Em Janeiro passado, neste artigo, demos conta de que o estágio superior de um foguetão não caiu na Terra e foi deixado à deriva no espaço, tornando-se lixo espacial.
Nessa altura, de acordo com os cálculos do astrónomo Bill Gray, dissemos que se tratava de parte do foguetão Falcon 9, da SpaceX, que tinha levado o Deep Space Climate Observatory para o espaço.
Nessa altura, também dissemos que esse lixo espacial iria colidir com a Lua, no “lado oculto” da Lua (o lado da Lua que não está virado para a Terra), a 4 de Março de 2022.
Nessa altura, também dissemos que “nos dias 7 e 8 de Fevereiro, o objeto será novamente visível próximo da Lua, o que permitirá recolher mais dados da sua órbita”. Assim, seria possível confirmar ou corrigir alguns dos dados sobre o objeto e sobre o impacto na Lua.
Ora, essa revisão de dados em Fevereiro, permitiu perceber que o objeto não era da SpaceX, mas é sim um propulsor do foguetão Chang’e 5-T1, que foi uma missão experimental chinesa à Lua, lançada em 2014. O foguete/objeto chama-se 2014-065B. Bill Gray corrigiu a informação, aqui.
No entanto, isto foi negado pela própria China, que disse que esse objeto reentrou na atmosfera terrestre, desintegrando-se. Mas, de acordo com Bill Gray, o Ministro Chinês poderá ter confundido as missões.
The rocket booster that is going to impact the Moon on March 4 is from the Chang'e 5-T1 lunar mission, not DSCOVR.
GIF: https://t.co/AbEiejPB9Z pic.twitter.com/Aw5D1RsHO8— Tony Dunn (@tony873004) February 13, 2022
Assim, apesar de não se saber com certezas absolutas qual é o objeto (é lixo espacial de um foguetão, mas não se sabe de qual missão com 100% de certeza), tudo o resto estava compreendido: basta seguir as leis de Newton.
A reminder that there is no live tracking of the impacting rocket stage. Based on observations made weeks ago, we're confident that it will hit Hertzprung crater at 1225 UTC Mar 4, because we trust Uncle Isaac – successfully predicting the trajectory of things in space since 1687
— Jonathan McDowell (@planet4589) March 4, 2022
Assim, toda a gente assume que o objeto já colidiu com a Lua, no lado não visível a partir da Terra, perto da cratera Hertzsprung.
Os efeitos do impacto terão sido mínimos: deverá ter causado uma pequena cratera na superfície lunar, com cerca de 20 metros de diâmetro.
Esta pequena cratera deverá ser visível a partir de agora pela sonda Lunar Reconnaissance Orbiter (da NASA) ou pela sonda indiana Chandrayaan-2.
Nas próximas semanas, deveremos ter a confirmação do local do impacto. Além das sondas passarem pelo local e tirarem fotografias à superfície lunar, é preciso depois identificar claramente na superfície lunar a nova cratera, comparando com imagens anteriores. Infelizmente, a pluma de pó que também terá sido criada com a colisão, não foi possível de detectar (porque a colisão foi no lado não visível a partir da Terra).
O estudo da nova cratera poderá trazer alguns dados sobre a geologia lunar.
Nesta animação, feita em computador, pode-se ver o que seria o impacto na Lua, caso o pudéssemos testemunhar:
Além do problema do lixo espacial poder colidir com objetos espaciais ativos ou poder cair sobre os corpos planetários, como disse o geólogo planetário David Rothery, existe ainda um outro problema: estas colisões podem contaminar a Lua com micróbios, que no futuro podem ser confundidos com “descoberta de vida extraterrestre na Lua”.
Em sentido contrário, David Rothery disse que não se preocupava com a formação de uma nova cratera na Lua: já existem cerca de 500 milhões de crateras na Lua com pouco mais de 10 metros de diâmetro. Mais uma ou menos uma, não é preocupante.
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