A NBA vai retomar os seus jogos no próximo dia 30 de Julho, de forma limitada. Os jogos serão todos disputados em Orlando, com apenas 22 equipas.
Para que esta retoma seja feita em segurança, os jogadores da NBA vão utilizar um anel especial que contém sensores que medem algumas características corporais (temperatura, respiração, frequência cardíaca, padrões de sono, etc), de modo a monitorizar potenciais sintomas da COVID-19.
Este anel de titânio, produzido pela empresa finlandesa Oura, custa cerca de 300 dólares.
O leve anel tem uma pequena bateria que dura 7 dias.
Os jogadores vão também utilizar uma pulseira que ativa um alarme quando as regras de distanciamento social não estiverem a ser cumpridas nos espaços comuns.
Estas tecnologias estão a levantar vários problemas.
Um deles diz respeito à violação da privacidade: os dados de saúde de cada jogador vão ser partilhados com quem?
Um outro tem a ver com o pensamento crítico: os jogadores não podem estar próximos entre si e de staff nos espaços comuns interiores, mas podem estar dentro do campo? Não faz sentido.
Os outros problemas dizem respeito ao anel propriamente dito.
Em primeiro lugar, porque é de uso opcional. Ao não ser obrigatório, então pode não ser utilizado por ninguém, o que torna esta notícia irrelevante.
De resto, a tecnologia é muito duvidosa.
O dispositivo utiliza algoritmos de inteligência artificial para monitorizar os sinais vitais dos atletas.
Esses dados são depois analisados de modo a serem criados padrões que levam a um índice de risco de doença: a probabilidade de ter COVID-19. Ou seja, é somente uma probabilidade e não dados factuais.
Para complicar, a empresa diz que o anel é capaz de detectar os sintomas da COVID-19 pelo menos 3 dias antes de serem percebidos fisicamente. A empresa diz que o anel tem uma taxa de fiabilidade de cerca de 90%.
O problema é que o estudo foi feito pela empresa: por quem fez o anel. Não há qualquer estudo independente. Vários investigadores médicos já disseram que não existe qualquer informação pública sobre o estudo: sobre o método utilizado, sobre o algoritmo, sobre como as conclusões foram depreendidas, etc. Não existindo verificação independente, as conclusões não são objetivamente credíveis.
Além disto, mesmo os valores dos sinais vitais medidos pelo anel têm sido colocados em causa, já que é muito difícil (se fôr possível!) medir esses sinais vitais por meio de um simples anel.
Os fabricantes do anel ainda não provaram que os valores medidos eram precisos.
Conclusão: se fôr possível medir todos esses sinais vitais a partir de um anel e com isso inferir potenciais problemas de saúde (em geral e não só a COVID-19), isso será fantástico! Não só para atletas profissionais, mas sobretudo para quando estes anéis chegarem à população em geral a preços baixos. No entanto, para já, não existem quaisquer evidências objetivas (com estudos independentes) que este anel faz isso (seja para a COVID-19 ou para outras doenças).
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