Faleceu Hubert Reeves

Hubert Reeves faleceu ontem, 13 de Outubro, com 91 anos.

Hubert Reeves era um dos grandes divulgadores canadianos, tendo ficado famoso na Europa pelos seus livros e pelas aparições na televisão francesa, onde promovia a ciência, nomeadamente a astronomia.

Crédito: COP Paris

Lembro-me de ver Hubert Reeves na televisão francesa, durante toda a noite, a 13 de Agosto de 1993.
O programa chama-se Noite das Estrelas (Nuits des Étoiles).
Não é um programa fútil sobre supostos famosos, mas é sim um programa de astronomia, que tem por foco principal a chuva de estrelas Perseidas.

Lembro-me da data e do que foi dito, porque ainda tenho as dezenas de folhas onde escrevi avidamente tudo o que ia sendo dito.

A justificação para o programa é realmente a chuva de meteoros Perseidas.
No entanto, fala-se de tudo um pouco no programa.

Nas minhas anotações, tenho informação astronómica sobre meteoros, obviamente, mas também sobre constelações, nebulosas, anos-luz, estrelas, galáxias, Big Bang, pulsares, buracos negros, astrobiologia, etc.

Uma das coisas que me impressionou na altura, foi a aceitação do erro por parte de Reeves.
Reeves deu uma informação que não estava completamente correta, uma outra pessoa corrigiu-o e ele aceitou/admitiu o erro, corrigindo imediatamente a informação: o objetivo é a correta informação transmitida, e não o ego dele.
Ele não negou a nova informação, não desvalorizou a correção, não deu desculpas/justificações desnecessárias, não minimizou o erro (dizendo que era pequeno), não afirmou que só ele é que sabia porque era a autoridade, não menosprezou os especialistas e não desprestigiou o conhecimento sobre o assunto.
Simplesmente admitiu o erro, e corrigiu-o.

Na altura, isto impressionou-me, porque eu estava habituado à mentalidade portuguesa: que prefere proteger o ego, não admitindo o erro, em vez de valorizar a informação correta.
A mentalidade portuguesa era assim, e ainda continua a sê-lo.
Felizmente, ao me tornar emigrante, percebi que a mentalidade desprendida do ego é comum na comunidade científica internacional. Obviamente, nem toda a gente é assim. E os cientistas também têm os seus egos. No entanto, o que Reeves fez, já presenciei em conferências internacionais e sempre o vivi nos departamentos por onde passei. Daí que atualmente, nem sequer entendo a mentalidade oposta: “defender o erro” por uma questão de ego pessoal.

O programa que eu vi em França, foi a 3ª edição do Nuits des Étoiles.
Atualmente, o programa já conta com 33 edições. São 33 anos com o programa Noite das Estrelas, na televisão francesa.
Desde o ano 2000, o programa é transmitido durante 3 dias, em vez de somente 1 dia, como era nas edições iniciais.

Desde esse programa, adquiri e li 6 livros muito bons de Hubert Reeves, dentre os muitos livros de divulgação científica que ele escreveu.

O Ser Humano é a mais insana de todas as espécies: adora/venera um Deus invisível e mata/massacra a Natureza visível. Nem sequer se apercebe que a Natureza que ele mata é o Deus invisível que ele adora/venera.

Hubert Reeves tinha formação formal em astrofísica, tendo inclusivé um doutoramento.
Ele foi professor universitário, consultor da NASA e diretor do departamento de investigação no CNRS (Centro Nacional para a Investigação Científica, em França).

Além de astrofísico, ele era um fervoroso ecologista/ambientalista e divulgador de astronomia.

Nós conhecemos mais a sua faceta de divulgador cientifico, evidentemente.
Ele era um excelente divulgador científico, não se restringindo aos factos, mas contando histórias sobre o Universo. Por vezes, era chamado de “poeta do espaço“.

Um excelente divulgador de ciência tem que ter várias características.
Duas delas são o conhecimento correto dos assuntos e uma comunicação focada na audiência.
Hubert Reeves tinha uma linguagem acessível e inspiradora, facilmente compreendida pela audiência e que cativava quem o ouvia. E tinha formação formal em astronomia, caminhando pelos corredores das universidades e debatendo com outros cientistas. Assim, tinha conhecimento e conseguia-o transmitir corretamente.

Por isso, foi um dos grandes comunicadores de ciência do nosso tempo.
A par de Carl Sagan, Neil deGrasse Tyson, David Attenborough, Brian Cox, e muitos outros, também Reeves tinha o essencial: conhecimento formal, aliado a uma aptidão para a comunicação.

1 comentário

    • Jonathan Malavolta on 14/10/2023 at 22:18
    • Responder

    Que descanse em paz…

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