Abr 20

Satélite caiu em Kiev? Não.

Crédito: NASA

A sonda RHESSI (Reuven Ramaty High Energy Solar Spectroscopic Imager) estava no espaço, a estudar as partículas altamente energéticas vindas do Sol (sobretudo durante erupções solares), desde 2002.

Os cientistas da NASA perderam o contacto com este satélite artificial em 2018.
No entanto, continuaram a segui-lo, evidentemente.
Este objeto ficou numa órbita baixa da Terra. Apesar da órbita ser estável, gradualmente o satélite vai perdendo altitude (devido à resistência atmosférica, que é muita baixa àquela altura, mas ao longo dos anos vai tendo resultados).

Ontem, 19 de Abril, 21 anos após o seu lançamento, este objeto começou a reentrar na atmosfera terrestre.

Sabia-se que ele iria cair na Terra esta madrugada.
O satélite seria em grande parte desintegrado ao “rasgar” a atmosfera, mas alguns destroços poderiam chegar ao solo. No entanto, em termos probabilísticos, o risco de provocar algum acidente nos humanos era muito baixo.

O Departamento da Defesa dos EUA confirmou que a sonda re-entrou na atmosfera terrestre nesta madrugada sobre o Deserto do Sahara, tendo alguns destroços provavelmente caído na fronteira entre o Chade e o Sudão.

O curioso é que vários órgãos de comunicação social disseminaram a hipótese do satélite ter caído em Kiev, na Ucrânia.
Isto deve-se ao facto do chefe militar administrativo de Kiev ter informado que os céus de Kiev tinham-se iluminado com um enorme clarão ontem à noite. O normal seria pensar-se que tinha sido uma bomba detonada em altitude. Mas ele disse que seria um objeto vindo do exterior, e assim levantou a hipótese de ter sido o satélite da NASA em queda.

No entanto, a essa hora, o satélite ainda estava em órbita. E no seu percurso pelos céus, não passava por cima de Kiev.

Afinal, o clarão visto em Kiev tinha sido devido à entrada de um meteoro na atmosfera, tal como afirmou Igor Korniyenko, da agência espacial da Ucrânia.
(nota: vários órgãos de comunicação social disseram que era um meteorito. Não é. É um meteoro)

Carlos Oliveira

Carlos F. Oliveira é astrónomo e educador científico.

Licenciatura em Gestão de Empresas.
Licenciatura em Astronomia, Ficção Científica e Comunicação Científica.
Doutoramento em Educação Científica com especialização em Astrobiologia, na Universidade do Texas.

Foi Research Affiliate-Fellow em Astrobiology Education na Universidade do Texas em Austin, EUA.
Trabalhou no Maryland Science Center, EUA, e no Astronomy Outreach Project, UK.
Recebeu dois prémios da ESA (Agência Espacial Europeia).

Realizou várias entrevistas na comunicação social Portuguesa, Britânica e Americana, e fez inúmeras palestras e actividades nos três países citados.

Criou e leccionou durante vários anos um inovador curso de Astrobiologia na Universidade do Texas, que visou transmitir conhecimento multidisciplinar de astrobiologia e desenvolver o pensamento crítico dos alunos.

2 comentários

    • Jonathan Malavolta on 22/04/2023 at 11:51
    • #
    • Responder

    O Jornal da Globo, ao menos anteontem, afirmou tratar-se de uma rajada de tiros (o jornal justificou não saber qual era a arma) singrando os céus e atingindo a região fronteiriça entre Ucrânia e Moscou. Do estúdio, corta para cenas ao vivo mostrando um clarão descendo do céu e atingindo em cheio a calçada, estragando uma porção de veículos e ferindo pelo menos 3 pessoas. Seu artigo é o primeiro que pego falando dessa hipótese de que possa ter sido o satélite (hipótese que a própria NASA desmentiu).

    1. Oi Jonathan,

      Pela sua descrição, esse foi outro incidente.

      Foi em Belgorod.

      Foi um caça russo que bombardeou a sua própria cidade por acidente.

      https://www.youtube.com/watch?v=78SrniwVt7o

      abraço!

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