Engolir livros para o exame

Este sempre foi o problema da educação: os alunos engolem/memorizam a matéria que lêem nos livros, muitas vezes no dia anterior ao exame, e depois durante o exame vomitam tudo o que memorizaram, esquecendo para sempre o conhecimento adquirido.

Aprender não devia depender da memorização temporária de algo para o exame, e depois esquecer tudo.

Eu próprio, como aluno, cheguei a fazer isto: é fácil manipular o sistema, só com o objetivo de ter boas notas.
Curiosamente, fiz isto em áreas que não gostava. Como quando tirei o curso de Gestão de Empresas. No curso que adorava (astronomia), aprendi mesmo os temas, porque era isso que eu queria aprender. Além disso, tive sorte que nesse curso, existia muito o desenvolvimento do pensamento crítico, por isso “decorar coisas” não era benéfico.

No doutoramento, também existiu o desenvolvimento, acelerado, do pensamento crítico.
O que adorei, obviamente.

Nas minhas aulas, é isso que faço: tento não dar exames que dependam da memorização dos alunos.

No meu primeiro ano, ou segundo ano, a dar aulas, tive uma aluna de 19 ou 20 anos, a dizer que ia desistir da disciplina de astrobiologia, porque era a única disciplina em que não tinha A (acima de 90%). Na verdade, tinha tido C (60%) e não percebia porquê. Ela argumentou que tinha estudado imenso, e mesmo assim não tinha tido boa nota. E começou a chorar, porque gostava da disciplina, mas queria ter boa nota e não sabia como.
Eu expliquei-lhe uma coisa simples: “Lembras-te o que eu disse na primeira aula? Se vocês decorarem o que eu disser nas aulas ou o que está nos livros, vão ter má nota. O que tu me disseste no exame, já eu sabia: fui eu que o disse nas aulas.”

E ela, claro, começou a olhar para mim, com uma forma de quem não estava a entender nada. Como é que eu não queria que ela respondesse o que eu tinha ensinado nas aulas?
Ela estava tão formatada por todas as outras disciplinas, que não conseguia compreender que não era a decorar que aprendia alguma coisa.

Após mais algumas aulas, foi finalmente percebendo o que eu queria. No final, tirou o ansiado A.

Depois disso, já tive outros episódios semelhantes com outros alunos.

Mudar a estratégia de educação para algo diferente da memorização não é fácil: nem para os professores nem para os alunos.
Para mim – e isto é com base na minha experiência – aprendi sempre mais (e mais duradouro) em aulas que dependiam do pensamento crítico, quer como aluno quer como professor. Mas, claro, também tive a sorte disso ser em matérias que eu adorava… o que ajuda a aprender.

1 comentário

    • Jonathan Malavolta on 11/03/2022 at 02:37
    • Responder

    Minha disciplina favorita sempre foi Língua Portuguesa (até hoje, aliás), porém ressalto que nunca tive uma única disciplina/matéria de que realmente não gostasse. Já tive, isso sim, professores (incluindo de Língua Portuguesa) que, talvez por não saberem ensinar ou por faltar-lhes paciência, tornavam as aulas enfadonhas (e isso vale para todas as matérias e para todos os níveis escolares). Fatos assim já culminaram no meu afastamento de assistir as aulas de dado professor e manter a matéria como autodidata.

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