Há cerca de 4 anos que grupos conspiracionistas andam a partilhar a ideia absolutamente estúpida de que os pássaros não são reais – eu já falei desta ideia absurda, há 4 anos, neste post.
Entretanto, a ideia foi ganhando força nas redes sociais e na comunicação social, tal como referi o ano passado, neste artigo.
O movimento foi criado pelo jovem norte-americano Peter McIndoe, de 20 anos, e chama-se: Birds are Not Real.
Ele argumenta que as aves biológicas foram envenenadas (mortas) pelo Governo (há quem diga que o Governo criou um vírus para as exterminar).
Posteriormente, essas aves foram substituídas por drones.
O objetivo destas aves mecanizadas é espiar os cidadãos.
O movimento também defende que, como a bateria dos drones não é eterna, essa é a razão para as aves se equilibrarem sobre as linhas elétricas: essa é a altura em que os drones estão a recarregar as baterias.
Agora, Peter McIndoe vem dizer que é tudo mentira.
Peter afirmou que tudo começou numa brincadeira: ao falar com amigos, inventou que os pássaros não eram reais, criou uma história falsa sobre o presidente John F. Kennedy ser contra o extermínio das aves, mas que a CIA era o principal mentor desta estratégia, e por isso JFK foi morto. Depois disso, os pássaros foram todos substituídos por drones. A “história alternativa” acaba com o facto do Presidente Trump querer construir um muro/barreira na fronteira com o México, para não deixar entrar os pássaros vindos do México.
O objetivo de Peter era satirizar as crenças com que tinha crescido: até aos 18 anos, Peter viveu numa comunidade fechada e muito religiosa do Arkansas. Ele estudava em casa. E o que os pais ensinavam a ele e aos irmãos era que a Teoria da Evolução era uma conspiração criada pelos Democratas, que Obama era o Anti-Cristo, etc. Assim, decidiu satirizar essas crenças, com conspirações ainda mais absurdas.
Ao dizer essas parvoíces, nunca pensou que alguém fosse acreditar. Mas um amigo estava a filmar com um telemóvel, colocou nas redes sociais, e a ideia pegou.
Depois disso, Peter aproveitou o embalo para angariar seguidores: criou documentos falsos da CIA, contratou um ator para fazer de antigo agente da CIA (podem ver no vídeo abaixo), distribuiu panfletos na rua, organizou manifestações, criou vídeos a explicar como funcionam os drones, etc.
Com isto, no site oficial, até conseguiu fazer dinheiro com a venda de peças de roupa e outros acessórios.
Alguma comunicação social chegou a reportar este movimento como sendo real (as pessoas acreditarem mesmo que as aves biológicas não existem).
No entanto, em Dezembro passado, numa entrevista ao jornal The New York Times, Peter explicou que tudo isto era uma brincadeira. O objetivo dele não era enganar as pessoas, mas sim mostrar que é extremamente fácil cair na desinformação (mentiras) que se lê na internet.
Para Peter, isto é basicamente uma experiência social, que mostra a facilidade com que é possível criar-se uma ideia absurda e depois torná-la viral na internet.
Claire Chronis, outra organizadora das manifestações, com 22 anos, disse que o objetivo deste movimento foi combater a estupidez/absurdo/loucura, com mais estupidez/absurdo/loucura (lunacy).
Recentemente, no Texas, existiram manifestações contra o aborto, com cartazes com imagens bastante gráficas e violentas. Essas manifestações tornaram-se bastante agressivas contra os que detém ideias contrárias.
Então este movimento decidiu também se manifestar no mesmo sítio, gritando que os Pássaros Não São Reais. Assim, rapidamente se organizaram na internet, e fizeram essa contra-manifestação com uma mensagem que nada tinha a ver.
Apareceram tantos jovens deste movimento, e começaram a gritar tão alto sobre os pássaros, que os ativistas anti-aborto deixaram de se ouvir e por isso desistiram.
Assim, o objetivo foi concretizado: diminuir a tensão pública e acabar com alguma violência no discurso público.
Com aos conhecimentos que aprendeu com esta situação, Peter McIndoe quer agora contribuir para exterminar algumas teorias da conspiração (como a QAnon, onde Peter foi buscar alguma informação) que se lêem online.
Fontes: The New York Times, Sábado.
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