Nas redes sociais, anda a ser partilhada a informação de que a sensação de aquecimento global só existe à superfície da Terra, e que não existe qualquer interação com a atmosfera terrestre.
Ora, isto é um perfeito disparate.
Ainda este ano, um estudo concluiu que a atividade humana causou um arrefecimento da estratosfera 12 a 15 vezes maior do que aconteceria apenas com causas naturais.
Como diz o Observador:
“A atmosfera da Terra é composta por várias camadas: a troposfera (os primeiros 12 quilómetros), a estratosfera (12 a 50 quilómetros), a mesosfera (50 a 80 quilómetros), a termosfera (80 a 700 quilómetros) e a exosfera (700 a 10 mil quilómetros). As medições da temperatura à superfície da Terra dão-nos informação sobre o que se passa na troposfera (…). Ou seja: quando queremos compreender o impacto da atividade humana no comportamento do clima, o aquecimento da troposfera é um dos indicadores centrais.
(…) a comunidade científica já concluiu também que, da mesma forma que a atividade humana tem dado um contributo significativo para o aquecimento da troposfera, também tem contribuído consideravelmente para o arrefecimento da estratosfera — um impacto igualmente perigoso para o planeta e para os seres humanos. (…)
A atividade humana fez descer a temperatura da estratosfera de duas formas diferentes: em primeiro lugar, a destruição da camada de ozono devido à proliferação dos clorofluorcarbonetos fez com que aquela camada retivesse menos radiação ultravioleta oriunda do Sol, aquecendo menos; em segundo lugar, o aumento do dióxido de carbono na troposfera, da mesma forma que faz aumentar a temperatura dessa camada atmosférica, impede o calor de chegar à camada seguinte. Neste caso, o impacto humano traduz-se numa redução de temperatura daquela camada da atmosfera — igualmente problemática para o planeta.
Ao mesmo tempo, um outro estudo recente deu conta de como o aumento da temperatura do planeta Terra está a fazer expandir a troposfera, o que tem empurrado a estratosfera para altitudes superiores.
(…)
Além de tudo isto, a publicação usa também a expressão “sensação de ‘aquecimento’”, referindo-se como mera “sensação” a um facto mais que comprovado.”
O climatologista Mário Marques disse: “O que é a superfície terrestre: se formos falar em termos científicos é a litoesfera, portanto é o chão. A temperatura é medida em vários níveis da atmosfera, neste caso da troposfera, e está a aumentar, senão os glaciares não estavam a deixar de existir praticamente e a atmosfera não aquecia. Está a aquecer de tal forma que já nem há as neves. (…) Claro que a atmosfera onde se situam os oceanos é mais fresca porque a água serve de termostato, a água tem uma temperatura mais estável e não aquece como a temperatura terrestre.”
O climatologista Carlos da Câmara completou: “o aquecimento da superfície terrestre é apenas uma das muitas alterações do Sistema Climático – isto é, do conjunto terras emersas, oceanos, gelos, biosfera e atmosfera – em resposta às modificações no balanço de energia devidas, em muito grande parte (mas não exclusivamente), às emissões de gases com efeito de estufa associadas à ação do Homem. (…) A fim de restaurar o balanço de energia no topo da atmosfera, o Sistema Climático tem de compensar a absorção de energia pelos gases com efeito de estufa emitindo mais energia a partir da superfície terrestre, o que implica que, em média, se tenha um aumento de temperatura da superfície do globo (terras emersas e oceanos). (…) Mas não se trata do único efeito em termos de alterações de temperatura; observam-se também modificações profundas nos regimes de ventos e da precipitação com repercussões no coberto vegetal e, consequentemente, na vida animal e na vida do Homem.”
Fontes: Polígrafo, Polígrafo SIC, Observador.
1 comentário
A água servir como termostato não impede os oceanos de sofreram com as alterações climáticas. Com o degelo (derretimento) das geleiras, os oceanos assumem a tendência de elevação, ou seja, para muito breve a tendência é o aumento do volume das águas e consequente diminuição de tamanho nas cidades costeiras (quando não o desaparecimento total de algumas delas, penso que a maioria).