Vários locais têm partilhado algumas citações que me parecem bastante interessantes em termos sociais.
Algumas citações foram agrupadas pelo médico inglês Ronald Gibson (1909-1989), numa conferência pública.
Existe um constante conflito de gerações, sendo que as gerações mais velhas vêem a cultura e a forma de pensar dos mais novos como proveniente de um mundo mais decadente, que certamente irá acabar rapidamente. O comportamento dos jovens, leva os mais velhos a perderem a esperança no futuro.
Isto sempre foi assim no passado, e, temo, sempre o será no futuro.
Basicamente, os mais velhos têm sempre a perceção que: “No meu tempo, antigamente, é que era bom.”
Assim, a responsabilidade dos males do mundo é atribuída às gerações mais novas, como se a geração mais velha, que influenciou o mundo nas últimas décadas não tivesse qualquer responsabilidade no assunto.
Note-se que os mais novos, são na geração seguinte considerados os mais velhos, e por isso são eles a pensar o mesmo sobre os seus filhos.
Esta perceção pessimista sobre a cultura dos mais novos é constante.
O ciclo parece intemporal. É sempre a mesma coisa. São perceções civilizacionais, em que supostos sinais sociais evidenciam o fim-do-mundo.
Uma tábua de argila do ano 2800 a.C. (tem quase 5000 anos), da civilização Assíria ou Akkadian, que está preservada em Constantinopla (existem dúvidas sobre a data, mas é uma tábua muito antiga), diz:
“Our earth is degenerate in these latter days; there are signs that the world is speedily coming to an end; bribery and corruption are common; children no longer obey their parents; every man wants to write a book, and the end of the world is evidently approaching.”
“Nos últimos dias, o nosso mundo tem degenerado. Existem sinais de que o mundo está rapidamente a chegar ao fim. Os subornos e a corrupção estão em todo o lado. As crianças não obedecem mais aos pais. Todas as pessoas querem ser escritores/artistas. Obviamente, o fim-do-mundo está a chegar.”
Há também quem diga que uma frase semelhante (será a mesma?) está escrita num vaso de argila, com cerca de 4000 anos de idade, descoberto nas ruínas da Babilónia:
“Esta juventude está completamente estragada. Os jovens são maus e preguiçosos. Eles nunca serão como a juventude de antigamente. A juventude de hoje não será capaz de manter a nossa cultura”.
Por volta do ano 2.000 a.C. (também há cerca de 4000 anos), um sacerdote disse: “O nosso mundo atingiu o seu ponto crítico. Os filhos não ouvem mais os pais. O fim do mundo não está muito longe”.
No ano 720 a.C., o poeta Hesíodo proferiu: “Não tenho mais nenhuma esperança no futuro do nosso país se a juventude de hoje tomar o poder amanhã, porque esta juventude é insuportável, desenfreada e simplesmente horrível”.
Já o famoso Sócrates, por volta do ano 430 a.C., disse: “The children now love luxury; they have bad manners, contempt for authority; they show disrespect for elders and love chatter in place of exercise. Children are now tyrants, not the servants of their households. They no longer rise when elders enter the room. They contradict their parents, chatter before company, gobble up dainties at the table, cross their legs, and tyrannize their teachers.”
“A nossa juventude adora o luxo, é mal-educada, despreza a autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Os nossos filhos de hoje são verdadeiros tiranos, em vez de servidores na sua casa. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra e ainda respondem aos pais. Eles preferem conversar em vez de fazerem exercício. Eles devoram guloseimas à mesa. Eles aterrorizam os professores. Eles são simplesmente maus.”
Por volta do ano 350 a.C., Aristóteles escreveu: “[Young people] are high-minded because they have not yet been humbled by life, nor have they experienced the force of circumstances… They think they know everything, and are always quite sure about it.”
“Atualmente, os jovens acham-se sempre cheios de razão, porque ainda não foram chamados à humildade pela vida. Eles ainda não têm a experiência de vida. Eles pensam que sabem sempre tudo. E, pior, têm certezas sobre isso.”
O filósofo romano Cícero, por volta do ano 50 a.C., disse: “Os tempos estão péssimos. Os filhos já não obedecem aos pais. E toda a gente quer ser (pensa que é) poeta”.
O poeta lírico Horácio, por volta do ano 30 (depois de Cristo), disse: “The beardless youth… does not foresee what is useful, squandering his money… we shall give the world a progeny yet more corrupt.”
“Os jovens de hoje nem sequer deixam crescer a barba. Isto não deixa antever nada de bom. Eles nem sequer compreendem o que é útil. Provavelmente vão gastar o dinheiro inutilmente. Os jovens deixarão descendência ainda mais corrupta.”
O monge Japonês Tsurezuregusa, por volta do ano 1330, escreveu:
“Modern fashions seem to keep on growing more and more debased… The ordinary spoken language has also steadily coarsened. People used to say ‘raise the carriage shafts’ or ‘trim the lamp wick,’ but people today say ‘raise it’ or ‘trim it.’ When they should say, ‘Let the men of the palace staff stand forth!’ they say, ‘Torches! Let’s have some light!’”
“As roupas (moda) modernas são cada vez mais decadentes. A linguagem tornou-se gradualmente mais grosseira. Algumas expressões parecem resumos do que eram as frases tradicionais.”
Em 1624, Thomas Barnes escreveu: “Youth were never more sawcie, yea never more savagely saucie… the ancient are scorned, the honourable are contemned, the magistrate is not dreaded.”
“A juventude está cada vez mais refilona. Eles não respeitam nada. Eles gozam com os mais idosos. Ignoram as pessoas honradas. E não temem/respeitam as pessoas no poder”.
Em 1771, em Paris, uma revista publicou: “Whither are the manly vigour and athletic appearance of our forefathers flown? Can these be their legitimate heirs? Surely, no; a race of effeminate, self-admiring, emaciated fribbles can never have descended in a direct line from the heroes of Potiers and Agincourt…”
“Onde estão os corpos atléticos e cheios de vigor dos nossos antepassados homens? Atualmente, os seus herdeiros são muito efeminados. Eles passam a vida a olhar-se ao espelho. Estes jovens de hoje muito preocupados com futilidades, não são certamente descendentes dos grandes heróis do passado.”
Em 1790, o reverendo Enos Hitchcock escreveu no seu livro de memórias: “The free access which many young people have to romances, novels, and plays has poisoned the mind and corrupted the morals of many a promising youth…”
“A juventude prometia bastante. Mas o livro acesso a romances, livros e peças de teatro, fez com que a sua mente ficasse corrompida. A sua moral/ética degradou-se.”
Em 1843, o deputado inglês Anthony Ashley Cooper afirmou: “…a fearful multitude of untutored savages… [boys] with dogs at their heels and other evidence of dissolute habits…[girls who] drive coal-carts, ride astride upon horses, drink, swear, fight, smoke, whistle, and care for nobody… the morals of children are tenfold worse than formerly.”
“Os jovens de hoje são selvagens a quem não se consegue ensinar nada. Como é possível que alguns deles passeiem com cães ao seu lado? As tradições estão a dissolver-se. O mais incrível ainda é existirem raparigas/meninas a conduzir carros de carvão nas minas, cavalgarem em cima de cavalos, beberem álcool, dizerem asneiras, lutarem entre si, fumarem, assobiarem, etc. Elas não querem saber de ninguém. A ética/moral da juventude de hoje está muito pior do que antigamente.”
A prestigiada revista Scientific American chegou a publicar, em 1858: “A pernicious excitement to learn and play chess has spread all over the country, and numerous clubs for practicing this game have been formed in cities and villages…chess is a mere amusement of a very inferior character, which robs the mind of valuable time that might be devoted to nobler acquirements… they require out-door exercises–not this sort of mental gladiatorship.”
“Entre os jovens, existe um entusiasmo em aprenderem a jogar xadrez. Mas o xadrez é um jogo típico de mentes inferiores. Ele retira tempo a atividades mais nobres. Não há razão para essas pessoas preferirem lutas mentais, em vez de exercícios físicos no exterior/rua.”
Em 1904, o psicólogo Granville Stanley Hall escreveu: “Never has youth been exposed to such dangers of both perversion and arrest as in our own land and day. Increasing urban life with its temptations, prematurities, sedentary occupations, and passive stimuli just when an active life is most needed, early emancipation and a lessening sense for both duty and discipline…”
“Atualmente, a juventude está muito mais exposta aos perigos da perversão, do que anteriormente. As tentações da vida urbana, as ocupações sedentárias e os estímulos passivos, levam a que os jovens não tenham qualquer noção de dever ou disciplina.”
Em 1925, o jornal Hull Daily Mail escreveu: “We defy anyone who goes about with his eyes open to deny that there is, as never before, an attitude on the part of young folk which is best described as grossly thoughtless, rude, and utterly selfish.”
“Os jovens atuais são grosseiros, rudes, egoístas, e não pensam nos assuntos.”
Em 1936, o jornal Portsmouth Evening News escreveu: “Probably there is no period in history in which young people have given such emphatic utterance to a tendency to reject that which is old and to wish for that which is new.”
“Provavelmente, não existiu mais nenhum período na História, em que os jovens rejeitassem tanto o que é antigo e que desejassem tanto as novidades.”
Em 1938, o jornal Kirkintilloch Herald escreveu: “Cinemas and motor cars were blamed for a flagging interest among young people in present-day politics by ex-Provost JK Rutherford… [He] said he had been told by people in different political parties that it was almost impossible to get an audience for political meetings. There were, of course, many distractions such as the cinema…”
“Os jovens de hoje não se interessam por política. Só querem saber de carros e de filmes nos cinemas.”
Em 1951, o jornal Falkirk Herald escreveu: “Many [young people] were so pampered nowadays that they had forgotten that there was such a thing as walking, and they made automatically for the buses… unless they did something, the future for walking was very poor indeed.”
“Os jovens de hoje são tão mimados, que já nem querem andar a pé: vão de autocarro/ónibus. O futuro de andar a pé está perdido.”
Em 1984, o famoso jornal Wall Street Journal publicou: “A few [35-year-old friends] just now are leaving their parents’ nest. Many friends are getting married or having a baby for the first time. They aren’t switching occupations, because they have finally landed a ‘meaningful’ career – perhaps after a decade of hopscotching jobs in search of an identity. They’re doing the kinds of things our society used to expect from 25-year-olds.”
“Os jovens de hoje só saem de casa dos pais aos 35 anos. Só por volta dessa idade é que se casam e têm filhos pela primeira vez. Eles não têm qualquer carreira profissional; simplesmente, saltam entre empregos. Eles estão a fazer o que deveriam ter feito aos 25 anos.”
Em 1993, o famoso jornal Washington Post publicou: “What really distinguishes this generation from those before it is that it’s the first generation in American history to live so well and complain so bitterly about it.”
“O que distingue esta geração das anteriores é que esta é a primeira geração na história dos EUA a viver tão bem e a queixar-se tanto sobre isso.”
No ano 2001, a famosa revista Time publicou: “They have trouble making decisions. They would rather hike in the Himalayas than climb a corporate ladder. They have few heroes, no anthems, no style to call their own. They crave entertainment, but their attention span is as short as one zap of a TV dial.”
“Os jovens não conseguem tomar decisões. Eles preferem subir aos Himalaias do que subir na carreira empresarial. Eles têm poucos heróis, não seguem nenhum lema, e não têm estilo nas roupas que vestem. Só querem entretenimento. Mas a sua capacidade de atenção/concentração é incrivelmente pequena.”
Podem ver mais exemplos, aqui.
Algumas destas citações estão mal atribuídas, sobretudo aquelas mais antigas (antes de Cristo).
Por exemplo, a citação atribuída a Sócrates é, na verdade, um resumo das queixas que os Gregos antigos tinham sobre a juventude. Este resumo foi escrito por Kenneth John Freeman, em 1907.
No entanto, o sintoma geral é correto.
Em todas as eras existiram queixas sobre a juventude. As queixas são sempre similares, mesmo com milénios de distância.
Porventura o mais interessante é que os causadores das queixas (jovens) são sempre os que, décadas mais tarde, se tornam queixosos.
Ou seja, não existe consciência nas pessoas mais velhas, que o mesmo foi dito delas quando elas eram mais jovens.
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