De forma quase inédita, o Governo norte-americano divulgou um relatório sobre UFOs/OVNIs (Fenómenos Aéreos Não Identificados – Unidentified Aerial Phenomena).
O Pentágono investigou mais de uma centena de observações credíveis de fenómenos aéreos não identificados e decidiu divulgar publicamente as suas conclusões.
Na verdade, existem dois relatórios: um público e outro confidencial/classificado.
Ou melhor, o relatório confidencial (secreto) é um anexo do relatório público.
As conclusões dos dois relatórios são muito semelhantes, sendo que um relatório é confidencial porque tem algumas informações classificadas, que põem em risco a segurança nacional (segredos de estado), mas que em nada modificam as conclusões do relatório público sobre UFOs.
É que se os UFOs forem naves inimigas, os EUA não querem revelar detalhes sobre o que sabem e não sabem sobre a tecnologia que investigaram. Senão, os países adversários (donde vêm esses UFOs) ficariam a saber o que os EUA sabem.
(“if these strange sightings are actually next-gen technology fielded by a foreign adversary, intelligence officials don’t want to tip them off on what the US has seen”).
O relatório confidencial também inclui uma análise detalhada dos relatos analisados.
Ao contrário do relatório público que faz uma análise geral, sem particularizar cada relato/observação.
As 6 grandes conclusões que se podem tirar do Relatório são estas:
1 – as observações são interessantes e convém investigá-las (até por uma questão de segurança nacional).
2 – as observações credíveis mostram objetos físicos. São objetos físicos: não são sobrenaturais ou erros nos sensores ou fruto da mente/psicologia de quem os observou. Os objetos existiam mesmo, como provam as diferentes formas com que foram detectados (observações, registos vídeo, radar).
3 – das 144 observações/relatos/deteções credíveis investigadas, o Pentágono apenas conseguiu explicar uma dessas observações com um elevado grau de confiança: era um grande balão “murcho”, que estava a esvaziar-se: “large, deflating balloon”.
4 – a maioria das observações são explicáveis (existem algumas observações de pássaros, balões, sacos plásticos e até cristais de gelo detectados em infravermelho), mas sem o elevado grau de confiança. Não podemos ter a certeza, porque não há dados suficientes para explicar com um elevado grau de certeza que objetos estariam a ser observados, e porque não se consegue reproduzir o fenómeno quando queremos.
5 – pelo que o Pentágono apurou, não se trata de tecnologia secreta, classificada, do governo dos EUA.
(em Roswell, por exemplo, sabe-se que era o Projeto Mogul, que era classificado na altura).
6 – por último, nas 144 observações/relatos/deteções analisadas, não existe qualquer evidência de que os objetos são de origem extraterrestre.
Alguns oficiais que participaram no relatório, mas que falaram para alguma comunicação social escudados pela anonimidade (não estão autorizados a falar publicamente), explicaram que os militares do Pentágono crêem (sem certezas), baseados em espionagem americana, que algumas observações dizem respeito a testes com tecnologia hipersónica feitos pelos Chineses (ou pelos Russos).
Ainda outros oficiais (também anónimos) disseram que os EUA poderão estar a ser alvo de Spoofing, levando a interpretações erradas nas observações.
A Rússia tem utilizado esta estratégia militar, de modo a enganar os norte-americanos.
Para mim, a melhor explicação sobre este relatório e sobre os casos de objetos voadores não-identificados foi dada pelo professor de astronomia Adam Frank, que na CNN disse que muito provavelmente estes objetos são drones não-tripulados (que podem fazer movimentos bruscos, alterando a sua direção e aceleração) enviados por outros países (adversários dos EUA) para espiarem e exporem o funcionamento dos radares e de outros sistemas de defesa americanos.
Porque ele deu esta explicação?
Porque esta é uma das estratégias dos EUA desde a década de 1960, de modo a detectarem e tentarem compreender a tecnologia (incluindo de radar) dos Soviéticos.
Lembro que a própria CIA utilizou a estratégia de usar “aviões estranhos” para missões de espionagem, e depois colocar desinformação nas notícias dizendo que poderiam ser naves extraterrestres para desviar as atenções de si própria.
Assim, não seria surpreendente que esta estratégia também fosse utilizada pelas nações rivais para espiarem a tecnologia dos EUA.
O professor Adam Frank escreveu um excelente artigo de opinião no jornal The New York Times, aqui.
Por fim, vou especificar os “dois casos” mais falados na opinião pública.
(não vou falar novamente de casos em que são reportadas velocidades aparentemente hipersónicas, em que são muito provavelmente objetos de tecnologia Chinesa (ou Russa) em testes – de acordo com a espionagem americana feita nesses países. Nem vou falar dos casos de spoofing e espionagem. Já os referi em cima)
Um deles diz respeito ao balão meteorológico a esvaziar.
A observação dos pilotos reportava um UFO que não tinha um meio de propulsão visível, que fazia movimentos bruscos (impossíveis), e que até mudava de direção de uma forma incomportável para corpos biológicos.
Após a investigação do caso, percebeu-se que era somente um balão que se estava a esvaziar.
Ou seja, mesmo quando são observações de pilotos, e mesmo quando essas observações reportam movimentos aparentemente impossíveis para os Humanos, o objeto em si pode ser banal. Não é preciso recorrer a fantasias com cenários interplanetários. Os objetos banais também conseguem realizar esses movimentos aparentemente sobrenaturais, em que os observadores podem – erradamente – descrever os objetos como estando a realizar movimentos que vão “contra as leis da física”. Isto são normais erros de observação e não correspondem à realidade do objeto.
O “outro caso” diz respeito aos vídeos do Pentágono.
Os 3 vídeos granulados e a preto e branco (vêem-se mal) foram gravados por aviões de combate da Marinha dos Estados Unidos que saíram dos porta-aviões USS Nimitz e USS Theodore Roosevelt em 2004, 2014 e 2015.
Um dos pilotos relatou a sua observação como se o objeto fosse um “tic tac“, e esse nome ficou para o objeto (no vídeo FLIR1).
Existem várias potenciais explicações para os objetos, algumas delas já mencionadas atrás.
Infelizmente, nenhuma das explicações convencionais chega à comunicação social ou às redes sociais; por isso, as pessoas deixam-se levar pelo sensacionalismo que ouvem/lêem (extraterrestres!), em vez de procurarem as explicações racionais.
O que para mim é de maior realce nestes casos, é que se ouve (no vídeo GIMBAL) um dos pilotos a dizer: “It is a fucking drone, bro”. Ou seja, perante a surpresa do outro piloto, este piloto não teve qualquer dúvida: “É um drone!” Assim, o que temos é que um dos pilotos que observou o objeto não teve qualquer dúvida sobre o que estava a ver. Só por vigarice, com o objetivo de enganar as outras pessoas, é que alguém em casa, que não viu o objeto, pode inventar disparates sobre não-provados extraterrestres, quando o próprio piloto que viu o objeto não teve qualquer dúvida em afirmar que era um drone feito por humanos.
Existem outras evidências para a explicação dos objetos serem drones: já em palestras dadas por militares foi dito que os EUA (tal como a China e a Rússia) andam a desenvolver veículos autónomos (drones!) que conseguem realizar movimentos aparentemente impossíveis, incluindo voar pelos ares e submergir nos mares de forma perfeitamente natural. Estes objetos andam em testes.
Ainda mais interessante é que, em 2016, a Marinha dos EUA registou uma patente de um objeto muito parecido ao denominado “tic tac”. Curiosamente, esse objeto poderia viajar facilmente pelo espaço, pelo ar e dentro de água. A patente foi aprovada em 2018. É muito provável que, após a aprovação da patente (vejam a patente), a Marinha dos EUA desenvolva um protótipo do objeto e faça testes com ele. O objeto até poderá vir a ser tripulado, mas inicialmente, nos primeiros testes dos primeiros anos, obviamente o objeto seria não-tripulado: seria um drone! Se os pilotos viram este drone em testes, não o reconheceriam de certeza, porque os seus testes ainda são secretos.
Tudo isto aponta para drones feitos por humanos, sem precisarmos recorrer a fantasias religiosas.
Fontes: Relatório Oficial, Relatório Oficial, New York Times, NPR, CNN, CNN, CNN, CNN, CNN, BBC.
A parte dos factos, da investigação científica, está concluída.
Tudo o que se sabe (e é muito) sobre o(s) Relatório(s) está em cima.
Mas agora vem a parte pior: a parte social, a parte da psicologia das pessoas.
O que leram aqui (baseado nos Relatórios) não foi certamente o que leram nas redes sociais e em grande parte da comunicação social.
Porque esses vivem do sensacionalismo: de exagerarem e inventarem, para terem mais visualizações.
Daí que, naturalmente, só falavam de objetos extraterrestres (que não aparecem no Relatório).
E este é o grande problema: as pessoas deixam-se levar pelo que lêem (nas redes sociais e comunicação social) e não pelo que consta do Relatório.
E, por isso, muitas dessas pessoas ficam obcecadas com a última conclusão que coloquei aqui: é a 6ª conclusão (a de não existirem evidências alienígenas) que provoca discussão entre os crentes em OVNIs, que se acham muito especiais, ao ponto de opinarem que seres muito mais avançados (deuses?) estão interessados neles.
Como já expliquei neste artigo, não faz qualquer sentido, de um ponto de vista racional, serem naves extraterrestres.
No caso destas observações, elas mostram “objetos muito humanos do século XX e XXI”: voam, parecem feitos com materiais humanos, fazem movimentos semelhantes à tecnologia humana, são muito parecidos aos objetos humanos e são visíveis (tal como os objetos humanos).
Nenhuma destas características é alienígena, muito menos de uma civilização que se desloque entre sistemas estelares e que, por consequência, possa ter tecnologia, pelo menos, milhares de anos mais avançada que a nossa (e assim, obviamente, não teria nada a ver com a tecnologia humana atual).
A pergunta imediata normalmente é: mas se não sabes o que é, como podes dizer que não é extraterrestre?
A resposta é simples: pensamento racional.
Diariamente, inúmeras vezes ao dia, pensamos dessa forma, e sempre com 100% de sucesso.
Mesmo não sabendo o que é (a resposta certa), conseguimos perceber quais são as respostas erradas (leiam aqui).
E tal como foi explicado, no caso destas observações, todas as características apontam para ser algo humano, e não absolutamente alienígena.
Notem que o facto de não sabermos exatamente o que é, não retira racionalidade ao pensamento. Pelo contrário.
Na presença de todos os factos, é muito fácil afirmarmos que somos racionais, que temos a mente aberta, etc.
A racionalidade, nomeadamente uma das suas características – o pensamento crítico – deve ser desenvolvido precisamente na falta de todos os elementos. Pegamos nos elementos que existem e tentamos chegar ao cenário mais provável, com pensamento crítico.
É na falta de elementos, e na consequente construção do cenário mais provável, que se percebe quem tem uma mente racional e quem é adepto de conspirações e crenças irracionais.
Pensando num exemplo conspirativo do dia-a-dia:
Vamos imaginar que o sr. A era vítima de violência na via pública.
Vamos supôr que existiam polícias e detetives a analisar o caso.
Vamos supôr que faltavam alguns elementos.
Vamos supôr que o sr. A dizia que ouvia e via (vários sentidos notaram isso – tal como nos UFOs existiram vários métodos de deteção) fantasmas de unicórnios, e que estes o agrediam.
Vamos supôr que o sr. A dizia que até teve um hematoma no braço devido a um fantasma de unicórnio lhe ter batido. Mas o sr. A não sabe em que dia existiu esse hematoma e esse hematoma atualmente já não existe.
Obviamente os detetives-polícias não conseguem comprovar o que se passou. Faltam muitos elementos para uma análise totalmente conclusiva. Mas mesmo sem esses elementos, pode-se concluir que não foram certamente fantasmas de unicórnios.
Como se chegou a esta conclusão no Relatório, o sr. A ficou furioso com os detetives (investigadores). O sr. A ripostou que eles não eram de confiança, e que sim, os fantasmas eram verdadeiros porque ele acreditava que eram.
O sr. A foi para a internet contar da injustiça que fizeram para com ele, e até se pôs a relatar um caso em que ia na rua e vieram uns fantasmas de unicórnios por trás dele, bateram-lhe, e ele ficou com uma nuvem de ectoplasma ao seu redor – o que para ele era uma prova da existência dos fantasmas.
No entanto, esse caso até estava no Relatório de Investigação dos detetives. Eles analisaram o caso, e perceberam que o sr. A ia a passear com a sra. B. Quando entrevistaram a sra. B, ela disse que, por sorte, com a sua visão periférica, tinha visto um homem a vir com uma cadeira e agredir na cabeça o sr. A. Ela até gritou “Cuidado!”, mas não foi a tempo de evitar o mal. Felizmente, na altura, o caso foi reportado às autoridades, os detritos no chão foram analisados, e na verdade era madeira (e não ectoplasma). Ou seja, era material conhecido, humano (tal como a patente do drone). E a amiga viu o que era (tal como no caso do drone dos vídeos, o piloto viu o que era).
No entanto, existem elementos em falta: quem era o homem que agrediu o sr. A? Ninguém sabe. (tal como não se sabe de quem são os drones avistados: patente americana, China ou Rússia?)
Além disso, a polícia analisou a madeira partida no chão. Mas a polícia não consegue ter a certeza que aquela madeira fazia uma cadeira. Até podia ter sido parte de uma mesa (alguns UFOs podem não ser drones, mas sim balões, etc).
Assim, apesar de não se ter todos os elementos, não se pode concluir que não se sabe nada.
Sabe-se muito, apesar de não se saber tudo.
Existem muitas respostas, apesar de não existirem todas.
E a conclusão (muito) mais provável é que era uma cadeira que foi arremessada contra o sr. A.
Se o sr. A continuar a insistir que eram fantasmas de unicórnios, então isso é uma crença pessoal dele. Nada mais.
É uma crença que está em oposição a todas as evidências sobre o assunto.
É a negação da racionalidade, é a negação das conclusões da Investigação (dos polícias), em prol de uma ideia conspirativa sobre seres sobrenaturais fruto de uma crença pessoal.
Ao negarem esta racionalidade (que funciona no dia-a-dia), as pessoas transformam-se em crentes fundamentalistas do género dos seguidores de seitas religiosas radicais (neste caso, seita de Ufologia), que se baseiam em irracionalidades e não aceitam os factos (os Relatórios Oficiais dos especialistas).
Isto é muito perigoso, sobretudo numa altura de pandemia.
Essas pessoas negam o conhecimento dos especialistas. São os chamados negacionistas.
Mas vamos supôr por um momento que os UFOs até são alienígenas.
Supondo que seriam alienígenas, então os especialistas passariam a ser os astrobiólogos.
Os astrobiólogos passam muitas vezes toda a carreira (toda a sua vida) a tentar estudar potencial vida extraterrestre (seja a estudar meteoritos em busca de potenciais blocos de vida, seja a estudar planetas distantes que possam suportar vida, seja a estudar outras áreas ligadas à astrobiologia).
Ninguém mais do que um(a) astrobiólogo(a) gostaria de detectar, conhecer, descobrir vida extraterrestre!
Mas nenhum astrobiólogo afirma que os UFOs (sobretudo estes casos no Relatório) são extraterrestres!
Ou seja, além dos especialistas que analisaram os casos, temos os especialistas em vida extraterrestre que dizem que não há qualquer evidência de vida extraterrestre nestes casos (daí continuarem a gastar rios de dinheiro e todo o tempo de vida em busca de vida extraterrestre de outras formas).
Mas depois aparecem os crentes em conspirações que arrogantemente afirmam: “Os especialistas estão todos errados, os cientistas/astrobiólogos não sabem nada, porque nós que lemos por alto umas coisas na internet é que sabemos que os UFOs são pilotados por alienígenas.”
Esta negação da realidade, esta negação do conhecimento dos especialistas não é só imbecil: é também muito perigosa.
Tivemos a evidência do quão perigoso é ter pessoas destas no poder: Trump e Bolsonaro são exemplos desta mentalidade negacionista do conhecimento dos especialistas e que se deixam levar pelas ideias conspirativas.
E qual foi o resultado?
EUA e Brasil são os dois piores países (em termos absolutos) em mortes por COVID-19.
Mas existem inúmeros exemplos no mundo que mostram os resultados assustadores deste tipo de mentalidade (que nega os factos e o conhecimento dos especialistas, em prol das conspirações): seguidores de seitas religiosas extremistas suicidam-se porque pensam que o mundo lhes esconde um “segredo cósmico”, terroristas atacam inocentes em nome de inexistentes deuses extraterrestres (porque pensam que eles existem e lhes transmitem informações), etc, etc, etc.
Os exemplos de conspirações são aos montes e os seus seguidores fanáticos também.
Atualmente, a organização conspirativa que mais se fala nos EUA são os adeptos do QAnon.
Foram eles que invadiram o Capitólio e são eles que pensam que Trump ganhou as eleições americanas e irá ser empossado como presidente em Agosto de 2021.
Eles pensam que os Democratas (e qualquer líder que não seja adorador de Trump) são pedófilos, canibais, etc, etc, etc.
Um desses seguidores até invadiu uma pequena pizzaria, de arma em punho e pôs-se a disparar, porque leu na internet que essa pizzaria era o quartel-general da pedofilia dos democratas.
Isto pode parecer absurdo…
Mas pelas entrevistas que se fazem a estes seguidores, percebe-se que estas pessoas que acreditam nestes disparates não começaram por acreditar neste tipo de conspirações. Vieram de outras conspirações e foram se agregando nesta. Normalmente começam por algo pequeno e aparentemente inofensivo como: “os extraterrestres visitam-nos e o Governo está a esconder-nos essa informação”.
É que existe uma base de pensamento similar em todas as conspirações: o Governo esconde-nos informação; devemos desconfiar dos especialistas; devemos rejeitar os factos; devemos abraçar as ideias absurdas que lemos na internet escritas por pessoas que não são especialistas.
Isto é precisamente o que se passa na mente dos conspiradores que acreditam (crença religiosa) que somos muito especiais no Universo, ao ponto de andarmos a ser observados pelos novos “deuses”.
Algumas destas pessoas fazem isto inconscientemente.
Gostam de ciência, argumentam até que são adeptas de Carl Sagan, etc.
No entanto, se realmente lerem Carl Sagan, percebem que Carl Sagan era um especialista que pensava exatamente da mesma forma como está neste artigo.
Sagan contou diversas vezes uma história deliciosa que se passou com ele.
Um dia, após dar uma palestra ao final da tarde na sua universidade, em Ithaca, para a população em geral, sobre OVNIs, ao sair do anfiteatro viu um grande grupo de pessoas que tinha saído da sua palestra, a apontar para o céu. Estavam a ver o que parecia ser um OVNI, precisamente após uma palestra sobre OVNIs onde lhes foi dito que os UFOs não eram naves extraterrestres. Sagan correu apressadamente a sua casa e foi buscar uns binóculos. Quando voltou, viu ainda o objeto a sobrevoar, e por entre as nuvens, lá longe, vendo-se mal por ser entardecer, percebeu que era uma pequena avioneta com propaganda atrás (que era algo raro naqueles tempos).
Famosamente, ele terá dito algo deste género: se eu não tivesse ido buscar os binóculos, vocês iriam para casa dizer que tinham visto um OVNI, provavelmente os vossos familiares depois contariam a outras pessoas, quiçá até chegaria aos jornais, e ficaria mais uma história famosa de OVNIs em que uma legião de crentes assumiria que os ETs estariam a vigiar o estado de NY. Como fui buscar os binóculos, ninguém vai agora para casa dizer que viu uma pequena avioneta, nem isso é especial para sair nos jornais.
O mistério, o mito, difunde-se e leva uma legião de crentes a crer em algo que imagina ser.
Já as explicações não são “sexy” o suficiente para as pessoas lhes darem a mesma importância.
Este Relatório (e outros do passado), assim como investigações sérias (feitas por especialistas) sobre avistamentos OVNIs, é o mesmo que Sagan ir buscar os binóculos.
Coloca-se os binóculos (o pensamento crítico numa investigação) e tenta-se perceber o que é o objeto.
O problema é que os crentes não aceitam depois as respostas a que se chega.
Desdenham as conclusões do Relatório ou fazem interpretações baseadas em dissonância cognitiva.
Os crentes na seita da Ufologia, que rejeitam as conclusões dos especialistas, também rejeitariam as conclusões de Carl Sagan.
Provavelmente não iriam querer que Sagan fosse buscar os binóculos ou, caso ele fosse, rejeitariam ver pelos binóculos. Porque eles querem manter o mistério vivo, dos UFOs; não querem ter respostas que vão contra a sua crença.
Estas pessoas são as mesmas que na época de Galileu rejeitariam as observações de Galileu e certamente fechariam os olhos caso lhes fosse proposto olharem pelo telescópio de Galileu.
Porque hoje, tal como nessa época, os crentes religiosos fundamentalistas rejeitam as conclusões das investigações científicas.
Um só crente em conspirações faz os movimentos de 3 macacos: não quer ver, não quer ouvir, e, adiciona-se o, não quer saber. Infelizmente, quer falar, para disseminar ignorância e desinformação sobre o assunto.
Estas pessoas, há 400 anos rejeitariam as observações de Galileu, e hoje rejeitariam as observações binoculares de Sagan.
Estas pessoas que se dizem adeptas de Sagan e da ciência, mas depois desconfiam dos especialistas e rejeitam os resultados dos estudos científicos (os factos que lhes são dados pela ciência): ou mentem deliberadamente às outras pessoas ou andam iludidas (mentem-se a si mesmas).
A verdade é que este Relatório dá algumas respostas, deixa muitas perguntas, mas sobretudo permite que qualquer pessoa com algum espírito crítico consiga ler nas entrelinhas o que é dito.
A conclusão torna-se evidente: os objetos são humanos, para mal daqueles que acreditam (crença religiosa) que novos deuses andam muito interessados em (e sempre a espiar) meros primos de macacos.
Esta conclusão está de acordo com a lógica racional.
Mas também está de acordo com um dos pilares da ciência (sobretudo da astronomia) moderna: somos irrelevantes, insignificantes no Universo, como Carl Sagan magistralmente expressou.
Um dos problemas dos crentes em naves extraterrestres que nos visitam, tal como os crentes em astrologia (e noutras pseudociências), é que não aceitam esta evidência. As pessoas querem continuar a sentir-se especiais. Daí quererem continuar a pensar que são o centro do Universo, o que de mais importante existe no Universo, uma maravilha cósmica tão interessante que é objeto de estudo para potenciais deuses extraterrestres.
Por mais que Galileu, Sagan e muitos outros lutassem contra este geocentrismo psicológico, ele continua a persistir na mente humana de diversas formas, incluindo nesta forma Ufológica.
Os crentes em naves extraterrestres que nos visitam, conscientemente ou inconscientemente, estão a negar todo o conhecimento que nos foi dado por Galileu, Darwin, Sagan, Einstein e tantos outros. Esses crentes continuam presos numa mentalidade geocêntrica que insulta e “apedreja” quem lhes tentar fazer ver mais longe.
Em pleno século XXI, as pessoas já deviam ser literadas cientificamente o suficiente para perceberem que não existe qualquer ligação entre UFOs/OVNIs e naves extraterrestres.
Não existe qualquer evidência dessa ligação.
Qualquer pessoa minimamente racional deveria perceber que um ser verdadeiramente alienígena deverá construir tecnologia absolutamente alienígena.
E, da mesma forma que ninguém tem uma conversa entre a Europa e as Américas com sinais de fumo, também uma civilização extraterrestre que viaje entre estrelas (e que, por consequência estará, pelo menos, milhares de anos mais avançada que a sociedade humana atual) não terá certamente como meios de locomoção primitivas naves humanas do século XX e XXI.
A diferença entre as nossas naves atuais e as potenciais naves deles (em termos de locomoção espacial) é muito maior que a diferença entre os sinais de fumo e a internet (em termos de comunicação). E é muito maior porque eles são… alienígenas. Ou seja, ainda seria tudo muito mais estranho e diferente.
Infelizmente, é difícil abrir as mentes dos crentes em naves extraterrestres que nos visitam.
É difícil desenvolver-lhes a imaginação (científica) de modo a pensarem em seres verdadeiramente diferentes de nós. É difícil fazê-los compreender que podem existir seres que utilizam tecnologia verdadeiramente alienígena e avançada.
É muito difícil tentar a abrir a mente a quem não a quer abrir, a quem quer ficar limitado nas suas escolhas, a quem só consegue imaginar aquilo que já conhece, a quem só consegue pensar em tecnologia que já existe.
Se a pessoa está demasiado limitada na sua forma de pensar, porque “só vê o seu umbigo”, porque só consegue imaginar tecnologia que já existe no século XX e XXI, porque quer continuar a sentir-se especial num universo geocêntrico, então quem lhe tenta abrir a mente pouco ou nada pode fazer.
É a pessoa, por si própria, que tem de “crescer”. É a própria pessoa que tem de sair das suas amarras mentais e libertar-se. É a pessoa que tem de querer beber mais informação da ciência e imaginar cenários que sejam verdadeiramente alienígenas.
As pessoas que não querem/conseguem crescer mentalmente, apresentam aqui o maior paradoxo: ficam obcecadas/ofendidas com a 6ª conclusão (a de não existirem evidências alienígenas) do Relatório, enquanto simultaneamente não conseguem apresentar uma única evidência de tecnologia extraterrestre.
Estas pessoas não apresentam uma única evidência extraterrestre, para além de qualquer dúvida, num único caso destas 144 observações/relatos/deteções analisadas no Relatório.
Ou seja, os crentes chegam à mesma conclusão do Relatório, enquanto se mostram chateados por o Relatório ter chegado a essa conclusão.
Essas pessoas (crentes) ficam chateadas porque movem-se pela fé (e não por evidências), e dessa forma gostariam que as respostas fossem diferentes daquelas que realmente existem.
Claro que a racionalidade exposta aqui não satisfaz os crentes.
Os crentes religiosos em OVNIs (ou melhor, em naves extraterrestres que nos visitam), como qualquer seita religiosa, vão defender a sua crença até ao fim (dissonância cognitiva de Festinger).
O mesmo se passa com os crentes em fantasmas, os crentes na astrologia, os crentes nas conspirações de Trump, etc.
As pessoas querem sempre acreditar em algo mais, mesmo quando se percebe que não há mais nada.
Nenhum Relatório de Investigação vai mudar isso.
Os crentes conspirativos em naves extraterrestres que nos visitam só vão aceitar conclusões que estejam de acordo com aquilo em que eles já acreditam.
Se as conclusões não estiverem em sintonia com as suas crenças, então as conclusões de qualquer Relatório científico serão rejeitadas.
(entrevistas feitas a adeptos de Trump mostram isso mesmo: as pessoas são honestas ao ponto de dizerem que só aceitam as opiniões de pessoas que lhes confirmem aquilo que elas “sabem ser verdade”)
No caso dos UFOs é a mesma coisa. As pessoas só aceitam as respostas que gostariam que existissem e não aquelas que efetivamente existem.
Nenhum Relatório de Investigação verdadeiramente científico e imparcial vai convencer crentes conspirativos.
E é aqui que se vê a maior irracionalidade dos conspiradores: se o Governo não investigar, então é porque não quer investigar (para não sabermos a verdade); se investiga, então é porque só querem mentir e não se deve acreditar neles.
Mais uma vez, nenhum Relatório de Investigação vai mudar as crenças pessoais e irracionais das pessoas.
4 comentários
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https://www.astropt.org/2021/08/29/ilusao-de-pernas/
Análise perfeita. Parabéns. Certa vez perguntaram a um famoso jornalista brasileiro o que ele diria para quem não acredita em Deus e o que ele diria para quem acredita (Joelmir Betting), e ele respondeu: “Para quem não acredita, nenhuma palavra é necessário e, para quem acredita, nenhuma palavra é bastante”.
TOP!
Abraço
Gostaria muito que fosse verdade a existência de OVNIs, mas pensando bem: como uma civilização tão evoluída consegue atravessar anos luz de distância, e quando chegam neste nosso planetinha, caem no chão como fruta madura, para todo lado? Quantas quedas já aconteceram, e mataram diversos ETs? Eles nem tinham “cintos de segurança”? As naves deles então não são tão seguras??!!