No post anterior referente a este tema (O Lado Obscuro (Claro) dos OGM?) o leior Nuno José Almeida referiu, e já não é a primeira vez, que o grande perigo nos OGM é o jogo económico. E eu acho o mesmo. Contudo, como estou do lado da ciência a minha visão é que só há perigo biológico se os limites de segurança forem ultrapassados. Quanto ao perigo económico há por todo o lado e não depende da ciência.
A ciência constrói o edifício e impõe limites bioéticos. Contudo, há quem transforme a sala do edifício numa garagem de produção de drogas ilegais e promova, assim, interesses económicos. Não vamos julgar o arquiteto ou o construtor por isso.
Assim o cientista invente, engenha, cria. Os outros vendem e usam. A bioética tem de ser a ponte segura. Continuando agora a partir do post anterior vamos ver alguns pontos fracturantes, um deles é a fome no mundo mas desta vez referida por senhores de alguma idade, calvos e de cabelo grisalho.
Jeffrey Smith apresentou no seu livro , Genetic Roulette: The Documented Health Risks of Genetically Engineered Foods, 6 casos de supostos efeitos negativos de OGM:
1- A alergia a soja, no Reino Unido, disparou com a entrada de soja GM;
2- Observou-se elevada mortalidade de ovelhas em lavouras de algodão GM;
3- Ratos alimentados com milho GM apresentaram problemas de saúde;
4- Galinhas alimentadas com milho GM duplicaram a taxa de mortalidade;
5- Suplemento alimentar GM, no Reino Unido, matou 100 pessoas e deixou 500 doentes;
6- aumentou a taxa de cancro em pessoas que beberam leite com hormona de crescimento bovino produzido com técnicas de transgenia.
Parece que bate certo mas falta o crucial. Não há uma evidência de que estes pontos tenham sido provocados pelos OGM. Neste caso há quem argumente que a ausência da prova não é a prova da ausência. Mas também não haver prova definitiva pode significar que o culpado pode não ser o que se pensa. Nestes pontos estamos perante inferências por plausibilidade em que a argumentação plausível não se limita à inferência de explicações.
O ser humano tem, desde que começou a cultivar, a seleccionar genes para melhorar as espécies quanto ao seu valor nutritivo. No entanto há diferença qualitativa entre “cruzar variedades diferentes e introduzir genes de uma espécie de outra distante filogeneticamente”. Os genes inseridos por transgenia poderão conferir uma reprodução diferencial positiva à espécie GM e promover uma disseminação rápida e descontrolada. Isso se, por descuido, forem libertadas.
Eliminação da Fome
Este é um argumento falacioso porque não é a falta de alimento que provoca a fome mas sim o problema da distribuição. No entanto podem fornecer uma melhor qualidade de alimentação com a melhoria do teor nutricional, diminuição na aplicação de agrotóxicos e cura de doenças.
Na Ásia estava a crescer o número de casos de cegueira devido à falta de ingestão de β-caroteno, que se deveu à destruição do ecossistema onde era endémica a planta batua, rica nessa proteína. Assim, começou a produzir-se arroz dourado, rico em β-caroteno, para colmatar essa falta.
Para Peter Raven “os danos ambientais causados pelos sistemas de agricultura tradicionais, envolvendo a aplicação de grandes quantidades de produtos químicos são (…) bem maiores do que os danos causados por plantações de OGMs“
Contudo 5 soluções foram propostas para alimentar o mundo:
1- interromper a expansão da agricultura obrigando a um desflorestamento mais lento para reduzir os danos ambientais. O programa REDD (Reduzindo Emissões do Desflorestamento e Degradação) é um dos vários exemplos.
2- preencher as “lacunas da produção” mundial ao apostar nos avanços de maquinaria e de genética para aumentar os “limites de produção”. Técnicas inovadoras como as de plantio de “cultivo reduzido” melhoram a produção e afectam menos o solo. “Abandonar restos da colheita no campo para que se decomponham em nutrientes” também ajuda.
3- utilizar os recursos com mais eficiência. Este ponto tem muito a ver com a optimização de várias técnicas com os parâmetros ambientais. Ou seja, conseguir uma “maior produção por unidade de água, fertilizantes e energia“. Existe uma série de hotspots que possibilitam a redução significativa de fertilizantes. Eles encontram-se na China, norte da Índia, no centro dos Estados Unidos e no oeste europeu. Incrivelmente 10% das terras férteis produzem cerca de 40% de poluição por fertilizantes.
A quarta solução infere que a utilização das safras usadas para a engorda de bovinos sejam substituídas para alimentar pessoas. Desta forma iremos ter menos carne bovina na mesa. Esta mudança de hábito incrementaria o suprimento nutricional anual em 50%.
4- diminuir o desperdício. Cerca de 1/3 dos alimentos produzidos são desperdiçados de alguma forma.
5- nos países desenvolvidos a maior parte do desperdício é do consumidor final. Nestes casos uma solução será diminuir as doses. Enquanto isso, em países sub-desenvolvidos as perdas ocorrem na produção devido a pragas ou desastres ambientais que dizimam as safras, ou ainda por falta de infraestrutura e de mercado. No entanto, a magnitude de desperdício é a mesma que em países ricos.
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Os OGM trazem avanços na alimentação mas com produtos agrícolas mais resistentes a pragas e a temporais, com menor tempo de espera, com menos agroquímicos e alterados para populações específicas como já vimos. Também na área da saúde se notará a sua importância. Os cereais vão ser as próximas vacinas já que o seu prazo de validade é muito superior aos lotes das actuais vacinas.
2 comentários
Excelente Dário.
Off topic, os comentários perderam a escolha de seguir, vê lá isso aí com quem gere.
Já enviei a queixa ao webmaster 🙂