Já tenho escrito sobre os movimentos de “salvar a Terra”, que na verdade são para salvar as condições para os Humanos (aqui e aqui).
Achei muito interessante este artigo científico, que basicamente se pode extrapolar desta forma: se queremos reduzir o aquecimento global, temos de deixar de ter filhos.
O simples facto de não ter (mais) um filho, permite poupar o equivalente a 58 toneladas de CO2 emitidas para a atmosfera por ano.
Supondo que não andaríamos mais de carro, só permite poupar o equivalente a 2,4 toneladas de CO2 emitidas para a atmosfera por ano.
Utilizar lâmpadas amigas do ambiente em casa, só permite poupar o equivalente a 0,1 toneladas de CO2 emitidas para a atmosfera por ano.
Os autores do artigo defendem que as ações com pouco impacto, como a reciclagem, são importantes a longo prazo e como factor de consciencializar as pessoas. Mas são somente uma pequena gota no oceano. São somente um princípio. Não são suficientes para afetarem as alterações climáticas a nível global.
Esta é uma lição já dada em inúmeros estudos científicos sobre alterações climáticas.
No entanto, curiosamente, na esfera pública fala-se pouco disto, e continua-se a priveligiar soluções de pouco impacto, provavelmente para massajar o frágil ego humano (que acha que é mais importante do que realmente é).
Esta ideia de “Extinção Voluntária dos Humanos” para supostamente salvar a Terra, não é nova.
Existe um movimento a defender esta ideia já há algum tempo, aqui.
Sinceramente, não me parece que esta seja uma excelente solução.
A Humanidade – como qualquer outra espécie terrestre – faz parte da natureza na Terra.
A Humanidade faz parte do ecossistema terrestre. E como faz parte, vai sempre, obviamente, afetá-lo.
Se é certo que a Humanidade tem provocado extinções em massa, também é verdade que o planeta sempre assistiu a extinções em massa.
Se não fosse a Humanidade, provavelmente atualmente estaríamos a atravessar uma era glacial, e certamente que isso levaria a extinções em massa.
Com a Humanidade, é a própria Humanidade que, fazendo parte da natureza, altera-a de uma forma que leva a extinções em massa.
Com ou sem Humanidade, o planeta Terra vai sempre passar por ciclos ambientais.
Mesmo que a Humanidade não afetasse “negativamente” o ambiente terrestre, o próprio planeta passaria por esses ciclos que seriam negativos para os Humanos.
Os movimentos ambientalistas não querem que os Humanos afetem de sobremaneira o planeta. E penso que todos concordamos com isto.
Mas inconscientemente, eles desejam que a Terra se mantenha como agora (com estas mesmas condições, ideais para os Humanos) para sempre.
O problema é que isto não é possível. Nada se mantém estático. A única constante no Universo é a mudança.
Mesmo que os Humanos desapareçam, a Terra irá continuar a evoluir, localmente e globalmente. Não irá se manter estática.
A única solução para os Humanos é irem-se adaptando à evolução da Terra, às mudanças que a Terra vai tendo.
Claro que se pudermos não acelerar essas mudanças, é melhor. Porque mudanças graduais, permitem uma melhor adaptação da nossa parte.
Os Humanos não estão a “acabar com a Terra”.
Simplesmente estão a acabar com as condições moderadas, ideais para os Humanos viverem.
Acabar com os Humanos, com uma extinção voluntária, não me parece ser a solução, obviamente.
O resultado é só extinguir os Humanos. Mas a Terra não é salva, porque nunca precisou ser salva. A Terra não passa a ser “mais saudável”, porque sempre foi e sempre será saudável, tal como todos os outros planetas. A “saúde” dos planetas não está dependente das definições humanas.
Se o objetivo é prevenir extinções em massa, então uma extinção, mesmo sendo voluntária, não deveria ser a solução.
A não ser que soubéssemos previamente que as espécies que iriam ocupar o nosso nicho seriam mais “inteligentes”, mais “conscientes” que nós.
Como se sabe, um dos lemas da Evolução, é que a seguir a extinções em massa, há uma explosão de diversidade. Nós só estamos aqui, porque outras espécies anteriormente extinguiram-se. Essas extinções abriram nichos, que permitiram que os mamíferos se desenvolvessem.
Conclusão: não concordo com a solução apresentada de extinguir voluntariamente os Humanos. A não ser que soubéssemos que “os próximos” iam ser muito melhores que nós.
Mas compreendo os dados apresentados no artigo científico: se cada casal só tivesse um filho, por exemplo, rapidamente (em algumas gerações) deixaríamos de ter população a mais para os recursos terrestres, e passaríamos a emitir menos CO2 para a atmosfera.
6 comentários
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No nosso Facebook, estão a existir várias discussões interessantes sobre este assunto:
https://www.facebook.com/astropt/posts/4650096928334896
Nem sabia que havia facebook da página. Se calhar é melhor nem ir lá. Estou a fazer um curativo a ler comentários no facebook e vai uma pessoa pensar que está num sitio seguro e no facebook nenhum sitio é seguro.
O objectivo não é extinção mas redução.
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Sim, correto.
É a diferença entre o artigo e o website.
Mas a redução, defendida pelo artigo, será até quando?
Qual é o número ideal de humanos? 😉
O website defende que a redução deve ser até chegar a 0 🙂
Já li uma vez que o número ideal de habitantes humanos (que não deprecia o planeta) é de 500 mil habitantes. Só a cidade de Sorocaba, interior paulista, ultrapassou essa quantidade faz tempo.
Até deixarmos de consumir mais recursos que os disponíveis ou que a tecnologia evolua de modo a que se atinja o equilibro.