Tiroteio no pensamento racional

Como certamente sabem, no passado dia 24 de Maio de 2022, infelizmente, existiu mais um tiroteio no Texas, que matou 19 crianças que estavam na escola.

Imediatamente, apareceram dezenas de comentadores televisivos a criticar a política de armas nos EUA e foram criados centenas de cartoons a criticar as políticas que permitem estes massacres: pessoalmente, gosto bastante deste, porque mostra que os políticos Republicanos têm as mãos cheias de sangue, já que em vez de agirem, preferem pedir rezas a algum deus ineficaz.

O grande argumento dos Republicanos é a “Segunda Emenda à Constituição“.
A questão, para mim, é que a Segunda Emenda fala de uma “milícia bem regulamentada”, que não tem nada a ver com a forma como as armas são compradas e usadas atualmente (pessoas individuais, não regulamentadas, que matam inocentes em supermercados, escolas ou igrejas).
E, tal como disse Ricardo Araújo Pereira, é preciso compreender o contexto da altura (em 1791): eles estavam a pensar em mosquetes, e não em armas automáticas ou semi-automáticas.

A verdade é que com estas leis, os EUA têm muitos mais massacres (incluindo de crianças) do que os outros países que também tinham uma cultura de armas (como o Reino Unido, o Canadá, a Austrália, a Noruega, etc).
Esses países mudaram as suas leis e os massacres praticamente desapareceram, como nos diz a CNN:

Tiroteios em escolas, de 2009 a 2018.
Crédito: CNN

Porque trouxe este assunto aqui?
Por causa do “atentado” ao pensamento crítico… devido aos argumentos que desafiam a racionalidade.

O grande lobby pelas armas é exercido pela NRA – National Rifle Association.
Ora, a NRA fez uma conferência no Texas, somente 3 dias após o massacre na escola.
Um dos oradores foi Donald Trump.
O que todos os oradores, incluindo Trump, defenderam é que a forma de parar os massacres é dar mais armas às pessoas (aos professores, aos jovens, às pessoas da limpeza, etc… a toda a gente). Só assim, dizem eles, é que as pessoas se podem sentir seguras.
Não vou fazer comentários sobre a imbecilidade da medida…

Também não vou falar do constante ignorar de dois fatores bastante importantes:
– género: os atentados são sempre cometidos por pessoas do sexo masculino.
– idade: porque existem leis a proibir o consumo de álcool a pessoas abaixo de 21 anos, mas com 18 anos (e em alguns estados até menos) já se pode comprar as armas que se quiser? As pessoas têm maturidade para armas, mas não para copos de cerveja?

O que quero realçar é que, incrivelmente, durante o discurso de Trump, as armas foram banidas do recinto.
A NRA baniu as armas na sua própria convenção, porque assim foi exigido pelos serviços secretos americanos, por uma questão de segurança.

Se o argumento da NRA fosse minimamente racional, então a sua convenção teria todos os membros a todo o tempo com armas.
No entanto, se por uma questão de segurança é melhor não haver armas durante o discurso de Trump, então é porque assumem que a existência de armas coloca em causa a segurança de Trump (e de quem o ouvia).

Assim, esta regra dentro da convenção da NRA foi um “tiro no pé” em qualquer racionalidade que pudesse existir na argumentação da NRA.

Crédito: NPR

1 comentário

    • Jonathan Malavolta on 01/06/2022 at 20:38
    • Responder

    Sem contar que o atentado ocorreu em uma escola, local de estudo, de ciência, e portanto onde se aprende raciocínio lógico e crítico – ou se deveria aprender.

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