COVID-19 já existia na Europa em Março de 2019?

Crédito: Mònica Torres

Há cerca de um mês, saiu a notícia que médicos franceses tinham detectado a presença do novo coronavirus em França, em Dezembro de 2019, ao diagnosticarem retrospetivamente um doente que esteve internado num hospital de Paris. Mas pode ter sido um falso positivo.
Outras notícias saíram a afirmar que o vírus podia já estar a circular em Itália em Dezembro de 2019.

Agora, um estudo recente publicado pela Universidade de Barcelona mostrou que o novo coronavirus provavelmente já circulava nas águas residuais de Barcelona em Março de 2019.

Os investigadores foram fazendo análises às águas de Barcelona, a partir de amostras congeladas cada vez mais antigas, e descobriram que o vírus que provoca a COVID-19 surpreendentemente já estava presente nas águas quase 1 ano antes de ser um problema gigantesco para o mundo.

As análises mostram que este vírus já circulava nas águas residuais certamente a 15 de Janeiro de 2020, 41 dias antes da confirmação do primeiro caso na Catalunha.
No entanto, as análises também mostram que alguns vestígios do vírus (resultados bastante baixos, mas positivos) já estavam presentes em amostras recolhidas a 12 de Março de 2019.

Se isto for verdade, então passa a ser uma evidência que o novo coronavirus já estava na Europa muito antes do que se pensava – e muito antes de ser descoberto.
E as pessoas contaminadas por COVID-19 na altura, ou estavam assintomáticas ou foram tratadas como doentes de gripe. Daí ninguém se ter apercebido da presença do vírus.

No entanto, é preciso precaução.
O artigo científico não foi ainda revisto por pares.
Já existem vários investigadores a questionar a metodologia do estudo.
Os valores apresentados para o resultado positivo são residuais, e estão muito próximos de um resultado negativo.
Podemos estar na presença de um falso positivo.
Pode ter existido contaminação da amostra.
E provavelmente a maior crítica ao resultado é dada pelos próprios investigadores deste estudo: as amostras posteriores a Março de 2019 e anteriores a Janeiro de 2020, deram resultados negativos para o vírus. Se o vírus existisse em Março de 2019, certamente seria visto um incremento da presença do vírus nas amostras recolhidas a partir dessa data.

Assim, temos que esperar pela revisão do artigo científico.
Para já, podemos apenas dizer que, a confirmar-se seria um resultado surpreendente.
Mas, como dizia Carl Sagan, alegações extraordinárias requerem evidências extraordinárias.

Fontes: artigo científico, artigo científico, comunicado de imprensa, The Conversation, El País, Catalan News, Observador, Correio da Manhã

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