Pelos vistos, existe uma nova conspiração entre os negacionistas: supostamente, as variantes têm nomes complicados (com letras e números) só para parecerem mais perigosas e assustarem as pessoas.
(faz-me lembrar a conspiração idiota que Trump promoveu, em que dizia que a COVID-19 queria dizer que já era a 19ª COVID. Isto já foi explicado, aqui).
Ora, esta conspiração dos nomes é completamente absurda.
Os nomes originais, científicos, são com letras e números. Só depois, caso tenham interesse, é que são dados apelidos para melhor serem identificados pela população.
Isto é assim em ciência, para diversos assuntos. Incluindo exoplanetas, asteróides, etc.
Por exemplo, o exoplaneta HAT-P-36b é a denominação científica original. Posteriormente, foi apelidado de Bran, para ser melhor reconhecido.
O asteróide 2004 MN4 tem esse nome, como denominação científica original. Posteriormente, foi apelidado de Apophis. E agora é assim conhecido por toda a gente.
O asteróide Dimorphos, que é o alvo da missão DART (aqui), foi originalmente designado de S/2003 (65803) 1. Esse era o nome científico. Depois, foi nomeado Didymos B, após o asteróide principal receber o nome 65803 Didymos. Recentemente, por ser um asteróide de bastante interesse (por se tornar o alvo de uma missão), então recebeu o nome Dimorphos.
Ou seja, os nomes científicos são os originais.
Os nomes posteriores são simples apelidos, para facilitar a comunicação científica e o reconhecimento por parte do público.
O mesmo se passa em termos de variantes do SARS-CoV-2.
Existem os nomes científicos, originais, e depois a Organização Mundial de Saúde resolveu colocar apelidos às variáveis de interesse (que posteriormente se podem tornar variantes de preocupação), de modo a facilitar a comunicação científica das variáveis para o público.
Os nomes científicos originais têm a sua razão de existência e são bastante informativos para os investigadores.
Por exemplo, a denominação científica original da recente variante histérica Omicron é: B.1.1.529
O que querem dizer as letras e números?
Existem duas linhagens.
A linhagem A foi reconhecida (após os estudos) a 5 de Janeiro de 2020, em Wuhan.
Curiosamente, a linhagem B foi recolhida a 24 de Dezembro de 2019, em Wuhan. Mas foi chamada de B, porque foi estudada posteriormente.
As linhagens têm diferentes nucleótidos nas posições genéticas.
Os coronavirus detetados posteriormente (da mesma família) vão ser colocados numa destas linhagens, dependendo se evoluíram a partir de uma ou de outra linhagem.
A categoria B.1 refere-se à descendência da variante primeiramente detetada no norte de Itália, no início do ano 2020.
Depois, para ser uma nova variante, precisa de ter 3 regras:
– deve ser transmitida a uma população geograficamente distinta.
– deve ter pelo menos uma diferença crucial em termos de nucleótidos.
– pelo menos 95% do seu código genético deve ter sido sequenciado um mínimo de 5 vezes, em 5 amostras diferentes. Para se ter a certeza das mutações.
B.1.1 quer dizer que é uma variante que descende da B.1.
Assim, para a pessoa comum, B.1.1.529 é só um conjunto de letras e números.
Mas para um biólogo, para um investigador na área da saúde, para um especialista, este nome científico permite-lhe saber imediatamente o que é a variante: sabe qual a árvore genealógica da variante, a sua história.
Depois destes nomes científicos, apareceram as letras do alfabeto Grego para melhor comunicar para a população as variantes de interesse e as variantes de preocupação.
Como podem ver pela lista, os apelidos das variantes seguiram o alfabeto Grego.
Exceto nesta última variante: a Omicron.
A Organização Mundial de Saúde saltou as letras Nu e Xi.
A letra Nu foi descartada porque soa demasiado a “new” – a palavra que, em inglês, quer dizer “nova”. Para o nome não confundir as pessoas, decidiram saltar a letra Nu.
A letra Xi também foi descartada, porque a palavra Xi é um nome de família muito comum nos países asiáticos. Seria o mesmo que chamarem variante Silva – as pessoas ainda pensavam que toda a gente que se chama Silva teria o vírus.
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