Gostei bastante deste documentário apresentado por Fareed Zakaria, intitulado: Trump’s Conspiracy Theories.
Apesar de ter a ver com Trump, eu interpretei o documentário de uma forma mais alargada: sobre as conspirações em geral.
Existem pessoas com mentes que privilegiam interpretações conspiradoras do mundo. Trump é só um deles.
No programa, percebe-se como pessoas normais (algumas delas bastante inteligentes e com uma educação formal excelente) se deixam levar por tretas sem sentido e sem qualquer evidência: o poder da crença sobrepõe-se à racionalidade.
As pessoas querem acreditar que há algo mais, superior a elas. Acreditam que essa entidade controla as coisas. E, por fim, acreditam que as pessoas nessa entidade são as responsáveis pela sua vida não ser perfeita.
É assustador pensar que vivemos num mundo que não conseguimos controlar.
O conspiracionismo é atraente, porque nos dá um sentimento de pertença a um grupo. E nesse grupo, somos todos especiais, privilegiados, importantes, já que supostamente temos acesso a informações que mais ninguém tem. E essa informação dá-nos um aparente controlo, de que temos influência no mundo.
As conspirações mostram que o mundo está contra nós, mas que os males do mundo não são culpa nossa. Assim, as conspirações permitem uma desresponsabilização: exteriorizam a culpa – a culpa é sempre dos outros.
Alegadamente, o mal do mundo está em entidades ocultas. Não é culpa nossa.
Além disso, as conspirações dão apoio emocional: dão explicações simples, que nos confortam psicologicamente. Funcionam como um substituto da religião.
Várias ideias conspirativas são completamente idiotas e estúpidas, como o Pizzagate, mas mesmo assim milhares de pessoas acreditam nelas.
Em parte, isto deve-se ao algoritmo utilizado pelas redes sociais: as redes sociais promovem as ideias mais absurdas, mais chocantes.
Atualmente, basta alguém dizer algo completamente parvo e chocante numa rede social, que isso é amplificado até pela comunicação social tradicional: a ideia completamente parva torna-se viral, como se fosse verdade.
Como sempre, existem pessoas que se aproveitam da crendice e da ignorância da população para lucrarem com isso, para seu próprio proveito, sobretudo monetário.
Daí criarem campanhas de desinformação, com venda de produtos, em que os crentes caem.
Um dos movimentos conspirativos mais famosos nos EUA nos últimos anos é o QAnon: uma pessoa (alegadamente Q) diz algo na internet, e toda a gente vai atrás, acreditando ser realmente verdade.
A conclusão no final do programa demonstra que as conspirações são perigosas, divisionistas e destrutivas.
Podem ver todo o programa, na CNN Portugal, com legendas em português, aqui.
No seguimento, existe um outro documentário da CNN, intitulado: Assault on Democracy – The Roots of Trump’s Insurrection.
Todas as conspirações faladas no documentário anterior, que manipularam as pessoas crentes, alimentadas pelas mentiras de Trump, culminaram na invasão do Capitólio a 6 de Janeiro de 2021.
Desinformação + Mentiras + Manipulação = Violência irracional.
As pessoas têm uma fraca literacia funcional, aliada a um baixo pensamento crítico, que as leva a acreditarem em qualquer treta
Estas pessoas são, assim, candidatos ideais para serem manipuladas por vigaristas.
Estas pessoas basicamente encontraram um propósito na vida: tinham uma vida confusa e sem rumo, e Trump deu-lhes um propósito, de modo a elas se sentirem especiais, importantes.
Além disso, estas mesmas pessoas passam a encontrar alguém – governo, instituições – a quem culpar pela vida que têm. Não é culpa delas: a culpa é de outros. Mais uma vez, temos a desresponsabilização pessoal.
No programa, percebe-se que Trump, Alex Jones, etc, não querem saber dos seus apoiantes. Os apoiantes são meros peões.
Trump, Alex Jones, etc, usam e manipulam as pessoas, para os seus próprios propósitos financeiros e de poder.
Para Trump, Alex Jones, etc, não interessa que mentiras se contam. As mentiras nem precisam fazer sentido.
O único objetivo é fazer as pessoas acreditarem nessa alegação, por mais absurda que seja.
Basicamente, estamos na presença de um culto religioso.
Percebe-se que para estas pessoas, as crenças são superiores às evidências.
A emoção sobrepõe-se ao racional.
Os factos não interessam e até são denegridos, porque são vistos como ataques às crenças.
Podem ver todo o programa, na CNN Portugal, com legendas em português, aqui.
1 comentário
Carlos,
Muito bem colocado… esse problema ocorre no mundo em geral… aqui no Brasil temos exemplos infelizes acontecendo… fake news, conspiracionistas influenciando e propagando inverdades, etc… são um mal que aflige a humanidade…