Deixem-me começar por aquilo que é óbvio: as vacinas funcionam!
Tenho-o mostrado aqui dezenas de vezes.
Mas qualquer pessoa o pode comprovar na prática com inúmeras evidências, incluindo estas: a mortalidade infantil caiu de forma incrível com a introdução de vacinas, e doenças que matavam milhões de pessoas em todo o mundo estão agora exterminadas em vários países devido ao plano de vacinação.
Qualquer vacina (assim como qualquer outro assunto em ciência) baseia-se em probabilidades.
E para nós, consumidores, a probabilidade que interessa é a eficácia das vacinas contra a doença em causa.
Qualquer probabilidade de eficácia é boa.
Mesmo uma percentagem baixíssima de 10% de eficácia é sempre melhor que 0%.
Se em 100 pessoas, morrerem todas de determinada doença, e se uma vacina salvar 10 vidas, obviamente deve-se tomar a vacina: porque assim é garantido o salvamento de algumas pessoas, mesmo que sejam poucas pessoas devido à baixa eficácia da vacina. 10 pessoas salvas é sempre melhor que 0 pessoas.
A outra característica que é importante nas vacinas é a sua segurança: qualquer coisa que funcione, tem efeitos secundários. Assim, para ser segura, a vacina tem que ter um mínimo de efeitos secundários, ao ponto da sua eficácia se sobrepôr aos parcos efeitos secundários que poderá transmitir a algumas (a uma percentagem baixíssima) de pessoas.
Na altura da pandemia da COVID-19 – e tal como para outras doenças -, existiam várias vacinas em competição, apesar da vacina da Astrazeneca ter sido uma das primeiras fabricadas e comercializadas.
Assim, a comparação entre elas deu-se sobretudo em termos de 2 fatores: eficácia e segurança.
As vacinas chinesas, por exemplo, tinham uma eficácia baixa. Por isso é que ninguém lhes dava crédito.
As vacinas da Janssen Pharmaceuticals, normalmente ditas da americana Johnson & Johnson, tinham uma eficácia de 76%. Isto é muito bom. Mas ainda longe do ideal exigido pelos cientistas, que seria superior a 90%.
A vacina inglesa Vaxzevria, normalmente chamada de Astrazeneca, tinha uma eficácia um pouco melhor que a da Johnson & Johnson. Mas ainda assim, longe do ideal. Por outro lado, desde o início existia um receio em relação à sua segurança total, nomeadamente no que concerne ao efeito secundário de potencial desenvolvimento de coágulos sanguíneos.
As vacinas baseadas na tecnologia mRNA, da Moderna e da Pfizer, eram, de longe, as mais eficazes e as mais seguras.
Devido a saber isto, quando foi a altura de me vacinar, exigi sempre ser vacinado com as vacinas baseadas na tecnologia mRNA, porque pelos estudos e artigos científicos publicados, elas eram sem dúvida as melhores (em termos de eficácia e segurança).
Na altura, escolhi a vacina Moderna, porque a sua eficácia era ligeiramente superior à da Pfizer.
Devido ao ceticismo europeu em relação à vacina da Astrazeneca, ela foi administrada sobretudo no Reino Unido, e o excedente de vacinas foi distribuído em África e na América do Sul (a vacina tinha uma boa eficácia, por isso era melhor administrá-la em países que precisavam, do que deitar todas as doses ao lixo).
Ao longo dos meses e anos desde a pandemia, novas variantes do vírus SARS-CoV-2 foram aparecendo.
As vacinas mais eficazes foram sendo adaptadas, para também nos protegerem dessas variantes. Essas adaptações são mais fáceis e mais baratas de fazer com a tecnologia mRNA do que com a tecnologia tradicional.
No início do ano, uma nova variante foi-se tornando dominante em vários países.
É uma variante completamente diferente, com 30 mutações na proteína spike.
A variante chama-se JN.1
Ora, tendo em conta que existem vacinas mais eficazes e mais adaptáveis que a vacina da Astrazeneca, comercialmente não faz sentido continuar a produzir e a distribuir uma vacina que não é tão boa como as outras: seria perder dinheiro.
Além disso, comparando com as vacinas com tecnologia mRNA, a vacina da Astrazeneca sempre foi mais problemática: com mais efeitos secundários raros, sobretudo mais severos.
Após a empresa admitir que a vacina Astrazeneca causava um efeito secundário bastante raro, mas severo (síndrome de trombose associada a baixa acentuada de plaquetas – coágulos entopem os vasos sanguíneos), então a sua credibilidade na opinião pública caiu ainda mais – apesar deste síndrome ser muito superior em pessoas infetadas com o vírus SARS-CoV-2 do que em pessoas vacinadas com a Astrazeneca.
Devido a isto, mais uma vez, comercialmente a decisão mais racional seria deixar de produzir a Astrazeneca, e deixar o trabalho de proteger as pessoas para as vacinas mais eficazes, mais seguras e mais adaptáveis a variantes.
Se a vacina da Astrazeneca fosse a única contra a COVID-19, teria sido muito boa, bastante útil: se olharmos só para os seus números, e se não compararmos com outras vacinas contra a mesma doença da COVID-19. Estima-se que só esta vacina tenha salvo 6 milhões de vidas.
Mas havendo competidores no mercado, obviamente o mercado preferiu as vacinas mais eficazes e mais seguras.
1 comentário
Me lembro de ter tomado duas doses só que não sei de qual fabricante (ainda era 2020).