Sobrevivência do mais amigável

Crédito: CBS / 60 minutes

O consagrado programa 60 Minutes, da televisão CBS, apresentou recentemente um interessante segmento sobre o que fez os cães tornarem-se tão amigos dos Humanos.

Há cerca de 1000 milhões (um bilhão) de cães no planeta, que fazem parte da nossa vida: são animais de estimação.

A ligação entre a evolução canina e a evolução humana está na sobrevivência do mais afável (survival of the friendliest) – não é a sobrevivência do mais apto (survival of the fittest).
Os cães são o exemplo disso: os maiores, os mais fortes, os mais poderosos não estão a ganhar (senão continuaríamos a ter somente lobos selvagens muito maus), mas quem está a ganhar são os que se tornam mais amigos e dóceis para os Humanos.

Quando os Humanos ainda eram caçadores-recoletores, há centenas de milhares de anos atrás, algumas populações de lobos começaram a escolher os Humanos: sentiram-se atraídos pelos Humanos.
Esses lobos tiveram uma vantagem sobre outros lobos: enquanto os lobos selvagens passavam por períodos de fome, estes lobos que seguiam os Humanos tinham sempre comida disponível, deixada pelos Humanos como lixo.
Assim, ao longo de milhares de anos, estes lobos foram-se tornando mais afáveis para os Humanos, porque sabiam que eles lhes deixavam comida. Consequentemente, os lobos foram deixando de caçar, foram ficando cada vez menos agressivos, e foram confiando cada vez mais nos Humanos que lhes davam de comer.
Com o tempo, estes lobos foram sendo domesticados.

Curiosamente, isto também foi explicado de forma soberba, no 2º episódio do novo programa Cosmos, apresentado por Neil deGrasse Tyson.

As crias de cães seguem gestos e indicações vocais humanas. As crias de lobos, com a mesma idade, não seguem essas diretrizes humanas.
Assim, conclui-se que a evolução fez com que os cães já nasçam predispostos para entenderem os Humanos, para entenderem as nossas interações com eles.

As investigações no terreno também mostram que os Humanos podem passar 24 horas por dia, durante vários meses, com crias de lobo, que os lobos não querem estar com Humanos, preferindo estar com lobos.
Já os cães, sentem-se imediatamente atraídos por Humanos. E quando passam muito tempo com determinados humanos, depois preferem estar com eles.

As investigações em laboratório permitiram concluir que os cães têm genes específicos que os levam a terem comportamentos mais amistosos.
O genoma dos cães tem certas mutações que não existem nos lobos, como no cromossoma 6.
Estas mutações evoluíram gradualmente ao longo do tempo: no início, os lobos que faziam tocas perto de povoações humanas e que seguiam os Humanos, provavelmente tinham uma ou duas destas mutações. Esses lobos, devido à comida que recebiam dos Humanos, sobreviveram (e procriaram) com maior sucesso que os outros que fugiam e atacavam os Humanos. Assim, estes lobos mais sociáveis com os Humanos foram passando os seus genes (e as suas mutações) para as suas crias, que continuaram a ter este comportamento de maior sucesso. E assim sucessivamente, até chegarmos ao genoma atual.

Curiosamente, o “gene da amabilidade” também existe, em casos raros, nos Humanos. Esse “distúrbio” tem o nome de Síndrome de Williams.
Nos cães, isto é considerado positivo. Nos Humanos, isto é considerado uma doença crónica, já que causa vários problemas clínicos e incapacidades inteletuais: as pessoas com este síndrome são tão crédulas e simpáticas, que as outras pessoas aproveitam-se delas.

Há 300 mil anos, existiam mais de 5 espécies humanas.
Uma razão para o Homo sapiens ter tido sucesso sobre as outras, é que nós talvez fossemos a espécie mais afável, entre nós e com outros animais, como os lobos. Assim, poderemos ter sobrevivido porque somos mais amistosos: a estratégia evolutiva da sobrevivência dos mais afáveis.

Desta forma, a cooperação é extremamente importante na evolução das espécies (não é só a competitividade, como normalmente se pensa).


Duas outras situações que reti deste segmento:

– Anderson Cooper esteve pertíssimo de ser mordido por um lobo.

– Anderson Cooper perguntou à investigadora: o meu cão ama-me mesmo?
A cientista respondeu: o seu cão ama-o de verdade, porque tem a predisposição genética para o amar incondicionalmente.


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