Somos todos cientistas

Por vezes, as pessoas acham que a ciência é algo muito distante delas. Imaginam que a ciência só se encontra em laboratórios e faculdades de ciência.
Mas esta visão é muito limitativa do que é a ciência.

Não só utilizamos tecnologia (baseada em muita ciência) todos os dias, praticamente a todos os minutos do dia, como nós próprios somos cientistas em potencial desde que nascemos.
Desde que nascemos que vamos observando e experimentando com o mundo à nossa volta, e com isso vamos tendo um maior conhecimento do que nos rodeia (vamos acumulando conhecimento)… ou seja, vamos fazendo ciência.

Quando nascem, os bebés vão fazendo observações de tudo e vão percebendo os padrões das coisas (tal como a ciência).

As crianças são, por vezes, irritantes, devido à imensa quantidade de perguntas que fazem. É a forma com que vão bebendo conhecimento. Eles sabem que não podem observar e experimentar tudo, daí que vão fazendo perguntas. Mais uma vez, isto faz-se em ciência, nas pesquisas que se fazem sobre trabalho já realizado.

Grande parte das vezes, as crianças fazem experiências.
“Não ponhas a mão no fogão que te queimas!” E lá vai a criança desobedecer à figura parental, para ela própria fazer a experiência. Tal como se faz em ciência: em que os resultados têm de ser reproduzidos por equipas independentes. Depois de fazer o teste, a criança aprende informação: “não colocar a mão no forno, senão dói-me”. Tal como se faz em ciência: os resultados dos testes, permitem sempre aprender mais informação.
Mesmo na relação com os pais, os filhos vão testando diferentes situações, até os pais já estarem tão irritados até cederem. Aí, as crianças compreendem a causa e o efeito: “se eu fizer isto, vou ter aquilo que quero”. Da mesma forma que se faz em ciência: testa-se e compreende-se as relações entre as variáveis.

Os adultos também testam diferentes situações, e vão vendo aquilo que funciona e não funciona. Tal como se faz em ciência.
Certamente que conseguem pensar em inúmeros exemplos no dia-a-dia.

E não são só os humanos que fazem isto.
Quem já viu documentários sobre animais (sobretudo mamíferos), percebe que os mais novos estão sempre a testar os limites dos mais velhos e do ambiente ao seu redor. Os resultados desses testes dão-lhes informação sobre o que devem ou não fazer no futuro.
Os próprios animais mais velhos fazem isso: se um leão vir uma gazela a uma determinada distância e correr para apanhá-la, mas se ela fugir facilmente, o leão percebe que da próxima vez terá que estar mais perto para ter sucesso. As experiências diárias fornecem informação que poderá ser útil no futuro. Tal como se faz em ciência.

Esta aprendizagem com as observações e experiências que se vão fazendo diariamente é partilhada por humanos e animais.

No entanto, é a característica que falta na pseudociência. E por isso é que não é ciência.
A pseudociência tem a infeliz qualidade de ignorar as observações e as experiências.
Por mais experiências que se tenham feito sobre astrologia, homeopatia, reiki, etc, os crentes vão sempre ignorar os resultados, porque, para eles, a crença está acima do conhecimento.

No exemplo que dei em cima, vamos supôr que o Feng Shui nos dizia que colocar a mão sobre discos acesos no fogão não provoca qualquer queimadura.
Por mais experiências que existissem a comprovar que isso não é verdade (resultados negativos: as pessoas queimavam-se), os crentes iriam sempre assumir que a sua crença é que conta, e não os resultados das experiências.
A não-aprendizagem com a experiência é um dos aspetos das pseudociências.

Os crentes provavelmente até dariam o testemunho de uma vez em que colocaram a mão sobre o disco do fogão e não se queimaram. E daí tiraram a conclusão que o fogão não queima.
Ou seja, dão demasiado valor aos testemunhos, em vez de darem maior relevância às experiências controladas.
No entanto, “esquecem-se” que, na situação em que não se queimaram, poderão ter existido variáveis que afetaram o resultado final. Por exemplo, será que usaram luvas de cozinha? Se foi assim, é normal não se queimarem. Será que o disco estava desligado? Se assim é, não queima. Será que têm mais resistência às queimadelas? Normalmente os testemunhos sofrem do chamado placebo, em que a sensação (de melhoras) da pessoa se sobrepõe aos resultados objetivos.

Claro que tentar encontrar e controlar as variáveis, dá trabalho. E normalmente as pessoas querem respostas rápidas, sem perderem tempo a tentarem perceber melhor o que se passa.
Por isso é que, infelizmente, as pseudociências continuam a ser seguidas pelos seus crentes.
Um dos atributos das pseudociências é que são baseadas em crenças (de respostas simples), e não baseadas no conhecimento objetivo dos assuntos.

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