Conspirações sempre existiram.
Com as redes sociais, os movimentos conspirativos têm um megafone para “apanharem” os mais ignorantes em determinado tema.
Isto foi particularmente relevante durante a pandemia, em que se criaram vários movimentos “pela verdade”, numa manipulação linguística alertada por George Orwell, com o seu Newspeak.
Apesar da fase crítica da pandemia ter terminado – devido às campanhas de vacinação – continuam a existir encontros presenciais chamados “Festivais da Verdade”, que na realidade são entretenimento promotor de mentiras, ignorância e conspirações. E ao preço de 100 euros por pessoa.
Os seus participantes “negam as alterações climáticas, são contra as vacinas ou rejeitam qualquer informação veiculada pelos órgãos de Comunicação Social”.
O mais curioso é que nestes festivais conspirativos unem-se as ideologias da extrema-direta e da extrema-esquerda: o extremismo é semelhante, e aparentemente ninguém percebe que defendem justificações diferentes.
Uns querem maior liberdade individual, enquanto outros defendem que o Estado devia controlar tudo, incluindo a comunicação social e os cientistas.
Uns dizem que as vacinas os tornaram magnéticos, enquanto outros dizem que conseguem sobreviver só com a energia do Sol.
Uns acreditam nas pseudoterapias New Age, e outros acreditam no poder do dinheiro (materialismo).
Uns dizem que o poder é físico e real, enquanto outros dizem que todos temos um poder mágico.
Uns dizem que os militares estão secretamente a controlar o país (Reino Unido), e outros dizem que o controlo é planeado por um culto satânico.
Uns dizem que as câmeras que controlam o tráfego são armas biológicas para nos transformarem em zombies, enquanto outros dizem que essas câmeras podem matar-nos (fazendo-nos explodir por dentro).
Uns dizem que o 11 de Setembro (queda das torres em Nova Iorque) foi culpa do governo dos EUA, enquanto outros acreditam que foi uma mensagem enviada pelos extraterrestres.
Uns dizem que um pequeno grupo de pessoas controla tudo, e outros acreditam que um grupo de alienígenas reptilianos (descendentes de dinossauros que fugiram para a Lua) apoderaram-se dos corpos das elites.
Uns acreditam que os Humanos são os culpados, e outros acreditam que existem “seres galáticos vindos de dimensões acima da quinta dimensão” que nos guiam pela verdade.
De qualquer modo, ambos os extremismos conspiratórios mostram a mesma tendência: a realidade não existe; todos fizeram a sua “própria investigação”, não em laboratórios, mas na internet; as ideias mais chalupas são as que têm maior aderência pelas pessoas mais ignorantes e influenciáveis/manipuláveis.
Uma das reflexões mais estranhas feita num desses festivais foi: não interessa qual é a realidade. Não interessa estudar a natureza. O mais importante é a crença de cada pessoa. As crenças são superiores ao conhecimento. A emoção sobrepõe-se à razão. Por isso, não se pode criticar as crenças de cada um.
E pronto, com este lema, obviamente podem afirmar o maior disparate que quiserem…
Esta reflexão veio a propósito da reportagem da Sky News, que visitou um destes festivais no Reino Unido:
Podem ver a mesma reportagem, em português, na SIC Notícias, aqui.
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