Esta semana, saiu a notícia que tinha sido publicado no journal Advances in Microbiology, um artigo supostamente a comprovar que existiam fungos, tipo cogumelos, sazonais na superfície de Marte.
A alegação estava baseada em interpretações de fotografias tiradas pelos rovers Opportunity e Curiosity e pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter durante 3 dias dos mesmos locais. Elas “mostram” que todas as primaveras marcianas, cresce uma colónia enorme de fungos negros em certos locais da superfície marciana. Como se fosse o fungo do bolor negro a espalhar-se.
Algumas das fotos até parecem mostrar fungos brancos a crescer num compartimento aberto de um rover.
Assim, isto sugeria que a vida existia e prosperava na superfície de Marte.
Estas alegações levaram, obviamente, a um enorme empolamento quer em alguma comunicação social quer nas redes sociais.
No entanto, interpretações de fotografias não são evidências objetivas.
Por exemplo, podem ser somente formas geológicas estranhas, como tantas vezes encontramos na Terra.
Lembro que em Marte existem as famosas “blueberries”, que são somente estruturas geológicas formadas na existência de água, mas nada têm a ver com vida.
Além disso, o principal autor, o neurocientista Rhawn Gabriel Joseph, é já conhecido por fazer alegações astrobiológicas extraordinárias sem evidências (talvez por não ter formação científica na área). Ele foi o fundador do pseudo Journal of Cosmology.
Outro autor, Wei Xinli, disse que as interpretações eram somente uma conjectura e não resultados tangíveis.
O presidente da Mars Society Australia, Jonathan Clarke, disse que o estudo era especulativo e nada tinha a ver com evidências de vida em Marte. Jonathan Clarke, que é geólogo, disse que os objetos devem ser pequenas estruturas geológicas, como as famosas blueberries, que com o vento marciano mudavam de sítio e por isso no mesmo local por vezes existiam mais e outras vezes menos.
Adicionalmente, o próprio journal científico não é conceituado, estando baseado na China, e aceita artigos sem passar pela revisão de pares.
Isto não quer dizer que não possa haver vida deste tipo em Marte.
Um estudo feito na Terra (publicado em Fevereiro de 2021), em que foram recriadas as condições de Marte, em termos de atmosfera, pressão e radiação cósmica, mostrou que fungos como o do bolor negro podem sobreviver (com muita dificuldade) nas condições marcianas.
No entanto, não existem evidências disto ou de qualquer outro tipo de vida na superfície marciana.
E o artigo em questão, baseado em interpretações pessoais de fotografias, também não é evidência de vida marciana.
4 comentários
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Ainda bem que este blog existe. Obrigado pelo conteúdo que é sempre lúcido.
Author
Obrigado pelo feedback 😉
A Perseverance não “mataria essa dúvida”?…Pq não aguardar a análise desse rover?
Author
Os rovers têm uma amplitude de movimentos muito limitada. Não conseguem cobrir enormes extensões de modo a chegarem a todos os locais interessantes 😉
abraço!