Desafios mortais

Crédito: Olivier Bergeron, Unsplash.

Como praticamente tudo na vida, também as redes sociais podem ser utilizadas para o bem e para o mal. Podem ser utilizadas para aprender com outros ou para destruir outros. Podem ser utilizadas em busca de conhecimento ou em busca de descarregar frustrações.

Quando as crianças – que ainda não se desenvolveram totalmente em termos cerebrais – utilizam estas plataformas de forma livre, a sua má utilização pode ter efeitos dramáticos.

Isto é, infelizmente, recorrente no TikTok, que é muito utilizada pela geração mais jovem.
Quase todos os meses vêem-se novos “desafios” absurdos, que periodicamente levam à morte de crianças e adolescentes.

No primeiro semestre deste ano, fez notícia de primeira página em vários jornais ingleses o caso de Archie Battersbee. Ele tinha somente 12 anos, e resolveu participar no desafio Blackout Challenge (Desafio do Apagão), do TikTok. Apertou o pescoço e susteve a respiração até desmaiar. Devido a isso, entrou em coma, até ser decretada a morte cerebral.

Devido a este “desafio” (ponho entre aspas, porque isto não é um desafio, mas sim a promoção do suicídio), outras 5 crianças nos EUA, um rapaz na Austrália e uma rapariga em Itália faleceram. Todas estas crianças (menores de idade) sofreram hipoxia cerebral (diminuição da concentração de oxigénio) e morreram.
Estes são só exemplos que saíram na comunicação social ocidental. Muitas mais vítimas devem existir, sobretudo em países menos desenvolvidos.

Como referido, quase todos os meses, os desafios vão mudando.
Ao longo dos últimos anos, têm existido dezenas de desafios.
Lembro-me, por exemplo, do balde de água gelada largado sobre uma pessoa.
Nos EUA, um desafio que foi muito falado, foi o Desafio Benadryl, que levava muitos jovens a tomarem a maior quantidade de comprimidos que conseguissem até caírem. Isto levou, obviamente, a muitas crianças serem hospitalizadas e até a morrerem de overdose.
Um outro desafio também famoso foi subir “Caixas de Leite“, o que levou obviamente a muitos acidentes e membros partidos.

Este mês, o novo desafio viral é dormir com a boca tapada com fita-cola. Mais uma estupidez que pode provocar a morte.
Neste caso, como noutros, também este desafio tem pseudociência associada: supostamente, dormir com a boca tapada ajuda a dormir melhor. É mentira.

Mais uma vez, repito, isto não são desafios: é a promoção de atitudes suicidas.
As crianças não podem ser responsabilizadas por participarem nestes desafios, mas os pais têm de supervisionar estas atividades dos filhos.
Obviamente, no caso de pessoas maiores de idade, que promovem estes disparates, elas são responsáveis indiretas da morte de crianças.
E depois há a responsabilidade (dos diretores) da própria rede social, que promove livremente desafios mortais.

Neste último caso, felizmente têm existido novidades: várias famílias estão a processar o TikTok, de modo a responsabilizar a rede social por divulgar/promover conteúdo mortal.
Outras redes sociais também estão a ser processadas devido à sua natureza viciante e incentivo ao suicídio.

Já existe nos EUA um Centro Jurídico para as Vítimas das Redes Sociais.
No Reino Unido, o conteúdo que promove o suicídio já é ilegal. Agora, 5 anos após a morte de Molly Russell, de 14 anos, o conteúdo que promove a auto-mutilação também vai ser criminalizado: aqueles que incentivarem outros a magoarem-se, vão ser acusados judicialmente de um crime.


Concluindo: é preciso muito cuidado com os chamados “Desafios”.

2 comentários

    • Jonathan Malavolta on 27/11/2022 at 07:14
    • Responder

    Aqui no Brasil, no final da primeira década e início da segunda (década de 10), se tornou muito popular o tal “desafio da baleia-azul”, que levou muita gente a machucar-se seriamente e até a falecer. Era muito popular principalmente no YouTube e no Facebook.

    1. Esqueci-me desse.

      Sim, também ouvi falar desse desafio na comunicação social, devido à “última tarefa” que era o suicídio 🙁

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