Têm circulado informações de que o vírus SARS-CoV-2 terá sido criado em laboratório, mais precisamente no Instituto de Virologia de Wuhan. Uma parte dessa informação vem de grupos de pessoas que, sabemos, são conhecidas pelas suas mentiras. Outra parte vem de gente mal intencionada que espalha informação fora do contexto ou informação manipulada. Um terceiro grupo espalha informação sobre o que acha. É justamente neste terceiro grupo que me quero focar.
Não é crime ter opinião e, por isso, é vantajoso descobrir que tipos de opiniões existem e como são construídas. Conhecendo os tijolos da construção de como pensamos, podemos construir opiniões mais fundamentadas.
A lógica e o sentido são coisas diferentes. A frase “o Zé tem quatro membros, o cão tem quatro membros, logo, o Zé [sendo humano] é um cão” tem lógica mas todos sabemos que não faz sentido já que temos conhecimento das diferenças entre cães e humanos. Ou seja, não podemos confiar mais em informação proveniente de leigos do que na que provém de pessoas com algum conhecimento, pois é o conhecimento que faz a frase deixar de ter sentido, mesmo tendo lógica.
No seguimento do viés causado pela lógica, podemos reparar que, qualquer história, vista do presente para o passado tem a lógica que quisermos dar. É com este viés que trabalham os divulgadores de profecias quando, na verdade, o que estão a fazer é apenas construir uma narrativa que liga o que eles querem incorporar aos factos já existentes.
Olhando para trás, tem lógica pensar que a China criou um vírus para enviar aos seus inimigos e destruir-lhes a economia, esquecendo e não mencionando, claro está, os pontos que discordam comigo. Então e o facto da Coreia do Norte e da Rússia estarem em apuros? Para não falar das componentes técnicas da criação de um vírus, a ausência de tratamentos, o espalhamento incontrolável do vírus e do facto da contracção de mais de 3% da economia chinesa? Vou dar um exemplo clarificador:
Saio de casa sem destino com o objectivo de acabar esta aventura em 3h. Saio da porta e viro à esquerda, peço boleia e um camionista leva-me de Fernão Ferro até Sesimbra. Lá apanho um autocarro até ao Seixal. Peço novamente boleia e vou de carro para Setúbal. Por fim apanho um autocarro para o Campo Grande.
Olhando para trás tem lógica que tudo tenha sido planeado mas não faz sentido pois não tenho as evidências desse planeamento.
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