Caçar o Monstro do Lago Ness

Recentemente, centenas de entusiastas da ideia do Monstro de Loch Ness, foram até ao Lago Ness, para se reunirem, contarem histórias e tentarem apanhar o alegado monstro.

No último fim-de-semana de Agosto, os auto-intitulados caçadores de monstros reuniram-se na Escócia em busca de uma aventura inesquecível.
Muitos mais detetives amadores participaram online: 4 câmeras ligadas à internet, colocadas em pontos estratégicos do lago, proporcionaram muitas horas de observação aos voluntários que vigiaram detalhadamente cada pequena ondulação na água.
No local, também existiram drones com sensores térmicos, que produziram imagens em infravermelho. E até foi colocado um hidrofone para detetar sinais acústicos debaixo de água.
Esta iniciativa foi organizada pela Loch Ness Exploration (LNE) em parceria com o Centro Loch Ness.
O evento chamou-se: “The Quest” (a Busca).

Capa do livro escrito por Melissa Savage.

Já temos falado sobre o Monstro de Loch Ness.

Explicamos as fotografias falsas, disseminadas ao longo dos anos, aqui.

Comunicamos a sua recente “descoberta” através do Google Earth, aqui.

Reportamos que ele foi visto em Londres, aqui.

Analisamos as evidências que escolas Criacionistas estão a disseminar sobre ele, aqui.

Escrevemos sobre um documentário sobre o Monstro, aqui.

E até falamos sobre o filme Loch Ness, aqui.

A ideia da existência de um monstro no Lago Ness é uma lenda antiga.

Em plena Idade Média, no ano 565, um monge missionário Irlandês chamado Columba, disse que viu um “monstro aquático”.

Desde aí e ao longo dos séculos, existiram alguns relatos isolados de grandes seres aquáticos no Lago Ness.

No entanto, o verdadeiro mito começou no século passado.

Em Março de 1933, saiu o filme King Kong, sobre criaturas gigantescas e pré-históricas, que se tinham “escondido” dos Humanos e viviam em isolamento numa ilha.
O filme foi um sucesso e incentivou outros filmes sobre gigantescos animais pré-históricos desconhecidos.
Isto levou à sugestão na mente das pessoas de que eles poderiam ser mesmo reais…

Quiçá influenciada por esta mentalidade, há 90 anos, Aldie Mackay, gerente do hotel Drumnadrochit, perto do lago, garantiu aos clientes de um bar ter visto um “grande monstro aquático” no Lago Ness. No dia 2 de Maio de 1933, a reportagem carregada de sensacionalismo apareceu no jornal local, Inverness Courier.
No final da década de 1980, Aldie Mackay admitiu que a sua história se baseou numa tradição oral, que foi passada de geração em geração, sobre uma criatura que vivia no lago.
O objetivo foi aumentar o número de turistas no seu hotel.

No dia 19 de Abril de 1934 – um ano depois da estória de Aldie Mackay -, o médico cirurgião inglês Robert Wilson tirou o que mais tarde ficaria conhecida como a “foto do cirurgião”.
A imagem mais famosa de Nessie mostra o que supostamente são a cabeça e o pescoço do monstro.
Esta foi a fotografia que fomentou a popularidade do mito.

Curiosamente, este suposto monstro é muito parecido com a serpente dos mares que apareceu a comer pessoas no filme King Kong, de 1933.

Hoje sabe-se que esta fotografia era uma fraude.
Em 1994, o jornalista freelancer Marmaduke Wetherell confessou ter falsificado a fotografia, tendo usado o nome do médico para dar mais credibilidade à história. Christian Spurling confirmou o embuste. A terceira pessoa envolvida nesta mentira foi o próprio médico que confirmou que o “animal” era um submarino de brincar com um pescoço de plástico colado em cima. Depois, colocaram-lhe uma máscara parecida com uma cobra marinha.

Mais recentemente, em 2012, George Edwards afirmou que tirou uma fotografia a Nessie. O “especialista” Steve Feltham classificou essa fotografia como sendo a melhor de sempre com o Monstro do Lago Ness.
O problema é que em 2013, George Edwards admitiu que aquilo era só um boneco feito por si, com fibra de carbono.
O boneco foi utilizado num documentário da National Geographic.
Ele fez essa brincadeira com o objetivo de aumentar o número de turistas na região, já que ele opera um barco turístico no lago. Ou seja, novamente, existiu um propósito económico.

Apesar de se saber que todas estas histórias que geraram o mito moderno de Nessie são falsas, mesmo assim as pessoas continuam a acreditar que o monstro existe… sem quaisquer evidências.

O mito de Nessie não é o único.
Várias outras pseudo-histórias foram geradas por pessoas simples, e duraram dezenas de anos.

Apesar da ausência de evidências, o mito vai, assim, continuar.

E prova disso são as caçadas coletivas de seres inexistentes, como aqui.

Desta vez foi no Lago Ness. E foi um sucesso, já que o evento atraiu centenas de participantes, que levaram a que os hotéis da região esgotassem as suas reservas.
Por isso, o objetivo foi concretizado: o turismo aumentou e o propósito económico foi alcançado.
Afinal, esta região vive disso: a lenda de Nessie gera cerca de 30 milhões de libras em receitas turísticas todos os anos.

Mas então qual foi o resultado desta caçada?
Como seria de esperar, a iniciativa proporcionou zero evidências objetivas, apesar dos muitos testemunhos.

A busca coletiva pelo Nessie não deu em nada… ou quase nada.
Como não poderia deixar de acontecer, muitas pessoas apresentaram testemunhos de avistamentos de Nessie e várias tiraram fotografias ao longe. Todas elas assumem que era o Nessie.

Por exemplo, Alastair Gray diz que viu um animal parecido com a fotografia de Nessie sobre a superfície do lago.

Fiona Wade viu algo a sair da água e fez um filme.

Siobhan Janaway viu um animal a “nadar” velozmente pela água. No entanto, eu diria que é um pequeno barco

Créditos: Siobhan Janaway, Jam Press

Já Eoin O’Faodhagain viu algo muito similar ao que Fiona viu no local, mas através da webcam .

Crédito: Visit Inverness Loch Ness, Eoin O’Faodhagain.

Steve Valentine tirou mesmo uma foto no local:

Créditos: Steve Valentine, Jam Press

Entretanto, a fotógrafa Chie Kelly divulgou uma fotografia feita por ela em 2018, que ela acredita ser de um animal no lago Ness:

Créditos: Chie Kelly / Peter Jolly Northpix

E pronto… foi este o resultado da caçada: uma mão cheia de nada.

O que se sabia antes, sabe-se agora:

O Lago Ness é o maior lago do Reino Unido em volume.
Este lago de água doce tem 37 quilómetros de comprimento e uma profundidade máxima de 240 metros.

Nos últimos 90 anos, várias pessoas afirmaram ter visto Nessie, mas nunca apresentaram qualquer evidência credível. Testemunhos não são provas.
Aliás, muitas histórias são provadas como falsas, outras são simples desejos visuais das testemunhas, e muitos outros avistamentos são somente identificações erradas de animais e objetos mundanos.

Curioso que, em 2016, um drone marinho de alta tecnologia que procurava nas profundezas do lago escocês pelo Nessie encontrou uma réplica do monstro com quase nove metros de comprimento. Esta réplica tinha sido utilizada no filme de 1970, A Vida Íntima de Sherlock Holmes. Quando as pessoas do filme retiraram as boias, a réplica afundou-se.
Ou seja, as investigações científicas dão resultado: encontraram uma réplica de filme do monstro. Mas nada de monstro.

Além disso, várias equipas de cientistas que já estudaram o Lago Ness nunca viram qualquer monstro aquático.

Por vezes, existem hipóteses divertidas, como estes avistamentos serem apenas pénis de baleias, como é defendido pelo professor Michael Sweet, que é um ecologista molecular.

A verdade é que, por diferentes razões, Nessie não existe.

Os vários estudos científicos mostraram que o lago possui uma enorme quantidade de grandes enguias, além de outros animais de grande porte, como esturjões. Mas não tem qualquer ser pré-histórico (plesiossauro).

2 comentários

  1. Daqui um milhão de anos esse monstro ainda será motivo de “investigação” rsrs. O ser humano é muito previsível.

    • Jonathan Malavolta on 17/09/2023 at 15:42
    • Responder

    Na boa? A foto da tal Chie Kelly me parece ser lixo: eu vejo claramente dois sacos pretos cheios de lixo e com borda amarrada; os sacos estão meio que atados um ao outro, bem próximos entre si. Vendo de longe, uma pessoa desavisada poderia pensar estar avistando um monstro quando, na verdade, está avistando lixo no lago.

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