Trump foi o paciente zero

Já há muito que se suspeitava que Trump estava infetado com a COVID-19, alguns dias antes de ele ter publicamente assumido esse facto.
Isto deve-se ao facto dele ter feito vários comícios e festas na Casa Branca e centenas de pessoas terem ficado infetadas.

Agora, sabe-se que isso realmente aconteceu.
E que ele, Trump, sabia que estava infetado, e não quis saber da vida das pessoas.

Num livro publicado por Mark Meadows, antigo chefe de gabinete da Casa Branca, e grande aliado de Trump, Meadows confirma isso.

No dia 25 de Setembro, quando possivelmente estava infetado com a COVID-19, mas ainda não o sabia, Trump foi a um comício na Florida, realizou uma cerimónia em Atlanta, esteve numa campanha de angariação de fundos em Washington, e à noite foi a um comício na Virgínia.

No dia 26 de Setembro de 2020, Trump fez um teste à COVID-19, que deu positivo.
Nesse mesmo dia, fez novo teste (agora, de antigénio), menos confiável, e deu negativo.

Assim, Trump (e toda a sua equipa, incluindo Meadows) escondeu essa informação (que o teste mais confiável tinha dado positivo) do resto das pessoas.

No mesmo dia, o jornalista Michael Shear, entre outros, voou com Trump no avião Air Force One, e posteriormente percebeu que estava infetado com a COVID-19.
Ele tinha quase a certeza que tinha sido infetado durante essa viagem de avião, mas não o conseguia provar.

Nesse mesmo dia 26, Trump organizou uma enorme cerimónia na Casa Branca para a juíza do Supremo Tribunal Amy Coney Barrett, com mais de 150 convidados (ao todo, com staff, estariam o dobro das pessoas), sem quaisquer máscaras e sem ninguém praticar distanciamento social.
Esse evento foi, posteriormente, considerado um superspreader event já que contagiou um elevado número de pessoas.

Depois, foi para a Pennsylvania, para falar para milhares de pessoas em comícios políticos.
O médico da Casa Branca, Sean Conley, achou que já era demais, e tentou impedi-lo de ir ao comício infetado. Mas Trump foi na mesma ao comício.
Na verdade, foram 3 comícios em locais diferentes da Pennsylvania nesse dia.
Desses comícios, saíram centenas de pessoas infetadas.

No dia 27 de Setembro (no dia a seguir a saber que estava infetado), Trump realizou eventos na Casa Branca para famílias de militares.
Além disso, Trump fez a sua habitual conferência de imprensa sobre a COVID para os jornalistas na Casa Branca.
Repito: Trump sabia que estava infetado, e continuou a fazer grandes eventos na Casa Branca, onde infetou centenas de pessoas.

No dia 28 de Setembro, Trump organizou um evento para empreendedores de sucesso.
De tarde, Trump fez a sua habitual conferência de imprensa sobre a COVID para os jornalistas na Casa Branca.
Reitero: Trump sabia que estava infetado, e continuou a fazer grandes eventos na Casa Branca, onde infetou centenas de pessoas.

Durante estes dias, Trump já mostrava algumas debilidades para o seu círculo interno de pessoas, como cansaço, andar mais devagar, etc.

Antes do debate com Joe Biden, Trump fez a preparação desse debate.
Todos os candidatos o fazem: é uma simulação do debate, com alguém amigo, que faz o papel do opositor.
Quem preparou Trump foi Chris Christie, o antigo governador republicano e grande amigo de Trump.
Chris Christie anunciou que tinha feito o teste, e estava infetado com COVID dias depois, no início de Outubro.
Na altura, Trump acusou Christie de o ter infetado com a COVID-19.
Hoje sabemos que foi exatamente ao contrário: foi Trump quem infetou Christie (que foi hospitalizado nos cuidados intensivos e quase morria) e Trump sempre o soube!

No dia 29 de Setembro, foi o primeiro debate com Joe Biden.
Uma das regras era fazer um teste à COVID-19 antes de entrar no evento.
Biden, o moderador, e todos os outros fizeram teste à COVID-19, que deu negativo.
Trump, convenientemente, chegou atrasado. Como chegou atrasado, disse que não tinha tempo para fazer o teste.
Para não atrasar a programação, os diretores do evento (debate) utilizaram o sistema de honra (honor system): Trump jurou pela sua honra que tinha feito o teste na Casa Branca e não estava infetado com a COVID-19.
Relembro: Trump sabia que estava infetado com a COVID-19 e não se importou de potencialmente infetar as outras pessoas na sala, incluindo Joe Biden.

No dia 30 de Setembro, Trump viajou para o Minnesota, onde realizou uma campanha de angariação de fundos, e seguidamente foi a um comício político.
Nesse mesmo dia, ao final da tarde, Hope Hicks, uma das pessoas mais próximas de Donald Trump, apresentava sintomas de quem estava doente com COVID-19.

No dia 1 de Outubro, Trump volta a fazer o teste, e o resultado é novamente positivo.
Antes disso, Trump foi a uma campanha de angariação de fundos em New Jersey.

No dia 2 de Outubro, Trump anunciou que estava infetado com a COVID-19.
Nesse mesmo dia 2 de Outubro, Trump afirmou que tinha acabado de fazer o teste, e que o resultado positivo tinha chegado “há uma hora atrás”. Como se sabe, é mentira.
Nesse mesmo dia, ao final da tarde, Trump foi hospitalizado. Nessa altura, muita gente questionou Trump só saber estar infetado nesse dia e imediatamente ser hospitalizado (a doença não funciona assim… sem período de incubação).

Esta linha do tempo permite perceber que Trump esteve infetado com COVID-19, sabendo que estava infetado, durante uma semana, onde participou em dezenas de eventos com milhares de pessoas (infetando centenas delas), e não quis saber da saúde dessas pessoas.

A minha questão é: não existem leis contra pessoas que intencionalmente disseminam doenças, potencialmente levando à hospitalização e à morte de outras pessoas?
E a questão final é: sendo que os presidentes juram proteger a segurança e a vida dos cidadãos do seu país, quando são os próprios presidentes a potencialmente matarem a sua própria população, isso não tem consequências legais?

Como escrevi, aqui, “é verdade que aquelas pessoas foram a comícios de sua livre vontade. A responsabilidade é delas. Mas Trump não fomentou isso? Não existiu, no mínimo, negligência da sua parte ao potenciar eventos super-spreaders (que contagiam centenas de pessoas)?”

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