Alterações Climáticas racistas?

The Neighborhood (Boa Vizinhança) é uma série de comédia em que uma família de pessoas brancas se mudam para um bairro de pessoas negras.

Na série fala-se muito de racismo, nomeadamente da comunidade negra sobre os brancos “invasores da comunidade”.
Mas sobretudo, com humor, explica-se as diferenças sociais entre as duas comunidades (branca e negra).

A série gira muito em torno de Dave (branco, muito feliz, e que se tenta integrar na sua nova comunidade) e Calvin (vizinho de Dave, negro, resmungão, territorial, e que quer manter o the hood tradicional).
Infelizmente, a série não desenvolve a personagem de Marty Butler, filho mais novo de Calvin, que é um engenheiro de sucesso no JPL (trabalha com satélites) e tem vários passatempos de nerds.

No episódio 7 da temporada 1, Dave vai cortar o cabelo à barbearia do bairro (hood). Para sua surpresa, é muito bem-recebido. Quem fica irritado com isso é Calvin.

A certa altura, Calvin diz que o Aquecimento Global é um conceito racista. A justificação dele é: África sempre foi muito quente e ninguém quis saber, mas quando esteve quente em Boston (que tem muitas pessoas brancas), então apareceu logo o alarme pelo aquecimento global.
Dave concorda, dizendo que os países mais ricos são os mais poluidores, e 7 dos 10 países mais afetados pelo Aquecimento Global estão em África.

Obviamente, isto é uma série de comédia.
E claro que um fenómeno natural não escolhe cores de seres terrestres.

Além disso, existe alguma desinformação no texto.
Os maiores poluidores são: a China, EUA, Índia, Rússia, Japão, Alemanha, Irão, Coreia do Sul, Arábia Saudita, Indonésia, etc. Assim, não existe um fator determinante comum a esses países: não são todos ricos, nem desenvolvidos, nem sequer têm todos pessoas de uma só côr ou estrato social. Ou talvez exista esse padrão: os países do Hemisfério Norte são muito mais poluentes.

A verdade é que todos podemos apontar exemplos de países, como a Zâmbia, que poluem muito pouco, mas que sofrem imenso com os efeitos das alterações climáticas.

Este assunto tem sido discutido nos EUA, em termos sociais.
Nos EUA, são normalmente comunidades negras, comunidades indígenas, etc, que têm sofrido mais com os efeitos das alterações climáticas. Isto acontece porque existem menos recursos nessas comunidades, incluindo em termos de meios de assistência.
Há poucos anos, por exemplo, tanto Bush como Trump, foram duramente criticados por terem deixado milhares de pessoas sem eletricidade, sem água potável, com casas inundadas, etc, após a “fúria” da natureza. Essas pessoas sentem que isso não aconteceria em Nova Iorque, em Boston, etc: existiria socorro imediato.
Outros exemplos: Jackson, no Mississipi, New Orleans, no Louisiana, ou Houston, no Texas, são cidades com uma forte predominância de pessoas negras e que têm graves problemas com eventos extremos e com água potável. Flint, no Michigan, foi um caso paradigmático, já que durante 5 anos, a água supostamente potável estava contaminada com chumbo e várias doenças, sem as pessoas saberem, levando a muitas mortes que podiam ter sido ser evitadas.

Assim, não é o fenómeno em si que é racista, mas sim a justiça que é aplicada (ou não é aplicada) nos locais que sofrem com questões ambientais.
Ou seja, o racismo parece estar na assistência social (imediata e posterior) que é aplicada pelos Humanos, nos locais que sofrem com eventos extremos resultantes das alterações climáticas.

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