Djokovic foi deportado

Novak Djokovic foi, finalmente, deportado da Austrália.

Este foi um caso que teve “meio mundo” interessado, onde me incluo obviamente.
Estive tão interessado que até vi o procedimento judicial em direto, incluindo a sentença final.

Neste caso de Djokovic, o que me parece é que uma parte esteve muito bem, e todas as outras partes foram um desastre.


A única parte que esteve bem foi a judicial.
Nas duas decisões que teve que tomar, o tribunal mostrou uma independência que é louvável.
Além disso, focou-se somente no aspeto particular em julgamento, e não no circo mediático em volta do assunto e possíveis consequências da decisão. Julgou o que tinha que julgar e nada mais do que isso.
Esta última decisão foi tomada por unanimidade, pelos 3 juízes.
As razões podem ser lidas, aqui e aqui.


As culpas/responsabilidades deste caso, repartem-se por várias pessoas/entidades:

1 – Em primeiro lugar, pelo próprio Novak Djokovic: se tivesse tomado a vacina, não tinha existido qualquer problema.
Dos 100 jogadores de ténis que estão no topo do ranking ATP (TOP 100), 97 estão vacinados. Em 100 jogadores, só existem 3 negacionistas, entre eles Djokovic.
Djokovic sabia que ia ter problemas, porque outros tenistas foram deportados, como Renata Voracova, por isso não pode vitimar-se, dizendo que foi um alvo do governo. Não foi. Muitas outras pessoas já foram deportadas, incluindo tenistas.

A questão principal é que Djokovic foi um irresponsável: durante 1 ano não quis tomar a vacina, sabendo que iria ter problemas em alguns países, e sabendo que poderia contaminar colegas e, sobretudo, pessoas mais velhas que trabalham durante o torneio e que são obrigadas a relacionar-se com ele.
Lembro que em Junho de 2020, contra as regras e contra as recomendações de toda a gente, Novak Djokovic organizou o torneio de ténis Adria Tour, que terminou com vários tenistas infetados, incluindo o próprio Djokovic.

Ele teve uma escolha. Preferiu o confronto, e perdeu. Todas as escolhas têm consequências, e ele fez a sua escolha.
Assim, ele foi o grande irresponsável: poderia ter prevenido todos os problemas, tomando uma simples vacina. Mas não o quis fazer. A sua opção foi ter problemas.

2 – Governo Australiano: não deveria ter dado o visto inicial a Djokovic.
A lei deveria ser simples: não está vacinado, não entra no país.
Se o Governo tivesse negado o visto inicialmente, Djokovic não teria entrado no país, e não existiria todo este circo.

3 – ATP e Tennis Australia: as regras deveriam ser simples, como são noutros desportos: se não está vacinado, não joga. Se quer jogar, tem que se vacinar.
Se assim fosse, não existiriam quaisquer ambiguidades. Por alguns desportos permitirem algumas ambiguidades, é que de vez em quando (raramente) se vê este circo mediático em torno de jogadores negacionistas (que, sublinho, não são cientistas, virologistas ou médicos – são, na verdade, ignorantes em assuntos científicos).
Dou o exemplo da F1: todos os funcionários (incluindo pilotos, mecânicos, etc) são obrigados a estar vacinados. Têm a opção de não se vacinarem. Mas se não se vacinarem, não podem estar com as outras pessoas (paddock), e por isso não podem participar nos eventos desportivos. Basicamente, se não se vacinarem, não participam nas provas de desporto.
Este é o caminho que as grandes empresas já fazem: os funcionários são obrigados a vacinar-se. Têm a opção de não o fazerem. Mas se não o fizerem, não trabalham, e não recebem salário (ou são despedidos).
O ténis deveria fazer o mesmo: todas as pessoas que participam no evento desportivo de ténis, deveriam estar vacinadas. Desta forma, não existiria qualquer ambiguidade, e os tenistas (e outros funcionários) saberiam exatamente com o que contam: se não se vacinarem, não jogam. Continua a ser a opção deles, mas a consequência é clara.

4 – Novak Djokovic: além de ter sido irresponsável por não ter tomado a vacina, Djokovic teve vários outros problemas que são da sua inteira responsabilidade.
Djokovic cometeu vários erros e foi apanhado em algumas mentiras/contradições ao longo dos dias.
Por exemplo, ficou comprovado que ele mentiu quando preencheu o formulário para entrar na Austrália (escreveu que não tinha viajado nos 14 dias anteriores, antes de viajar para a Austrália, e afinal tinha viajado para a Espanha). Ele próprio admitiu que era mentira, mas culpou o seu agente pelo sucedido (no entanto, a responsabilidade legal para as informações dadas no seu próprio formulário é de Djokovic).

Os outros exemplos têm a ver com ter estado infetado com COVID-19.
Supostamente, Djokovic testou positivo para a COVID-19 a 16 de Dezembro de 2021. É “supostamente”, porque muita gente duvida da veracidade do teste. Há quem argumente que o resultado do teste foi adulterado para essa data (por um médico sérvio amigo de Djokovic), de modo a ele poder estar recuperado 14 dias depois para entrar na Austrália com a justificação que tinha estado recentemente infetado e por isso não necessitava de vacina. Além disso, o QR Code do teste do jogador deu negativo; só depois, após jornalistas internacionais darem com essa informação oposta ao que Djokovic dizia, é que “magicamente” o mesmo QR Code passou a dar positivo.
Nesse dia 16, já depois de fazer o teste, participou num evento desportivo, onde tirou muitas fotografias com crianças, e onde esteve sempre sem máscara e sem distância de segurança. Caso tivesse dúvidas sobre o resultado do teste, devia ter-se contido nos contatos próximos, mas não o fez, colocando a saúde de outras pessoas em risco.
Djokovic diz que só soube do resultado do teste no dia seguinte, a 17 de Dezembro.
No entanto, a 18 de Dezembro, já sabendo que estava infetado, decidiu fazer uma entrevista e uma sessão fotográfica presencial. A entrevista foi feita por um jornalista mais idoso do conhecido jornal francês L’Équipe chamado Franck Ramella. Djokovic sabia que estava infetado e que havia grande probabilidade de transmitir o vírus ao jornalista, mas não quis saber. Mais uma vez, foi extremamente irresponsável: Djokovic não quis saber da saúde das outras pessoas, e até foi contra as leis sanitárias do seu próprio país (que exigem o confinamento de pessoas que sabem estar infetadas).
A 25 de Dezembro, Djokovic esteve a jogar ténis e a tirar fotos com pessoas em Belgrado. Caso tivesse tido um teste positivo a 16 de Dezembro, pelas regras na Sérvia, ele deveria estar em isolamento até 30 de Dezembro. Mais uma vez, quebrou as regras (assumindo que o teste positivo era verdadeiro).
A 31 de Dezembro, Djokovic viajou para a Espanha, onde passou o fim-de-ano. Em Espanha continuou a jogar ténis com outros tenistas, e a tirar fotos.
A 5 de Janeiro, viajou para a Austrália com a justificação que tinha estado infetado com a COVID-19 recentemente e que não tinha viajado para lado nenhum nas últimas duas semanas (isto é comprovadamente falso).

Assim, só existem duas hipóteses:
– ou Djokovic forjou o resultado de um teste para justificar a falta de vacina às autoridades australianas.
– ou esteve realmente infetado com a COVID-19, e sabendo que estava infetado, esteve a socializar em público e participou em atividades em que esteve em contato próximo com outras pessoas, incluindo mais velhas, quebrando as regras em vigor na Sérvia que obrigam ao isolamento.
Ambos os cenários são extremamente condenáveis.

Existe ainda um outro “pormenor” interessante, descoberto pelo jornal alemão Der Spiegel: Djokovic afirma (nos documentos que foram apresentados em tribunal) que fez um novo teste à COVID-19 a 22 de Dezembro, que deu negativo. No entanto, pelas regras sanitárias da Sérvia, ele teria que continuar em isolamento até dia 30 de Dezembro.
O mais interessante é que o suposto teste positivo de 16 de Dezembro só foi colocado online após o teste negativo de 22 de Dezembro. No certificado online, o teste foi colocado como positivo a 26 de Dezembro (e não a 16 de Dezembro). Sendo assim, ele estaria proibido de viajar de avião, seja para a Espanha seja para a Austrália. Posteriormente, é que foi defendida a tese de que o teste era de 16 de Dezembro, de modo a permitir que ele viajasse.

Como se percebe, tudo isto é uma enorme confusão, onde existem indícios de adulteração de datas de testes, de muita incompetência, e de muita irresponsabilidade.

5 – Patrocinadores: os desportistas ganham muito dinheiro com os patrocínios. Grande parte dos seus ganhos vêm desses patrocinadores. Se os patrocinadores deixassem de financiar negacionistas do conhecimento, esses negacionistas perderiam milhões de dólares e reconsiderariam as suas posições.
Por isso, os patrocinadores de Djokovic, como a Peugeot, a Lacoste ou a Hublot, podem influenciar as ações de Djokovic. Ao continuarem a apoiá-lo, afirmam implicitamente que estão de acordo com as suas atitudes irresponsáveis.
Lembro que quando Lance Armstrong esteve no centro da polémica do doping, a Nike, a Trek e a Budweiser retiraram-lhe os patrocínios. Quando a tenista Maria Sharapova deu positivo a um teste de drogas, perdeu os patrocínios da Porsche, Nike e Tag Heuer.
Por isso, os patrocinadores têm poder.

Claro que as pessoas comuns também têm o poder de influenciar essas marcas: se as marcas perceberem que estão a receber muita publicidade negativa, e a perderem dinheiro em vendas, devido às polémicas, deixam de patrocinar esses ativos tóxicos.
Também por isto é que o tenista Roger Federer tem o triplo dos patrocínios de Djokovic, porque Federer não cria os problemas que Djokovic periodicamente fomenta.

6 – Jelena Djokovic: a esposa de Novak Djokovic é provavelmente a sua maior influenciadora em questões negacionistas.
Eles conheceram-se na escola secundária (ensino médio) e estão juntos desde essa altura.
Jelena Djokovic tem um blog onde dissemina as suas posições anti-vacinas, sempre com argumentos falaciosos e conspirações absurdas.
Nesse blog, ela também divulga as “maravilhas” da merdicina alternativa, apoiando as tretas mais estranhas e disparatadas.
Por exemplo, sabiam que as ETARs não são necessárias? Segundo a “cientista” Jelena, basta o poder do pensamento positivo para que água contaminada se converta em água potável.
Ela também é adepta de várias conspirações. Uma das conspirações prediletas dela é a do 5G. Há uns anos, ela seria contra o 4G, e antes disso, seria contra o 3G. Se vivesse há algumas décadas atrás, seria contra a eletricidade, essa “energia desconhecida” que mata tanta gente diariamente.
Pergunta inocente: quem é adepta do colar radioativo que, supostamente afasta o 5G?
No entanto, para fazer “o bingo”, é preciso algo mais: mistura de conspirações. Como ela mistura as vacinas e o 5G? Simples: Jelena afirma que a COVID-19 é causada pelo 5G.

Jelena apresenta-se publicamente como anti-vacinas, por isso não é de estranhar que Novak também não se sinta à-vontade com as vacinas.

Crédito: The Sun

Os erros, o querer criar um problema, a irresponsabilidade, o parecer que está de propósito a jogar contra si próprio, é surpreendente.

Porque razão Djokovic se daria a todo este trabalho, a toda esta polémica, que aparentemente não lhe traz qualquer vantagem?

E porque a sua equipa de profissionais não o avisou de que todo este circo seria péssimo para si, profissionalmente e em termos de reputação?
Será que a equipa de profissionais que trabalha com ele, são incompetentes?

A resposta pode ser inesperada…

Como divulgou o comunicador de astronomia Carlos Di Pietro: “o jornal italiano Sole 24 Ore descobriu que Novak Djokovic é proprietário e principal acionista de uma Start-up farmacêutica chamada QuantBioRes, com sede na Dinamarca, que tenta desenvolver medicação (comprimidos) para curar a COVID-19.”

Ora, uma vacina eficaz contra a COVID-19 tem como consequência uma redução significativa dos doentes e internados por COVID-19. Isto leva a que muito menos pessoas necessitem do comprimido para a COVID-19, que a empresa de Djokovic poderá desenvolver.

É do interesse de qualquer empresa (incluindo a de Djokovic) que desenvolva um comprimido para a COVID-19, que as pessoas não tomem a vacina. Só assim, essas empresas conseguem aumentar enormemente os seus lucros.
Por isso, campanhas anti-vacinação e mensagens que coloquem dúvidas nas pessoas, são bem-vindas por essas empresas.

Esta descoberta levanta a hipótese de que a recusa de Djokovic em se vacinar e todo o circo por si criado na Austrália, pode não ter motivos ideológicos (anti-vacinas), mas sim uma motivação comercial/económica.

Carlos Di Pietro lembra que o movimento anti-vacinação começou com uma fraude, perpetrada por Andrew Wakefield, que é adorado pelos negacionistas.
Este cientista britânico atacou a vacina contra o Sarampo, alegando que ela causava autismo, sem quaisquer evidências objetivas dessa ligação.
Mais tarde, percebeu-se o porquê dele ter disseminado essa mentira: ele tinha patenteado uma outra vacina (concorrente) contra o Sarampo. Por isso é que atacou/difamou a vacina já existente.

Crédito: Open Corporates

Pessoalmente, sou fã de Roger Federer, e não de Djokovic. Para mim, Federer é o melhor tenista de sempre.
Mas reconheço que Djokovic pode ter uma carreira com mais vitórias que Federer.

O problema que Djokovic agora enfrenta é que a sua carreira de sucesso fica manchada pela sua atitude anti-conhecimento, e comportamentos irresponsáveis.
Quando se procurar Djokovic na internet, iremos ter sobretudo notícias das polémicas: tal como acontece com Britney Spears ou Lindsay Lohan, por exemplo. Apesar de terem tido carreiras de sucesso, o que fazem na sua vida pessoal, as polémicas tornaram-se muito mais importantes para o público.
Nessa altura futura de pesquisa na internet, iremos perceber que Djokovic escolheu, conscientemente, colocar em perigo a saúde das outras pessoas.

A carreira desportiva de Novak Djokovic é impressionante.
Mas a sua imagem estará para sempre manchada pela irresponsabilidade.

Novak será para sempre conhecido como Novax, que é o nome dado pelos seus fãs negacionistas.

Crédito: William West / AFP

Crédito: William West / AFP

1 comentário

    • Jonathan Malavolta on 17/01/2022 at 04:09
    • Responder

    Sinceridade? Nunca nem havia ouvido falar desse Djokovic antes, e acredito que sei porque: Não costumo acompanhar o noticiário desportivo, raramente vejo alguma notícia do gênero (em matéria de desporto, sou mais de prática do que de mídia; ou seja, curto muito nadar, mergulhar, jogar futebol, basquete, o próprio tênis; já para acompanhar aos jogos ou as notícias, não faço o tipo). Dos citados aliás, só conhecia vagamente Federer, de nome (nunca nem vi o rosto).

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