As notícias no Expresso, Público (Lusa), RTP, e um pouco por toda a comunicação social portuguesa dão conta que um astrónomo português, José Afonso, ajudou a “descobrir a galáxia mais luminosa do Universo”.
Dito assim, realmente é fenomenal…
E, note-se, a investigação é realmente muito interessante. Não tem é nada a ver com o que os jornalistas divulgaram…
A galáxia denomina-se IRAS 08572+3915 e encontra-se a cerca de 2.000 milhões de anos-luz de distância da Terra.
Foi descoberta com o telescópio IRAS, há cerca de 30 anos. Por isso, dizer que a galáxia foi descoberta agora é… errado.
O que se estudou agora foi a radiação emitida pela galáxia, levando-a a ser uma candidata a galáxia mais “luminosa” no nosso Universo Local. A análise desta luminosidade foi feita com a ajuda do telescópio espacial Spitzer e do telescópio espacial Herschel. Como se percebe, o que se mediu foi a radiação infravermelha. Ou seja, a galáxia é bastante luminosa em… infravermelho (calor). Por isso se diz que é importante para compreender a evolução da galáxia em que a “luminosidade” (em infravermelho) está ligada a uma forte formação estelar. Dizer nos jornais e televisão que ela é luminosa sem explicar em qual comprimento de onda leva obviamente os leitores/espectadores a pensarem que é na luz visível… leva-os ao engano.
José Afonso – investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e diretor do Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa (CAAUL) – é um dos astrofísicos envolvidos nesta análise. O realce ao investigador português é, obviamente, inteiramente merecido.
Por fim, o artigo científico foi submetido em Setembro passado, e pode ser lido aqui. Se não quiserem ler todo o artigo, atentem no título: “Herschel observations and a model for IRAS 08572+3915: a candidate for the most luminous infrared galaxy in the local (z < 0.2) Universe" (o negrito é da minha responsabilidade). Comparem isto com o que lêem nos jornais e RTP sobre este assunto.
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