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Em 2014, escrevi um artigo, aqui, onde apresentei 3 argumentos que demonstram que todas as observações de OVNIs/UFOs nada têm a ver com extraterrestres.
Na altura, reparei que as reportagens nas televisões e as discussões nas redes sociais tinham falta de algum conhecimento básico, lógico, racional, sobre o assunto em causa: OVNIs vs. Naves Extraterrestres.
Assim, escrevi esse artigo para transmitir essas ideias-base sobre OVNIs, de modo a não nos deixarmos cair no sensacionalismo da hipótese ET.
Para quem estiver interessado em distinguir OVNIs de Naves Extraterrestres, de modo a conseguir separar a agulha no palheiro (como referiu David Spergel), sugiro veementemente a leitura desse artigo.
Em 2021, foi publicado um inédito Relatório sobre OVNIs/UFOs com as conclusões do Pentágono após analisar cuidadosamente mais de uma centena de observações credíveis de fenómenos aéreos não identificados. Podem ler as conclusões, aqui.
Realço a última conclusão: nas 144 observações/relatos/deteções analisadas, não existe qualquer evidência de que os objetos são de origem extraterrestre.
No final desse artigo disserto um pouco sobre a irracionalidade de ainda se associar UFOs a extraterrestres.
E termino dizendo: “Os crentes conspirativos em naves extraterrestres que nos visitam só vão aceitar conclusões que estejam de acordo com aquilo em que eles já acreditam. Se as conclusões não estiverem em sintonia com as suas crenças, então as conclusões de qualquer Relatório científico serão rejeitadas. (…) Nenhum Relatório de Investigação verdadeiramente científico e imparcial vai convencer crentes conspirativos.
(…) irracionalidade dos conspiradores: se o Governo não investigar, então é porque não quer investigar (para não sabermos a verdade); se investiga, então é porque só querem mentir e não se deve acreditar neles. Nenhum Relatório de Investigação vai mudar as crenças pessoais e irracionais das pessoas.”
Em Maio de 2022, existiu uma audição pública sobre OVNIs no Congresso dos EUA, onde foi discutido o Relatório e foram apresentados alguns vídeos de drones que foram confundidos com OVNIs (supostamente triangulares e verdes). Podem ler/ver, aqui.
A conclusão foi a mesma do Relatório.
Entretanto, a NASA formou uma equipa independente de 16 especialistas, de diferentes áreas, onde se incluem astrobiólogos, físicos e astronautas, para analisarem os casos de OVNIs.
Foram analisados mais de 800 casos/fenómenos dos últimos 30 anos.
A 31 de Maio deste ano, essa equipa fez um simpósio público onde apresentou as suas conclusões:
– a grande maioria dos casos são totalmente explicáveis: objetos terrestres, como satélites, aviões, balões e drones, OU objetos celestiais conhecidos, como o planeta Vénus, a estrela Sirius, a Lua e meteoros a atravessar a nossa atmosfera, OU fenómenos atmosféricos, como sprites.
– existe uma pequena minoria de casos (2% a 5%) que não se consegue saber o que é, porque: (1) não se consegue reproduzir o fenómeno no mesmo local com as mesmas condições; (2) existem poucos dados sobre o fenómeno; (3) não se sabe se a testemunha teve uma ilusão de ótica (que ela assegura que era um objeto físico); (4) nem sequer se consegue saber se a testemunha estava a mentir; ou (5) não se sabe mesmo o que é (ex: globo metálico voador avistado por um drone MQ-9 Reaper no Médio Oriente).
A grande conclusão foi: em nenhum caso investigado existe qualquer evidência de que os OVNIs sejam de origem extraterrestre.
Podem ler o que se passou nesse simpósio, aqui.
Na altura, a equipa de 16 especialistas disse que ia passar “para escrito” as conclusões que apresentaram no simpósio, sugerindo um roadmap (guia, roteiro, quadro de referência) para o futuro estudo de OVNIs através de metodologia científica e com dados mais credíveis.
E foi isso que fizeram agora: apresentaram o relatório numa conferência de imprensa pública.
Podem ler todo o relatório, no site da NASA, aqui.
Além das conclusões que já tinham sido expostas a 31 de Maio (aqui), existem agora mais algumas informações dignas de nota:
A NASA criou um departamento específico para estudar os fenómenos anómalos não identificados.
Foi nomeado um diretor para esse departamento.
Inicialmente, a identidade do diretor não foi revelada, por questões de segurança.
É que os 16 especialistas publicamente anunciados já tinham sido insultados e ameaçados, pelos crentes fundamentalistas em naves extraterrestres que visitam a Terra (porque esses crentes fanáticos querem se sentir especiais – exigem que a Terra seja o centro de atenção dos deuses).
No entanto, posteriormente, por uma questão de transparência, a NASA anunciou que o diretor é Mark McInerney.
A NASA também comunicou que vai utilizar os seus satélites (e satélites comerciais) para registarem imagens com alta resolução na atmosfera terrestre, de modo a tentar detectar/confirmar estes fenómenos.
Múltiplos sensores devidamente calibrados para o estudo de fenómenos atmosféricos são fundamentais de modo a termos dados muito mais rigorosos e claros sobre os OVNIs.
Além disso, na análise de dados, também vão ser utilizadas ferramentas com inteligência artificial e machine learning. Assim, será mais fácil identificar ocorrências raras na atmosfera, como os OVNIs.
Como disse o astrofísico David Spergel: se queremos encontrar uma agulha num palheiro, primeiro precisamos saber o que é a palha. Ou seja, primeiro precisamos saber tudo o que acontece na atmosfera. Só depois podemos dizer verdadeiramente o que é anormal, o que não está identificado naquela região.
Os especialistas neste novo departamento da NASA são poucos. Além disso, não são eles que vêem OVNIs regularmente.
Assim, a NASA vai criar uma App para recolher testemunhos de avistamentos e fotografias/vídeos feitos pelo público.
O objetivo é ter um local online onde sejam recolhidos todos os avistamentos civis, de uma forma coerente (sob o mesmo formulário de perguntas e caracterizações – “standardized system“). Esse local online poderá ser consultado por toda a gente, de modo a ter análises críticas que possam ser feitas por voluntários (citizen scientists).
Um dos objetivos da NASA é reduzir o estigma em reportar avistamentos de OVNIs e em debater o tema dos OVNIs.
A NASA pretende retirar a discussão sobre os OVNIs do domínio das teorias da conspiração.
A NASA quer retirar o sensacionalismo que existe neste assunto, passando a ter especialistas que analisam os casos de forma científica.
Além disso, a NASA quer estimular a transparência sobre este assunto.
Segundo o administrador da NASA, a NASA compromete-se a partilhar as notícias que existirem, sejam quais forem as conclusões.
The full report by the unidentified anomalous phenomena report (UAP) independent study team can be found here: https://t.co/RoY8p9ce5l
Based on the team's recommendations, NASA will appoint a director of UAP research. At 10am ET (1400 UTC), we'll livestream a briefing from…
— NASA (@NASA) September 14, 2023
No relatório, a NASA considera a investigação sobre os OVNIs como tendo grande interesse para a segurança nacional dos Estados Unidos.
Isto deve-se ao facto de que o governo norte-americano assume que vários destes objetos são tecnologia militar de uma nação rival.
Assim, é essencial estudar estas potenciais ameaças de países “inimigos”.
No relatório, é descrito o caso do OVNI, parecido com um TicTac, capturado pela câmera em luz infravermelha de um avião F/A-18 Super Hornet da marinha norte-americana, que já tinha sido divulgado pelo Pentágono e tinha sido referido na anterior conferência.
Como eu já tinha dito aqui, o objeto parece-se com um drone patenteado pela Marinha dos EUA.
Agora, ao estudarem detalhadamente este caso, incluindo os dados registados pelo avião, os especialistas da NASA determinaram a altitude do objeto (4 quilómetros) e a velocidade com que se movia (65 km/h). Ora, esta é a velocidade típica do vento àquela altitude. Assim, ao contrário do que se especulava – devido à ilusão provocada por jatos a moverem-se muito rápido -, o objeto não tinha uma velocidade invulgarmente elevada. Além disso, o objeto não emitia calor próprio, estando mais frio que o oceano abaixo dele. Assim sendo, conclui-se que o objeto estava muito provavelmente à deriva no vento.
Isto não é, obviamente, uma característica de “tecnologia fabulosa”: é sim, um mero objeto (saco plástico ou pequeno balão?) ao vento.
Um dos assuntos mais controversos no relatório é quando falam de potencial tecnologia extraterrestre.
No relatório é dito que poderá haver um OVNI com origem extraterrestre. Apesar de ser uma hipótese altamente improvável, ela tem de ser considerada.
Os especialistas consideram que se esse fôr o caso, então esse objeto viajou através do nosso sistema solar. Por isso, ao procurar por tecnoassinaturas no sistema solar, poderemos quiçá encontrar sinais de viajantes extraterrestres.
Ainda na última página do relatório, relaciona-se o estudo de OVNIs na nossa atmosfera com o estudo de exoplanetas.
Da mesma forma que procuramos bioassinaturas (sinais de vida noutros planetas) e tecnoassinaturas (sinais de tecnologias extraterrestres) em planetas em órbita de estrelas distantes, também devemos considerar que essas potenciais tecnologias alienígenas desconhecidas poderão estar a operar na atmosfera terrestre.
O relatório considera que esta hipótese é remota, mas plausível. Ou seja, não pode ser negada à partida.
Assim, do mesmo modo que realizamos missões a outros planetas (missões nossas, com sondas, a planetas no nosso sistema solar), talvez uma civilização avançada tenha enviado uma sonda para a Terra.
Obviamente, toda esta parte é especulação.
E, em parte, tem muito de crença religiosa: sermos muito especiais, ao ponto dos “deuses” estarem interessados em nós.
Além disso, fala-se de tecnologia, porque é o que nós temos. As formigas, por exemplo, não precisam de “tecnologia” para a sua vida. As baleias também não. Não é necessariamente correto assumir que os alienígenas terão que ter tecnologia, sobretudo tecnologia semelhante à nossa, para evoluírem ao ponto de viajarem entre planetas.
Por último, é de um geocentrismo psicológico atroz esperar que potenciais civilizações extraterrestres avançadas venham à Terra precisamente na altura em que estamos cá. A Terra tem 4,6 mil milhões (bilhões, no Brasil e EUA) de anos. É altamente improvável que eles venham precisamente dentro do intervalo de tempo em que nós estamos vivos. Mais uma vez, isto é só o nosso ego a querer se sentir especial.
Consigo compreender porque incluíram a discussão sobre tecnoassinaturas extraterrestres na última página do relatório: para satisfazer os crentes em naves extraterrestres. Mas considero que era desnecessário.
Percebo o marketing, mas não me parece coerente com o resto do texto tão científico do relatório.
Passando agora à forma como este assunto foi disseminado na comunicação social:
Não compreendo toda a azáfama que se viu nas televisões internacionais e websites de notícias.
Alguns deles referiram que isto era uma “novidade” da NASA. À parte aquilo que referi em cima (o novo diretor de departamento), não existem grandes novidades. Este relatório veio no seguimento do simpósio de Maio. Não existiram conclusões inéditas.
Além deste “esquecimento” sobre a apresentação de Maio, existiram outras situações na comunicação social que demonstram manipulação em favor do mistério e do sensacionalismo.
Por exemplo, existiram reportagens em que o jornalista diz na narração que “não existe explicação científica para o fenómeno”. Bill Nelson também o disse, de forma desastrada, por duas vezes, já que o astrofísico David Spergel apresentou várias explicações para diferentes casos. Por isso, essa explicação credível existe para a enorme maioria dos casos, como eu já referi em cima.
Além disso, várias televisões mostraram o segmento em que o administrador da NASA, Bill Nelson, fala como se estivesse a responder a uma pergunta sobre planetas potencialmente habitáveis. Esta deambulação veio no seguimento dele explicar que um dos objetivos da NASA é procurar por vida noutros planetas, daí enviarmos rovers para Marte, por exemplo. Depois, ele diz que os telescópios espaciais (como o James Webb) procuram por esses pequenos planetas rochosos que possam ter vida. Na sequência deste seu discurso, ele afirmou que, pessoalmente, acredita que existe mais vida neste vasto Universo. Ora, eu concordo com ele: eu também penso que existe (por uma questão de probabilidades, pela facilidade com que a vida se formou na Terra e pela existência de extremófilos, como já referi em vários artigos e expliquei em várias palestras).
Mas o assunto não era este, e os jornalistas claramente não conseguiram distinguir o assunto em causa, desta pseudo-resposta.
A conferência de imprensa (media briefing) era sobre um relatório onde se discutem casos de avistamentos de OVNIs, e se esses OVNIs poderão ter origem extraterrestre.
A conferência de imprensa não era sobre opiniões pessoais, mas sim sobre análises de casos por especialistas.
A conferência de imprensa não era sobre crenças (acreditar), mas sim sobre evidências objetivas das quais se pudessem tirar conclusões.
A conferência de imprensa não era sobre planetas potencialmente habitáveis, mas sim sobre extraterrestres visitarem a Terra.
A conferência de imprensa não era sobre vida extraterrestre simples (que é o caso da alegada resposta de Bill Nelson), mas sim se essa vida extraterrestre é avançada, consegue criar tecnologia para viajar entre planetas e está muito interessada em nós ao ponto de nos visitar constantemente.
Confundir os assuntos, misturando as coisas, leva ao engano do telespetador.
Na minha opinião, o que toda a comunicação social devia ter dito até à exaustão é o que foi dito no simpósio em Maio e foi repetido agora por várias vezes: não há qualquer evidência de que os OVNIs tenham uma origem extraterrestre.
É uma pena que alguma comunicação social e muita gente nas redes sociais tenham dificuldade em interpretar corretamente as investigações da NASA. É uma pena que prefiram continuar a invocar a hipótese E.T., a fomentar crenças religiosas (em deuses extraterrestres muito interessados em nós) e a elevar o sensacionalismo.
Foi dito por várias vezes na conferência de imprensa (e está exposto no Relatório) que a NASA quer retirar o sensacionalismo a este assunto. A NASA quer aplicar critérios científicos. Infelizmente, alguns preferem “esquecer” esse objetivo e continuam a promover o sensacionalismo alienígena.
Por fim, deixo duas frases que estão no relatório da NASA e que me parecem essenciais:
“to understand UAP, a rigorous, evidence-based, data-driven scientific framework is essential”
– para compreendermos os OVNIs, é essencial termos um rigoroso enquadramento/abordagem/estrutura científica, baseado em dados e evidências objetivas.
“As Carl Sagan wrote in The Demon-Haunted World, “science carries us toward an understanding of how the world is, rather than how we would wish it to be”.”
– como Carl Sagan escreveu no seu livro “Um Mundo Infestado de Demónios“, a ciência leva-nos a um entendimento de como o mundo é, e não a como gostaríamos que ele fosse.
Nota: sim, eu sei que agora se chamam Fenómenos Anómalos Não-Identificados (UAPs, em inglês). Mas, para mim, serão sempre OVNIs/UFOs. Não é por mudarem o nome que passam a ser outra coisa. Apesar desta minha relutância em mudar a sigla, compreendo o porquê dessa mudança (para dar mais credibilidade ao estudo destes fenómenos).
Fontes: Relatório, Relatório, NASA, NASA.
(Podem colocar legendas automáticas em português, clicando no botão das definições)
1 comentário
Boa Tarde,
Os mais distraídos nem notam que o Carlos Oliveira é o único extraterrestre que se nega a si mesmo … o que por si só é evidência da condição de extraterrestre do Carlos Oliveira.
Afinal, aos anos que anda por aqui a dar-nos notícias só um extraterrestre, ou um undercovered illuminati, é que passaria o seu tempo a oferecer-nos, imagine-se ainda por cima de borla, racionalidades científicas, destruindo crenças e crendices, de peito feito a conspirações, cientologismos, novilíngua, conformismos, terras redondas e fugas em frente, molestando com interrogações quem, como eu, só tenta levar a vida com saudinha e algum dinheirinho, aproveitando o que de lúdico tem a vidinha.
No caso em apreço, é por demais claro que possuiu uma avenca (sem c cedilhado) concedida interesseiramente pelos Klingon para obter um novo prémio de melhor blog em língua portuguesa de divulgação científica.
Enfim … tudo de bom.