Buraco na Camada de Ozono está a aumentar

Crédito: Vajiram & Ravi

O ozono é uma molécula composta por 3 átomos de oxigénio (O3).
É só isto. É uma substância que resulta de uma reação química normal.

Esta molécula ocorre de forma natural, mas também é criada pelo Homem.
A sua formação natural deriva da interação dos raios ultravioleta do Sol com o oxigénio molecular (O2): a radiação ultravioleta solar rompe as ligações entre os dois átomos de oxigénio, fazendo com que cada solitário átomo possa se combinar com outra molécula de oxigénio (O2), formando o ozono (O3).

As várias moléculas de ozono formam um gás que existe na estratosfera terrestre, perto da troposfera.
A camada de ozono existente entre cerca de 20 e 30 quilómetros acima da superfície terrestre absorve a grande maioria da radiação ultravioleta do Sol, protegendo-nos dessa radiação solar que seria bastante danosa para nós (pode provocar, por exemplo, cancro na pele, quando estamos desprotegidos durante muito tempo a apanhar Sol na praia) – na verdade, é o ciclo referido no parágrafo anterior, entre o ozono e o oxigénio, que nos protege dos raios ultravioleta.

Crédito: NASA, Earth Observatory

No sentido contrário, para a astronomia, a ozonosfera é prejudicial, já que reduz a quantidade de radiação ultravioleta que chega ao solo.

Assim, se quisermos estudar os objetos astronómicos no comprimento de onda da luz ultravioleta temos que colocar telescópios no espaço.

Crédito: Science Facts

Há uns anos, percebeu-se que o buraco na camada de ozono era enorme.
Estávamos a perder a camada de ozono, e assim iríamos perder uma das características terrestres que nos permitem sobreviver: nós, humanos, e a maioria dos seres vivos.

Se a falha na camada de ozono sobre a Antártica continuasse a aumentar, as consequências seriam obviamente para todo o planeta.

Buraco do ozono a 4 de Outubro de 2004 com dados obtidos pelo satélite da NASA Aura.
Crédito: NASA

Um relatório das Nações Unidas de 2022, mostrou que o buraco na camada de ozono estava a diminuir.
Isto deve-se às políticas de diminuição dos CFCs, que prejudicavam a existência de ozono na atmosfera (o cloro gasoso interrompe o ciclo referido).

Buraco na camada de ozono sobre a Antártica.
Crédito: NASA

Hoje sabemos que essa medida de diminuir drasticamente a produção de CFCs foi essencial.
Mas também temos conhecimento de outras características dessa camada de ozono.

Por exemplo, sabemos que o que conhecemos como “buraco” não é na verdade um buraco, mas sim uma redução na densidade do gás (moléculas) do ozono.
Também sabemos que essa espessura da camada do ozono (medida em DUs – Unidades de Dobson) vai aumentando e diminuindo sazonalmente, devido a fatores naturais (o Sol): 400 DUs equivale a 4 milímetros de espessura. Normalmente, antes da Primavera na Antártica a leitura é de cerca 275 DUs. Durante o Verão no Hemisfério Sul, esse “buraco” vai diminuindo de tamanho: o ozono vai sendo restabelecido. Se estiver abaixo de 200 DUs é considerado “buraco”, ou seja, abaixo da densidade normal/esperada de ozono.

Assim, o tempo exato e amplitude do buraco de ozono na Antártida depende da estação do ano, mas também de variações meteorológicas regionais: tempo mais frio vai fazer com que o buraco persista mais tempo.

Desta forma podemos pensar que o aquecimento global vai permitir aumentar a camada de ozono.
No entanto, localmente, devido às alterações climáticas, pode estar mais frio (devido aos extremos climáticos). Por isso, a Antártica pode ter extremos de frio, levando a que o buraco aumente, como aconteceu no ano 2000.
Já no ano 1988, devido a uma vaga de calor sobre a região, o buraco do ozono diminuiu enormemente.

Além disso, existem outras variáveis: as emissões de diclorometano – utilizado como solvente, na indústria alimentar, etc – têm estado a aumentar. Isto leva a uma diminuição da espessura da ozonosfera.

Devido a esta variabilidade sazonal (depende do Sol) e meteorológica (depende das condições locais de temperatura), no ano de 2020 o buraco de ozono sobre a Antártica foi bastante pequeno e diminuiu rapidamente, enquanto no ano de 2021 o buraco foi enorme e prolongou-se bastante no tempo.

Em Janeiro deste ano, tínhamos boas notícias: o buraco de ozono sobre a Antártica estava a fechar-se.
Note-se que era Verão no Hemisfério Sul, por isso o buraco comportou-se como esperado.

Agora, em Outubro de 2023, surgiram notícias alarmistas na comunicação social de que o buraco na camada de ozono estava enorme.

As medições foram feitas pelo satélite Copernicus Sentinel-5P.

A notícia original é da ESA, aqui.

Crédito: ESA, DLR, Copernicus

As notícias alarmistas levam as pessoas a terem problemas de ansiedade e a desconfiarem da ciência.

Sempre que existem notícias “extraordinárias”, deveria ser dado o contexto.

Por exemplo, neste caso:

Como já foi explicado em cima, este aumento no buraco de ozono é esperado, já que estamos na Primavera sobre a Antártica.
Nos meses anteriores, em que foi Inverno (menos Sol, e consequentemente menor radiação ultravioleta), diminui a densidade do ozono sobre a Antártica, provocando um aumento do buraco de ozono.
Todos os anos é assim.

O ano passado, a Antártica passou por uma vaga de calor, levando a um menor buraco de ozono.
No entanto, este ano, que eu tenha visto, não há notícias disso. Assim, o Inverno na Antártica foi o habitual: frio.

Além disso, o ano passado, existiu a erupção do vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha’apai, perto da Antártica.
Antje Inness, cientista do Copernicus Atmosphere Monitoring Service, explica que o vulcão “ejetou grandes quantidades de vapor de água para a estratosfera, vapor de água que se espalhou pelo resto do planeta até chegar à Antártida no final do ano de 2022. Este vapor de água pode ter levado ao aumento da formação de nuvens estratosféricas polares, onde os clorofluorcarbonos (CFC) podem reagir e acelerar a destruição da camada de ozono. A presença de vapor de água também pode contribuir para o arrefecimento da estratosfera antártica, aumentando ainda mais a formação destas nuvens estratosféricas polares e resultando num vórtice polar mais forte”.
Talvez seja esta razão que levou ao buraco na camada de ozono ter “aberto mais cedo” e ter crescido mais rapidamente.

Além disso, existem estudos científicos que mostram que os níveis de cinco CFCs aumentaram rapidamente de 2010 a 2020.
Ou seja, substâncias que pensávamos que tínhamos erradicado, afinal continuam ativas e prejudicam a camada de ozono.

Por outro lado, variáveis como as emissões de diclorometano têm estado a aumentar. Isto leva a uma diminuição da espessura da ozonosfera.

Por tudo isto, é absolutamente normal que o buraco de ozono aumente em Outubro.
Estas notícias durante a Primavera no Hemisfério Sul são totalmente esperadas. É a ciência/conhecimento científico que o diz.

Nada disto é causa de alarme, mas sim somente de monitorização.

Por fim, podem/devem existir outras variáveis que ainda desconhecemos.
Já sabemos muito, devido à ciência, e continuando a seguir a ciência iremos certamente descobrir mais fatores que influenciam a espessura da camada de ozono.
Com mais informação teremos gradualmente mais conhecimento. Como sempre. Devido à ciência.

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