Albert Einstein e o segredo da aprendizagem

A 5 de novembro de 1915, quando o mundo já estava mergulhado na Primeira Grande Guerra Mundial desde 28 de julho do ano anterior, o físico Albert Einstein enviou uma carta ao filho mais velho, Hans Albert Einstein, então com 11 anos.

Einstein estava a viver em Berlim e acabara de completar a sua Teoria da Relatividade Geral. Os dois filhos, Hans e Eduard “Tete” Einstein, vivam com a mãe em Viena, uma cidade mais afastada dos combates e relativamente segura. A relação de Einstein com a mulher, a matemática sérvia Mileva Maric, sua colega de escola, foi-se esfriando com os anos e a distância, acabando no divórcio do casal, em 1919.

A carta enviada por Einstein faz parte de uma coleção de cartas de grandes nomes na história dos Estados Unidos, coligidas pela escritora Dorie McCullough Lawson e publicadas em livro em maio de 2004: Posterity: Letters of Great Americans to Their Children.

Einstein com o filho, Hans Albert Einstein, e o neto Bernhard, em 1936

Einstein com o filho, Hans Albert Einstein, e o neto Bernhard, em 1936

Meu querido Albert,

Ontem recebi a tua carta e fiquei muito feliz. Já estava com medo que nunca mais me escrevesses. Quando estive em Zurique, disseste-me que era estranho para ti veres-me aí. Daqui por diante, é melhor encontrarmo-nos num sítio diferente onde ninguém possa interferir com o nosso conforto.

Em todo o caso, insistirei que a cada ano passemos um mês inteiro juntos, para que vejas que tens um pai que te aprecia e ama. Também poderás aprender muitas coisas boas e bonitas de mim, coisas que outros não poderão oferecer-te tão facilmente. O que eu consegui, através de trabalho muito esforçado, beneficiará não só estranhos mas também os meus próprios rapazes. Completei um dos mais belos trabalhos da minha vida e, quando fores mais crescido, falar-te-ei disso.

Estou muito contente que gostes do piano. Isso e a carpintaria são, na minha opinião, a melhor ocupação para alguém da tua idade, melhor ainda do que a escola. Porque são coisas muito apropriadas a um jovem como tu. No piano toca sobretudo as peças que te agradarem, mesmo que o professor não as tenha atribuído. Esta é a melhor forma de aprender: fazeres alguma coisa com tanta satisfação que nem dás pelo tempo a passar. Às vezes, estou tão envolvido no meu trabalho que me esqueço de almoçar… (…)

O segredo da aprendizagem segundo Einstein: dedicarmo-nos a uma vocação que nos dá tanta satisfação que nem notemos o tempo a passar. É irrelevante que seja profissão ou apenas um hobbie, dê muito, pouco ou nenhum dinheiro, seja manter um simples blogue ou compor a nona sinfonia, cuidar de um jardim ou pintar retratos – a partir do momento em que a tenhamos descoberto nunca desistiremos dela, independentemente do que outros tiverem a dizer sobre a qualidade ou utilidade do que fazemos. É uma importante lição de vida, parece-me.

O destino de Hans

Quem dá as melhores lições não faz esquecer que os seres humanos, sem exceção, estão cheios de falhas. No caso de Einstein, nunca mais voltou a ver o filho mais novo, Eduard, internado numa instituição psiquiátrica devido a sérios problemas de esquizofrenia. A mãe Mileva cuidara dele até morrer, em 1948, mas o pai preferira não assumir o fardo.

Quanto a Hans Albert, o miúdo de 11 anos a quem Einstein quis ensinar o segredo da aprendizagem, cresceu para se tornar Professor de Hidráulica na Universidade de Berkeley, nos EUA, e autor do modelo matemático para o cálculo do transporte de sedimentos nos rios, ainda hoje utilizado em Hidrologia e em Sedimentologia. Hans Albert – um especialista mundial na sua área – continuou a tocar piano e flauta até morrer, em 1973.

No que respeita aos conselhos do pai, contudo, a vida deu-lhe mais conflitos do que proveitos: no ano em que morreu, entrevistado pelo The New York Times, aceitou falar do pai: «Provavelmente, o único projeto do qual ele desistiu fui eu. Tentou dar-me conselhos, mas cedo descobriu que eu era demasiado teimoso e que estava apenas a perder tempo.»

Hans Albert referia-se ao facto de o pai ter desaprovado o seu casamento com uma mulher mais velha e à vontade de que largasse os estudos do transporte sólido nos rios e se dedicasse à física quântica, um assunto que para Einstein era «menos complicado» do que a sedimentologia dos rios.

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  1. Faço minhas as suas palavras: “Quem dá as melhores lições não faz esquecer que os seres humanos, sem exceção, estão cheios de falhas.” Que triste! Mais triste ainda, são as palavras do filho: “Provavelmente, o único projeto do qual ele desistiu fui eu.” E ainda pior que isso, o fato de ele não ter cuidado do filho com esquizofrenia. Isso só confirma suas palavras de que os seres humanos são cheios de falhas. Mesmo a Bíblia não isenta as falhas dos homens que andaram com Deus. É a vida! Devemos reter o que é bom e por em prática.

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