A catástrofe radioativa de Chernobyl, na atual Ucrânia, aconteceu em 1986.
A explosão nuclear e posterior contaminação radioativa vitimaram dezenas de milhares de pessoas e certamente também milhões de animais, de pequeno e grande porte.
Desde o acidente, existe uma Zona de Exclusão: os Humanos não podem estar nessa zona, devido aos perigos da elevada radiação.
Nessa zona, a vida animal prosperou: o ecossistema regenerou-se e floresceu.
Entre 2017 e 2019, a Chernobyl Dog Research Initiative recolheu e estudou amostras de sangue de 302 cães selvagens, descendentes dos animais domésticos que ali permaneceram.
O estudo genético identificou populações caninas geneticamente diferentes (entre si e de outros cães de outros locais do mundo).
Assim, o acidente nuclear poderá ter levado a uma maior diversidade genética nos animais, que posteriormente prosperaram na “terra de ninguém”.
Já se sabia que a radiação ionizante aumenta as taxas de mutação genética em várias espécies de plantas e animais pequenos. Este estudo parece evidenciar mutações genéticas também em animais de grande porte, como os cães, que prosperam saudavelmente em ambientes muito radioativos a longo prazo.
No entanto, existem limitações neste estudo: não existem dados sobre a exposição à radiação de cada cão, e de como isso o afetou geneticamente. Não existem quaisquer dados sobre a intensidade radioativa recebida pelos cães e o tempo de exposição às doses de radiação. Também não existem dados sobre as alterações genéticas específicas nos cães: stress oxidativo, danos nas células, danos no ADN, etc.
Assim, não se pode dizer com certeza que a diversidade genética se deve diretamente à exposição à radiação.
Outros estudos na zona de Chernobyl mostram que, devido à ausência de Humanos, grandes mamíferos como alces, veados, corças e javalis prosperaram da mesma forma que noutros locais da região, sendo que a população de lobos aumentou em 7 vezes.
Os estudos mostram que animais que se encontram em partes menos radioativas da zona de exclusão, prosperaram. Mas animais que se encontram nas regiões mais radioativas apresentam várias lesões.
Como diz o investigador Ismael Galván, a diferenciação genética nos cães pode ser semelhante à estudada nas aves de Chernobyl: ao longo de várias gerações, os animais adaptaram-se a “níveis de radiação baixos, mas crónicos, ao longo do tempo, levando a uma adaptação fisiológica”.
Não se sabe se os cães vão absorvendo pequenas quantidade de radiação de forma contínua, mas que não os prejudicam substancialmente, e/ou se herdaram alterações adaptativas dos seus pais.
Faltam esses dados sobre a fisiologia dos cães.
Seja como fôr, o que é certo é que na ausência de pressão humana, a vida selvagem prospera… mesmo que exista radiação de baixo nível por todo o ambiente da região.
Assim, alguns anos após um desastre ambiental provocado pelos Humanos, existe uma explosão de vida (fauna e flora), já adaptada a esses baixos níveis de radiação.
Isto é obviamente muito positivo: mesmo que os insensatos Humanos provoquem um desastre global, a vida terá um pequeno percalço, mas depois prosperará… adaptada às novas condições ambientais.
Fontes: artigo científico, Nature, SIC Notícias, Globo.
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