O mau exemplo da Suécia

Apesar de ter algumas restrições, a Suécia optou por não fazer um confinamento obrigatório da sua população.
Assim, fez uma escolha oposta à grande maioria do resto dos países da Europa.

De forma fria, pode-se olhar para esta escolha como sendo excelente a nível europeu, porque assim pode-se comparar estratégias: qual foi a mais eficaz?
Se todos os países tivessem optado pela mesma estratégia, no final poderia-se sempre pensar: “Se tivéssemos feito de forma diferente, talvez tivéssemos tido um melhor resultado”.
Ao ter optado por uma estratégia antagónica, a Suécia eliminou essa dúvida. Porque se pode comparar as diferentes estratégias e perceber qual foi a mais eficaz.

Com a sua estratégia de não confinamento, a Suécia tentou conseguir uma imunidade de grupo na sua população.
Mas se o objetivo era ter 60% ou 70% da população imune, alguns estudos mostram que conseguiram apenas 7%.
Assim, para já, falhou neste aspeto.

Ao dar mais relevância à economia (manter os estabelecimentos abertos) do que à saúde, a Suécia tentou que o seu PIB se mantivesse ou que pelo menos não descesse tanto como nos outros países.
No entanto, o seu PIB vai cair bastante (7% a 10%), até porque depende muito das exportações e do turismo. Por isso, também deverá ter falhado neste aspeto.

Já o desemprego subiu cerca de 8%, e o governo espera que suba mais (até 13%).
Mais um falhanço do governo Sueco.

Em relação ao número de mortos, ao deixar o “vírus à solta livremente”, a Suécia teve, até agora, cerca de 5000 mortos. O que a coloca em 16º lugar no infeliz ranking de países com maior número de mortos devido à COVID-19.
Isto é muito superior a outros países europeus com a mesma dimensão populacional, como por exemplo Portugal (onde morreram “apenas” 1500 pessoas). Se atendermos a que a Suécia tem uma área quase 5 vezes maior que Portugal, o que faz com que a Suécia tenha menor densidade populacional, então esta diferença ainda se torna mais evidente.
Se compararmos com outros países da Europa do Norte, como a Dinamarca (597 mortos), Finlândia (325 mortos) ou Noruega (242 mortos), então o veredicto é claro.

É preciso realçar que o balanço só se faz no fim. Ou seja, vai ser preciso esperar por 2021 ou 2022 para analisar todos os detalhes de cada estratégia, e tentar saber qual foi a estratégia mais eficaz.
No entanto, para já, com os dados que temos até hoje, pode-se concluir parcialmente que muito provavelmente a estratégia mais eficaz é o distanciamento social, a utilização das máscaras e o confinamento obrigatório mais rígido.

7 comentários

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  1. Boa tarde Sr. Carlos Oliveira
    Gostava de deixar o meu comentário em que não concordo com parte da sua análise, respeitosamente claro, pois é assim que deve ser, sempre! (Abaixo os trolls!! 😉

    Em primeiro lugar não tenho nenhum conhecimento na área da saúde e não tenho nenhuma ideologia que me leve a defender ou a condenar a política sueca, nem sequer conheço o país (infelizmente…).

    Começo pela parte em que concordo, a parte final, onde diz que o balanço só se faz no fim, vai ser preciso 2021 ou 2022 para saber qual a estratégia mais eficaz. Claro que sim! Mas no seu título já classifica a Suécia de um “mau exemplo”.

    A imunidade de grupo, a economia, o desemprego, está neste momento muito diferente dos restantes países europeus? Não, está semelhante a todos os outros, como é que estado igual aos outros passa a ser um mau exemplo?

    O número de mortos, diz que está em 16º lugar, sim, em número total, mas eu diria que a melhor forma de olhar para o número de mortos será em mortos/milhão de habitantes e neste caso a Suécia está no 7º, pior ainda é verdade, mas com mais mortes/M está em 6º Italia, 5º Espanha, 4º UK, 2º Bélgica, então não serão esses países os maus exemplos?
    É certo que houve países com muito menos mortes/M como outros países nórdicos e Portugal, mas como indica na sua conclusão, veremos como estarão dentro de 1 ou 2 anos, esperemos que todos continuem com números baixos, mas simplesmente não sabemos, futurologia não é ciência 🙂

    Por último, aquilo que não percebo mesmo é a comparação que faz da densidade populacional entre Portugal e a Suécia, os suecos vivem mesmo 5x mais dispersos do que os portugueses? Não será isso um mero artifício de cálculo estatístico? Segundo a wikipédia (era o que tinha à mão…) Lisboa tem 505 mil hab e 100 km2, logo uma densidade de 5,05 mil hab/km2; Estocolmo tem 975 mil hab e 188 km2, portanto 5,19 hab/km2, praticamente igual, ligeiramente mais densidade no lado sueco.

    Acho que a forma correta de olhar para a Suécia é simplesmente que tem uma estratégia diferente, ainda não se sabe se é um mau exemplo ou se será um bom exemplo, não sabemos ainda.

    Gosto sempre de ler os seus artigos, mesmo que de vez em quando não concorde com algumas partes 🙂 o meu obrigado pelo seu trabalho.
    Sérgio

    1. Olá Sérgio,

      Concordo com as suas observações críticas.

      Deixe-me só dizer que publiquei este artigo agora porque atualmente, a nível europeu, a Suécia é o pior país em termos do número de novos mortos (por milhão de habitantes).
      Ou seja, a Suécia continua a subir… infelizmente.

      abraço!

    2. Olá Carlos (e Sérgio),

      Concordo em parte com o Sérgio e acrescentaria um ponto que me parece crucial: o distanciamento não foi imposto pelo governo sueco mas isso não significa que as pessoas continuaram a viver como viviam antes. Mesmo que teoricamente a Suécia tenha seguido uma estratégia muito diferente, a verdade é que não é assim tão diferente na prática, porque os suecos também sabem ler e também têm o bom senso de tomar medidas por eles próprios (que foi o que aconteceu). Não obstante, é claro que nem toda a gente teve o bom senso e/ou a possibilidade de seguir medidas de distanciamento social e por isso os dados da Suécia são piores que noutros países vizinhos.

      Ainda assim, dado o ponto de cima, penso que a maioria das tuas conclusões não se aplicam (ou podem não se aplicar), porque é difícil de avaliar a diferença entre ter um distanciamento social imposto pelo governo ou um adoptado livremente pelas pessoas. Teria a situação sido muito diferente se de facto o governo sueco tivesse imposto o distanciamento e o confinamento? É difícil de avaliar e parece-me que podemos apenas especular.

      E, como dizes, só no final é que podemos tirar conclusões. Por exemplo, continuam muito longe da imunidade de grupo, mas podem estar bem mais perto que outros países e nesse caso ainda pode vir a ser uma vitória.

      Tiveram problemas no PIB – claro, mas como comparar caso tivessem imposto as medidas?… Teria sido melhor? Teria sido pior? Teria sido muito pior?

      A comparação entre países é também muito difícil porque… os países são diferentes. Precisaríamos de igualar densidades populacionais em cada cidade, teríamos que verificar o acesso a cuidados de saúde, teríamos que olhar para o número de pessoas vulneráveis, teríamos que considerar aspectos sócio-económicos… Enfim: é complicado.

      Do meu ponto de vista, o ponto essencial em qualquer estratégia deverá ser achatar a curva o suficiente para que os serviços de saúde consigam responder às necessidades. Para lá disto, é difícil dizer o que é melhor ou pior. Como dizes, temos que esperar…

      Abraço,
      Marinho

      1. Olá Marinho,

        Mas por essa lógica (“o distanciamento não foi imposto pelo governo sueco mas isso não significa que as pessoas continuaram a viver como viviam antes”), não se pode comparar nada 😉
        Porque esse argumento pode sempre ser utilizado para qualquer país: pode-se sempre dizer que as pessoas fizeram diferente do que existia por lei.

        Pode-se dizer o mesmo até em países onde existiu confinamento. Pode-se dizer que as pessoas confinaram antes ou depois.
        Pode-se sempre dizer que as pessoas tiverem o bom senso, independentemente do governo dizer que o confinamento era na data X ou Y.

        O mesmo em relação ao PIB.
        Se formos assim tão detalhados, nunca se pode comparar nada 🙂

        Eu percebo o que queres dizer: há sempre limitações e falhas nas comparações.
        Mas na minha opinião ou fazemos comparações e apontamos (temos consciência) as limitações, ou então não podemos fazer comparações a nada porque há sempre coisas que serão diferentes 😉
        Sobretudo quando estamos a falar de questões sociais. Como é este caso.

        Estás a criticar os estudos sociais? 😛 ehehehehehe 😛

        abraço!

      2. Olá Carlos,

        Pode-se comparar, mas é preciso fazer uma comparação mais cuidada para levar em conta os “confounding factors”. É claro que não haverá métodos perfeitos para fazer as devidas correcções, mas é possível minimizar os erros dentro de intervalos de confiança. A tua análise pareceu-me demasiado “crua” – é preciso “cozinhar” melhor as conclusões (que até podem ser coincidentes com as que tu tiraste, mas só com o que mostraste não estou convencido que sejam).

        P.S.: Tinha respondido ontem, mas curiosamente parece que o comentário desapareceu. :\ Se calhar deu erro e não reparei.

        Abraço,
        Marinho

      3. Não vi qualquer comentário teu ontem 🙁
        Pode ter dado erro 🙁

        abraço!

    • Armando Graça on 15/06/2020 at 00:54
    • Responder

    Caro Carlos Oliveira

    Como é meu (mau…) hábito li a sua explanação com a máxima atenção .
    É espantoso como as decisões políticas interferem com a vida (ou a morte) dos cidadãos.

    Permita-me um desabafo sincero mas eventualmente criticável.
    Não consigo sentir pena dos Suecos, partindo do princípio que têm governantes “normais”…
    O que me dá mesmo um desgosto tremendo é a situação que se vive nos Estados Unidos e no Brasil em resultado de presidentes que nem para limpar sarjetas serão competentes.
    Peço imensa desculpa pela linguagem utilizada que justifico pelo direito que todos temos à indignação.

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