Enormes Folhas Cósmicas

Um amigo enviou-me esta história muito interessante exposta no Reddit, aqui.
O objetivo era que eu avaliasse a potencial veracidade de algumas informações.


O autor da história diz que é astrónomo da NASA.

Ele conta que em 1993, o Telescópio Hubble viu uma estrela desaparecer. Não é explodir como supernova nem morrer gradualmente como uma anã branca. Mas simplesmente, no espaço de alguns minutos, ela deixou de ser visível.
Na altura, os astrónomos da NASA pensaram que tinha sido uma nuvem de poeira interestelar a passar na nossa linha de visão e eclipsou a estrela.
No entanto, em 1995 e em 2002, duas outras estrelas desapareceram. E em 2007, mais duas estrelas desapareceram de forma semelhante e repentinamente.

Entretanto, em segredo, nas últimas semanas, com o novo Telescópio Espacial James Webb, os astrónomos olharam para os locais donde desapareceram as estrelas.
Com detectores gravitacionais, os astrónomos perceberam que os locais ainda tinham a massa das estrelas, apesar delas não serem visíveis.
Observações mais sensíveis mostraram algo como uma “corda”, um fio, uma teia através do espaço, a ligar os locais donde as estrelas desapareceram.

Os espetrómetros mostraram que os locais tinham composição química: estavam presentes os elementos Hidrogénio, Carbono, Nitrogénio/Azoto, Oxigénio e Magnésio, e vários outros elementos não-identificáveis/conhecidos.

A especulação considerada mais provável na NASA era que uma civilização extraterrestre avançada tinha construído Esferas de Dyson ao redor dessas estrelas, de modo a conseguirem ter energia livre para a sua civilização.

Entretanto, foram detectadas enormes explosões de bombas nucleares e de anti-matéria num dos locais onde devia estar uma estrela que desapareceu.
A “explicação” era simples: a civilização que vivia num planeta ao redor dessa estrela não queria uma Esfera de Dyson, e por isso estava a ripostar.
No entanto, após uma semana, as explosões terminaram. Os invasores eram demasiado poderosos!

Os astrónomos aperfeiçoaram as câmeras do Telescópio e viram uma grande sombra sobre o sistema estelar e planetário: eram folhas gigantescas que bloqueavam a luz solar.

Assim, não eram mega-estruturas feitas por alienígenas avançados, mas sim uma enorme planta do tamanho de vários anos-luz, que precisava da luz de estrelas para sobreviver.
Os filamentos que ligavam as diferentes estrelas desaparecidas eram os ramos da planta.

Obviamente, qualquer vida que vivesse nesses sistemas planetários, iria congelar, já que perderia a luz da estrela.

As últimas observações mostravam que a planta tinha um dos ramos a dirigir-se para o nosso Sol.
Os dados mais recentes mostram que as suas folhas irão cobrir o Sol dentro de 27 anos.
Assim, a vida Humana acabará no planeta Terra por volta do ano 2050.

Esta é a galáxia NGC 3801. Várias explosões de supernovas e os jatos de um monstruoso buraco negro central estão a dispersar o gás que forma estrelas como se fossem um enorme soprador cósmico de folhas.
Crédito: NASA / JPL-Caltech / SDSS / NRAO / ASIAA

A história é incrivelmente interessante. Podem lê-la completamente, aqui.

No entanto, vi várias coisas que me despertaram imediatamente o sentido crítico.

O autor, Phonecloth, diz que é um astrónomo da NASA.
Ora, qualquer pessoa na internet pode mentir, dizendo ser astrónomo da NASA, viajante no tempo ou Luke Skywalker.
Ele não apresentou qualquer evidência para isso.

Inicialmente, ele diz que os astrónomos da NASA pensaram que tinha sido uma nuvem de poeira interestelar a passar na nossa linha de visão e eclipsou a estrela.
No entanto, só uma estrela foi eclipsada?
Se a nuvem de poeira estava mais próxima de nós (para poder ser detectada) e estava numa região do céu, então mais estrelas seriam eclipsadas.

Mais à frente, ele diz que uma das estrelas que desapareceu era um sistema binário (duas estrelas).
Ele diz que o que se esperava era que ambas as estrelas desaparecessem simultaneamente (se fosse uma nuvem de poeira), mas o que aconteceu foi terem desaparecido gradualmente (durante alguns minutos) separadamente: uma desapareceu primeiro, e depois, passadas 8 horas, desapareceu a outra .
No entanto, parece-me que uma nuvem de poeira faria o mesmo: passaria primeiro pela frente de uma e depois continuava a espalhar-se para a frente da outra.

Ele afirma que a única conclusão a tirar era de que uma influência desconhecida estava a destruir as estrelas.
Ora, um cientista nunca diria que a única conclusão a tirar é uma alegação extraordinária sem qualquer evidência.

Depois, ele conta que foi possível detectar a massa das estrelas com detectores gravitacionais. Mas eles servem para detectar as ondas gravitacionais provocadas por eventos monstruosos. Não servem para apontar para estrelas e medir a sua massa.

Seguidamente, ele diz que observações mais sensíveis permitiram detectar filamentos a ligar as estrelas desaparecidas.
Mas poucas linhas atrás, ele tinha dito que o Telescópio James Webb era o mais sensível…

A conclusão dele é que isto não poderia ser um fenómeno natural.
Mas um cientista não exclui explicações naturais, sem evidências concretas.

E remata dizendo que esta é a prova de vida extraterrestre.
Mas até aqui, não existia qualquer evidência a suportar essa alegação extraordinária.

Depois, ele pegou nestas especulações e assumiu como factos, para especular ainda mais com base nesses supostos factos.
Por exemplo, quando ele diz que os filamentos mostram uma ligação dos sistemas de Dyson.

Seguidamente, fala de explosões de bombas nucleares e de anti-matéria
Ou seja, ele fala de tecnologia humana e não extraterrestre. São armas explosivas humanas.

E interpretou isso como sendo uma civilização que lá vivia a ripostar.
Mais uma vez, baseou-se na história humana e construiu um cenário do género de Star Wars, com explosões no espaço.

A “explicação” que ele dá, é somente uma falácia: uma explicação por cenário, que já tenho apontado aqui em vários posts.
É todo um cenário criado na mente da pessoa, sem quaisquer evidências.

Quando as supostas bombas terminam, ele diz que deve ter sido por acabarem as munições.
Mais uma vez, ele está a falar das guerras dos Humanos, e não de supostos extraterrestres.

Depois, ele diz que os astrónomos aperfeiçoaram as câmeras do Telescópio.
Mas então as câmeras não estavam previamente aperfeiçoadas, de propósito?

Supostamente, a vida que vivesse nos planetas em que a estrela era eclipsada, morreria.
Mas existe muita vida na Terra que não necessita da luz solar para sobreviver, porque vive em cavernas profundas ou no fundo dos mares.

Por fim, só faltava a parte de vir na direção do nosso Sol, como sempre, porque supostamente nós é que somos mais importantes e precisamos ter medo.

Curiosamente, se fosse uma planta inteligente, não viria para o Sol.
Porque o Sol é uma estrela relativamente pequena e com pouca massa.
Na Galáxia, existem muitas estrelas maiores e mais maciças que o Sol. Será a essas estrelas que qualquer planta ou civilização que precise de energia estelar se deverá dirigir.

Crédito: Avenue, reference.

Apesar da minha análise crítica, parece-me que a história é excelente!

É uma excelente história de ficção científica, que aproveita o momento do Telescópio James Webb.

No final, quando ele diz que temos 27 anos para nos safar-nos, pensei imediatamente que era tempo a mais: em menos tempo, Bruce Willis e Will Smith salvam-nos! 😀

Quando comecei a ler a história, inicialmente até pensei que as estrelas estavam a evoluir rapidamente para anãs negras. Mas evoluíam tão rapidamente (para os padrões humanos), que estaríamos na presença de processos naturais ainda desconhecidos.
Supostamente, as anãs negras são a fase final da evolução de estrelas como o Sol, após a fase de anã branca. São processos que demoram dezenas de milhares de milhões (bilhões, no Brasil) de anos, e não somente alguns minutos.
No entanto, esta parecia-me a potencial explicação mais simples e natural (Navalha de Ockham). E não imediatamente especular sobre alienígenas.

No entanto, adorei o facto de se especular sobre gigantescas plantas que vagueiam pelo cosmos.
Parece-me que como ficção científica, é excelente. Eu comprava o livro! 🙂

Tal como comprei (e li!), a história The Black Cloud, escrita pelo astrofísico Fred Hoyle, que conta a história de uma enorme nuvem de gás inteligente que entra no sistema solar para se servir da luz solar (e sem querer, bloqueia a luz do Sol sobre o planeta Terra).
Assim, esta história no Reddit, tem semelhanças com a história de Fred Hoyle.



Porque digo que é uma simples história/conto?

Porque ela foi publicada no Reddit, na secção No Sleep, que é um local para os utilizadores partilharem experiências/sonhos aterradores.
As regras dizem mesmo: têm que ser histórias de horror, originais e plausíveis (baseadas em elementos reais… como o Telescópio James Webb).

Assim, nesta secção, estão histórias de horror, tortura, assassinatos macabros, demónios, zombies, viagens no tempo que correm horrivelmente mal, mensagens enviadas através de diferentes universos, hotéis assombrados, fantasmas, rituais satânicos, etc, etc, etc.

Existe uma outra história, em que o autor se apresenta como engenheiro na NASA, e em que conta que o Telescópio Espacial James Webb tirou fotografias a um planeta idêntico à Terra: Terra – planeta B.
Existia lá uma civilização inteligente, ligeiramente mais avançada que a nossa. O planeta tinha imensos satélites ao seu redor. Curiosamente, um desses satélites é um Telescópio parecido com o James Webb e estava apontado na nossa direção.
Infelizmente, o planeta estava destruído. Alguma coisa correu mal, e parte do planeta foi obliterado.
No entanto, várias naves cheias de seres tinham se salvado. Elas estão no espaço, próximas do planeta.
E essas naves estão a vir na nossa direção…
Podem ler toda a história, aqui.

Realço uma outra história de horror: 8 astronautas voluntariam-se para explorar um universo paralelo, e tudo corre mal…
Esta história fez-me lembrar o filme Event Horizon.
Curiosamente, a nave que atravessa universos chama-se Heart of Gold, que é o nome da nave mais famosa nos livros The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy.
Leiam a história, aqui.

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