme bem mais fraco do que o tema poderia sugerir.Está certo.
    Só deixou passar um detalhe : a desmistificação de que há cidades subterrâneas que crescem sob o ¨sol¨do centro de magma terráqueo.

    1. Tem toda a razão.
      Nem me lembrei disso.

      Esse é realmente um ponto muito positivo do filme: não ter entrado nessas conspirações de dinossauros e/ou cidades futuristas no interior do planeta 😉

      Excelente lembrança 🙂

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