O ozono é uma molécula composta por 3 átomos de oxigénio (O3).
É só isto. É uma substância que resulta de uma reação química normal.
Esta molécula ocorre de forma natural, mas também é criada pelo Homem.
A sua formação natural deriva da interação dos raios ultravioleta do Sol com o oxigénio molecular (O2): a radiação ultravioleta solar rompe as ligações entre os dois átomos de oxigénio, fazendo com que cada solitário átomo possa se combinar com outra molécula de oxigénio (O2), formando o ozono (O3).
As várias moléculas de ozono formam um gás que existe na estratosfera terrestre, perto da troposfera.
A camada de ozono existente entre cerca de 20 e 30 quilómetros acima da superfície terrestre absorve a grande maioria da radiação ultravioleta do Sol, protegendo-nos dessa radiação solar que seria bastante danosa para nós (pode provocar, por exemplo, cancro na pele, quando estamos desprotegidos durante muito tempo a apanhar Sol na praia) – na verdade, é o ciclo referido no parágrafo anterior, entre o ozono e o oxigénio, que nos protege dos raios ultravioleta.
No sentido contrário, para a astronomia, a ozonosfera é prejudicial, já que reduz a quantidade de radiação ultravioleta que chega ao solo.
Assim, se quisermos estudar os objetos astronómicos no comprimento de onda da luz ultravioleta temos que colocar telescópios no espaço.
Há uns anos, percebeu-se que o buraco na camada de ozono era enorme.
Estávamos a perder a camada de ozono, e assim iríamos perder uma das características terrestres que nos permitem sobreviver: nós, humanos, e a maioria dos seres vivos.
Se a falha na camada de ozono sobre a Antártica continuasse a aumentar, as consequências seriam obviamente para todo o planeta.
Um relatório das Nações Unidas de 2022, mostrou que o buraco na camada de ozono estava a diminuir.
Isto deve-se às políticas de diminuição dos CFCs, que prejudicavam a existência de ozono na atmosfera (o cloro gasoso interrompe o ciclo referido).
Hoje sabemos que essa medida de diminuir drasticamente a produção de CFCs foi essencial.
Mas também temos conhecimento de outras características dessa camada de ozono.
Por exemplo, sabemos que o que conhecemos como “buraco” não é na verdade um buraco, mas sim uma redução na densidade do gás (moléculas) do ozono.
Também sabemos que essa espessura da camada do ozono (medida em DUs – Unidades de Dobson) vai aumentando e diminuindo sazonalmente, devido a fatores naturais (o Sol): 400 DUs equivale a 4 milímetros de espessura. Normalmente, antes da Primavera na Antártica a leitura é de cerca 275 DUs. Durante o Verão no Hemisfério Sul, esse “buraco” vai diminuindo de tamanho: o ozono vai sendo restabelecido. Se estiver abaixo de 200 DUs é considerado “buraco”, ou seja, abaixo da densidade normal/esperada de ozono.
Assim, o tempo exato e amplitude do buraco de ozono na Antártida depende da estação do ano, mas também de variações meteorológicas regionais: tempo mais frio vai fazer com que o buraco persista mais tempo.
Desta forma podemos pensar que o aquecimento global vai permitir aumentar a camada de ozono.
No entanto, localmente, devido às alterações climáticas, pode estar mais frio (devido aos extremos climáticos). Por isso, a Antártica pode ter extremos de frio, levando a que o buraco aumente, como aconteceu no ano 2000.
Já no ano 1988, devido a uma vaga de calor sobre a região, o buraco do ozono diminuiu enormemente.
Além disso, existem outras variáveis: as emissões de diclorometano – utilizado como solvente, na indústria alimentar, etc – têm estado a aumentar. Isto leva a uma diminuição da espessura da ozonosfera.
Devido a esta variabilidade sazonal (depende do Sol) e meteorológica (depende das condições locais de temperatura), no ano de 2020 o buraco de ozono sobre a Antártica foi bastante pequeno e diminuiu rapidamente, enquanto no ano de 2021 o buraco foi enorme e prolongou-se bastante no tempo.
Em Janeiro deste ano, tínhamos boas notícias: o buraco de ozono sobre a Antártica estava a fechar-se.
Note-se que era Verão no Hemisfério Sul, por isso o buraco comportou-se como esperado.
Agora, em Outubro de 2023, surgiram notícias alarmistas na comunicação social de que o buraco na camada de ozono estava enorme.
As medições foram feitas pelo satélite Copernicus Sentinel-5P.
A notícia original é da ESA, aqui.
As notícias alarmistas levam as pessoas a terem problemas de ansiedade e a desconfiarem da ciência.
Sempre que existem notícias “extraordinárias”, deveria ser dado o contexto.
Por exemplo, neste caso:
Como já foi explicado em cima, este aumento no buraco de ozono é esperado, já que estamos na Primavera sobre a Antártica.
Nos meses anteriores, em que foi Inverno (menos Sol, e consequentemente menor radiação ultravioleta), diminui a densidade do ozono sobre a Antártica, provocando um aumento do buraco de ozono.
Todos os anos é assim.
O ano passado, a Antártica passou por uma vaga de calor, levando a um menor buraco de ozono.
No entanto, este ano, que eu tenha visto, não há notícias disso. Assim, o Inverno na Antártica foi o habitual: frio.
Além disso, o ano passado, existiu a erupção do vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha’apai, perto da Antártica.
Antje Inness, cientista do Copernicus Atmosphere Monitoring Service, explica que o vulcão “ejetou grandes quantidades de vapor de água para a estratosfera, vapor de água que se espalhou pelo resto do planeta até chegar à Antártida no final do ano de 2022. Este vapor de água pode ter levado ao aumento da formação de nuvens estratosféricas polares, onde os clorofluorcarbonos (CFC) podem reagir e acelerar a destruição da camada de ozono. A presença de vapor de água também pode contribuir para o arrefecimento da estratosfera antártica, aumentando ainda mais a formação destas nuvens estratosféricas polares e resultando num vórtice polar mais forte”.
Talvez seja esta razão que levou ao buraco na camada de ozono ter “aberto mais cedo” e ter crescido mais rapidamente.
Além disso, existem estudos científicos que mostram que os níveis de cinco CFCs aumentaram rapidamente de 2010 a 2020.
Ou seja, substâncias que pensávamos que tínhamos erradicado, afinal continuam ativas e prejudicam a camada de ozono.
Por outro lado, variáveis como as emissões de diclorometano têm estado a aumentar. Isto leva a uma diminuição da espessura da ozonosfera.
Por tudo isto, é absolutamente normal que o buraco de ozono aumente em Outubro.
Estas notícias durante a Primavera no Hemisfério Sul são totalmente esperadas. É a ciência/conhecimento científico que o diz.
Nada disto é causa de alarme, mas sim somente de monitorização.
Por fim, podem/devem existir outras variáveis que ainda desconhecemos.
Já sabemos muito, devido à ciência, e continuando a seguir a ciência iremos certamente descobrir mais fatores que influenciam a espessura da camada de ozono.
Com mais informação teremos gradualmente mais conhecimento. Como sempre. Devido à ciência.
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