Vivemos numa época de paradoxos indigestos, onde o apogeu tecnológico desfila lado a lado com uma desinformação tão ostensiva quanto perigosa. Estamos, metaforicamente, a navegar num oceano cálido de ignorância, enquanto os icebergs da verdade científica se derretem de forma alarmante, a ritmos que desafiam até as previsões mais pessimistas.
Ah, o quão cativante é a melodia do negacionismo! Há, aparentemente, um prazer quase orgíaco em menosprezar a nossa culpa colectiva, em relegar a mera coincidência o aumento da temperatura global, por exemplo. Como hábeis artesãos, alguns tecem tapeçarias de ilusões nas quais a ciência é transmutada num ícone maldito, um incómodo profético que se deve silenciar no altar dos interesses financeiros.
As grandes empresas petrolíferas e multinacionais enfrentam um dilema moral que elas próprias preferem ignorar. Cientes dos cataclismos ecológicos que as suas acções acarretam, optam ainda assim por um caminho de desinformação que, tendo em conta o contexto, é letal, especialmente quando feito por profissionais com uma agenda. Investem em cientistas cuja ética é, no mínimo, questionável, tornando-os veículos de negacionismo climático.
A questão em causa não é apenas moral, mas existencial; o que estamos dispostos a sacrificar em nome do conforto imediato?
E o que dizer dos académicos com diplomas a enfeitar as suas paredes, que insistem na benignidade destas transformações climáticas? A sua retórica é uma sinfonia de disparates, uma ode à ignorância voluntária, mas deixem-me ser claro; o consenso científico é inequívoco. Mais de 90% dos cientistas concordam que as alterações climáticas são uma realidade iminente e que, para nossa desdita, somos nós os culpados.
Esqueçam o cepticismo de outrora, agora metamorfoseado em certeza pela acumulação esmagadora de provas. As mudanças são tangíveis; derretimento de calotas polares, aumento do nível do mar, intensificação de fenómenos climáticos extremos. E ainda assim, o palco está montado para um acto final irónico. Aqueles que antes negavam, agora admitem a realidade, mas só depois de um dano irreparável ter sido feito.
A incerteza científica, essa velha amiga dos negacionistas, nunca foi sinónimo de ignorância, mas uma métrica do nosso conhecimento. E esse conhecimento está a gritar por acção imediata.
O cronómetro da Terra está a contar regressivamente, e nós, envoltos em discursos eloquentes mas vazios, permitimos que as areias do tempo escoem por entre os nossos dedos. O planeta já não é o mesmo, e a culpa é inteiramente nossa. Mas enquanto ainda há tempo, enquanto ainda há vida, não deveríamos nós cortar as cordas desta marioneta grotesca de interesses corporativos e dançar ao ritmo da razão, da ética e da verdade científica?
Em suma, a incerteza, frequentemente apontada como justificação para a inércia, não é uma falta de conhecimento, mas sim uma medida do que é conhecido. E o que é conhecido é tanto inegável quanto inquietante. A incerteza não mina, de forma alguma, a confiança de que a mudança climática é real e de que somos nós os seus autores.
O dilema que enfrentamos é titânico, mas é da natureza humana enfrentar o impossível e emergir triunfante. O que escolheremos ser; Prometeus ou Ícaro? O tempo, cada vez mais escasso, assim o dirá.
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