Boia do Pensamento Crítico

O website Thinking is Power (Twitter, Facebook) tem vários artigos em que desenvolve o pensamento crítico das pessoas, aumentando-lhes a literacia científica.

A professora Melanie Trecek-King escreveu um texto, aqui, em que dá ferramentas para a pessoa desenvolver literacia científica e pensamento crítico.

O primeiro passo é a pessoa saber identificar as alegações que são feitas (por amigos, na televisão, nos jornais, nos websites, nas redes sociais, etc).

O texto apresenta uma boia de salvação (FLOATER) com aspetos que devem ser aplicados para a devida avaliação das alegações: FLOATER – Falsifiability, Logic, Objectivity, Alternative explanations, Tentative, Evidence, Replicability – Falsificabilidade, Lógica, Objetividade, explicações Alternativas, Tentativa/Provisória, Evidências, Replicabilidade.

Falsificabilidade: as alegações têm que ser passíveis de provar que são falsas. Ou seja, para qualquer alegação, devemos conseguir pensar em evidências que provem que ela é verdadeira ou falsa. Se não existirem evidências objetivas que possam provar que ela é falsa, então não é uma alegação científica, racional. Se não existir uma forma de testar a alegação, então ela não é aceitável.
Por exemplo, alegações subjetivas (baseadas nas nossas opiniões, valores, sentimentos, etc) não são científicas.
Outro exemplo, alegações sobrenaturais (que invoquem deuses, espíritos, poderes mágicos, energias desconhecidas, etc) não são científicas. Daí que a pseudo-medicina (reiki, homeopatia, feng shui, etc) não é aceitável, porque baseia-se em energias que não são detetáveis nem correspondem a qualquer energia/conhecimento conhecido. Todos os testes feitos a estas técnicas, deram resultados negativos. Assim, elas baseiam-se em crenças subjetivas.
Alegações vagas (como na astrologia) aplicam-se a tudo e assim não dizem nada em concreto. Ao serem ambíguas, não se conseguem testar. Não é possível testar uma hipótese contrária. Estão sempre abertas a interpretações subjetivas.
Explicações ad hoc também não são testáveis, já que se baseiam na racionalização e não no raciocínio. Basicamente, no final, após vermos os resultados, colocamos “desculpas”/razões para o porquê de não ter dado o resultado que queríamos. Por exemplo, um psíquico pode culpar o cliente por não acreditar no resultado e diz que foi por isso que o resultado não foi o esperado. As teorias da conspiração vivem de explicações ad hoc, em que o resultado não-esperado é interpretado como positivo (apesar de ser negativo).

Lógica: os argumentos das alegações devem baseados na lógica, e não em falácias.

Objetividade: as evidências para as alegações devem ser avaliadas de forma honesta, sem incluirmos uma emoção subjetiva, sem qualquer viés (de confirmação) e sem nos iludirmos a nós próprios (o que é extremamente difícil, já que muitas vezes não temos consciência da ilusão).
Devemos separar as pessoas das alegações, para assim não ficarmos emocionalmente investidos nelas (de forma positiva ou negativa), já que seremos parte interessada (devido a nós próprios ou aos nossos amigos/inimigos).

Explicações Alternativas: devem ser consideradas outras explicações para a observação/resultado da experiência. Depois, devemos pesar as diferentes explicações, dependendo da probabilidade de acontecerem e da Navalha de Occam (qual é a explicação mais simples, que necessita de menos variáveis e hipóteses).
Por exemplo, se eu acordar e vir um copo partido no chão, devo imediatamente pensar que foi um ladrão, um fantasma ou o meu gato? Se vou a conduzir o meu carro e ele pára, devo pensar que fiquei sem gasolina, que terei um problema no motor ou que foram unicórnios invisíveis voadores que travaram o meu carro?
A hipótese do fantasma requer a existência de espíritos que se movem de forma irracional, e para os quais não existe qualquer prova objetiva. Se eu pesquisar pela casa toda e também não encontrar qualquer ladrão, então o mais provável é ter sido o gato.
O mesmo no carro: não existem evidências da existência de unicórnios invisíveis voadores que interagem com objetos materiais (carros). Se eu olhar para o ponteiro e vir que o carro ainda tem muita gasolina, então provavelmente existiu um problema no motor.

Tentativa de explicações: na presença de novas evidências, devo mudar as minhas conclusões. As conclusões científicas são sempre provisórias, mesmo que tenham 99,9999% de certeza. Porque estão sempre abertas a serem mudadas, em face de novas evidências objetivas que surjam.
Isso não quer dizer que as conclusões científicas não sejam de confiança. Mas quer dizer que os cientistas têm a mente aberta o suficiente para adicionarem continuamente novo conhecimento. Por exemplo, a Teoria da Relatividade de Einstein não veio acabar com a Teoria da Gravidade pensada por Newton, mas adicionou-lhe conhecimento para novas situações. Continuamos a não sobreviver/voar, caso nos atiremos do topo de um edifício de 20 andares (Newton continua a ter razão nesses casos).
Ou seja, mesmo explicações corretas, podem estar incompletas.

Evidências: as evidências devem ser objetivas, confiáveis/fidedignas (as fontes e a forma como as evidências foram conseguidas – testemunhos não são fidedignos), abrangentes (não devemos escolher umas evidências e não outras – cherry-picking – porque ficamos com uma visão distorcida do assunto), detalhadas e suficientes (ex: argumento de autoridade nunca é suficiente) para a alegação feita.

Replicabilidade: as evidências, os resultados, de uma alegação devem ser replicáveis/repetidos por muitas outras pessoas (e equipas de cientistas pelo mundo).
Não importa quem é a pessoa ou onde está no mundo, se chegou a uma determinada conclusão, então essa conclusão deve ser passível de confirmação por qualquer outra pessoa noutro qualquer lugar no mundo, caso utilize os mesmos métodos e siga os mesmos passos da experiência original.
Com isto, pretende-se salvaguardar as conclusões: para não cairmos em simples coincidências, erros involuntários ou fraudes.
Por exemplo, a fraude que deu origem ao movimento anti-vacinação, não teve esta característica.


Leiam o artigo original, no website Thinking is Power, aqui, com estas ferramentas, de modo a aumentarem o vosso pensamento crítico e literacia científica. Dessa forma, poderão conseguir tomar melhores decisões e não se deixarem enganar (por desinformação ou vigarices).

No seu livro Um Mundo Infestado de Demónios, Carl Sagan também apresenta o Baloney Detection Kit: um conjunto de ferramentas que nos ajuda a ter mais pensamento crítico e a não nos deixarmos enganar por falsidades.

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