Tranças no cabelo

Ontem, aqui, falei nas redes sociais e da ignorância que se vê por lá em relação à ciência.

Por vezes, pode parecer que a única coisa que se vê mal é em relação à ciência.
Mas não. Infelizmente, a ignorância é transversal a todos os assuntos.

Por exemplo, durante o Verão passado, lembro-me de uma polémica verdadeiramente estúpida que aconteceu em Portugal.
Como não estava em Portugal, não sei muito bem como isto começou ou acabou. Mas do que fui vendo nas redes sociais, fiquei perplexo com a falta de cultura e com o preconceito das pessoas.

O que se passou é simples: a atriz Rita Pereira resolveu mudar de penteado. Sim, foi só isso.
O penteado escolhido por ela, foi um penteado de tranças. E adicionou uma música.

O que se passou nas redes sociais foi de uma estupidez tremenda, afirmando que ela era branca.
O argumento principal foi de que, sendo ela branca, não pode usar tranças, porque isso é apropriação cultural.

Podem ser utilizados vários argumentos, de diferentes índoles, contra isto.
Podem até ser dados milhares de exemplos de temas onde se pode discutir a apropriação cultural.
Assim como podem ser dados milhões de exemplos atuais de mistura do conhecimento, da cultura, e das civilizações (Globalização).

Vou-me cingir a um exemplo de música: então os portugueses não podem ouvir Rock & Roll, porque este género de música foi baseado em música Country e Blues, que são típicas do sul dos EUA, com raízes africanas (Blues) e nativo-americanas (Country)?

A verdade é que esta polémica parva fez-me lembrar um célebre anúncio publicitário do início da década de 1980:

Pelos vistos, muita gente nas redes sociais quer voltar a estes tempos de defesa “do que é natural”.
Foi com base neste argumento que durante décadas, nos EUA, se defendeu a segregação racial…

Por fim, deixo aqui a imagem de um homem branco com tranças.
Não sei se as mesmas pessoas nas redes sociais querem criar uma petição para cancelarem os filmes Piratas das Caraíbas

Crédito: Walt Disney Pictures

P.S.: entretanto, informaram-me que este tema foi discutido no Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer, aqui. Vale a pena ver, entre os 31 e os 39 minutos.

1 comentário

    • Jonathan Malavolta on 28/10/2022 at 11:52
    • Responder

    Judy Garland cometeu um crime hediondo então, quando ainda era adolescente e representou a Dorothy no Filme O Mágico de Oz (título dado no Brasil), na visão dos atuais “debatedores” das redes sociais. Ela usou-se de pelo menos duas mechas de cabelo trançadas (nas laterais), isso lá pelo final da década de 1930, início da década de 1940.

    Sobre sua atuação no filme, ela ficou bastante conhecida na época por cantar Over the Rainbow.

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