Imagine uma chuva de gás natural líquido, uma chuva de ácidos, uma chuva de pedras preciosas ou uma chuva de ferro derretido… Imagine as chuvas de outros mundos do Universo, e terá grandes surpresas como essas.
Os fenômenos meteorológicos são diversificados, e dependem de inúmeros fatores atmosféricos, climáticos, químicos, físicos, geológicos e até mesmo biológicos. As precipitações de gotas líquidas provenientes a partir de nuvens não são uma exclusividade da atmosfera terrestre, e em outros mundos, uma natureza completamente alienígena forma formas muito exóticas de chuvas.
Em Vênus: Chuva Infernal, metálica e corrosiva
Tudo é hostil no Planeta gêmeo da Terra, e a chuva não é exceção! A chuva em Vênus é uma bizarra combinação de chumbo e enxofre, constituindo uma forma de precipitação extremamente pesada. Os estudiosos notaram uma nevasca ácida sobre as montanhas mais altas, com sulfuretos de bismuto. Vênus é um Planeta muito quente, com sua superfície ardendo a cerca de +500 ºC, e sua atmosfera é a mais pesada já observada num mundo rochoso: a pressão é 90 vezes maior que a atmosfera da Terra ao nível do mar. Um passado atribulado por intensas erupções vulcânicas lançou metais da crosta venusiana ao espaço e à atmosfera, que ao atingirem certas alturas condensaram para cair pesadamente de volta à superfície, formando uma névoa e camadas similares ao que a neve faz na Terra, selando o perfil químico das altas latitudes do planeta. Os especialistas estão muito interessados em um dia poder estudar diretamente os isótopos do chumbo dessa formação, que poderá ajudar a estimar a idade do Planeta com maior precisão.
Em Io: Chuva vulcânica que “rejuvenesce” um mundo
Da mesma forma que em Vênus, e numa escala mais radical, a chuva no mundo mais vulcânico do sistema solar moldou sua paisagem de bilhões de anos, escondendo qualquer cratera que se formasse, e mascarando a verdadeira idade do satélite jupiteriano. Os vulcões colossais lançam materiais, principalmente enxofre, ao espaço, onde se condensa no frio do espaço e cai novamente na superfície de uma nevasca ácida. A tênue atmosfera de Io não consegue reter o calor dos vulcões, e assim caracteriza regiões mais densas perto desses, com temperaturas médias indo para altíssimas quando uma erupção ocorre, sendo que a temperatura em outras partes é quase a do espaço sideral, abaixo de -120 ºC. Já a nevasca ácida de Io segue pelo espaço, e parece atingir as pequenas luas interiores perto de Io, na região mais interna do sistema lunar de Júpiter.
Em Titã: Chuvas de Gás Natural
O ciclo dos hidrocarbonetos em Titã é muito parecido ao ciclo da água na Terra, e não somente, as formações geológicas associadas às precipitações também são similares às terrestres. Nesse mundo, em que a água é como rocha e o metano é como a água, nós encontramos um mundo tão familiar na aparência quanto alienígena na química. No chamado “ciclo do metano”, ele é gasoso na atmosfera, onde é recombinado formando compostos orgânicos mais complexos, que junto com o metano condensam-se e caem sob a forma de chuvas e dão origem a uma parte substancial dos lagos e outros corpos líquidos sobre a superfície. Como os lagos sozinhos não explicam a reposição do Metano (uma vez que parte dele vira compostos mais complexos que não voltam mais a ser metano), Titã tem fontes misteriosas para a reposição do seu Metano, provavelmente criovulcanismo. A riqueza química e orgânica desse mundo, os fenômenos físicos dinâmicos mesmo sob temperaturas de -170ºC, o criovulcanismo e a presença de água que esse processo acarreta, fazem de Titã um dos candidatos mais fortes para a Exobiologia (vida extraterrestre).
Em Netuno: Chuvas de Diamantes
Esse é sem dúvida um cenário formidável. Tudo é diferente em Planetas gigantes; entre mais a fundo em suas atmosferas profundas e substanciais, e pode começar a duvidar de sua sanidade ante o que verá. Netuno é um Planeta rico em Metano, e numa grande profundidade uma pressão dezenas de milhões de vezes maior que a da nossa atmosfera é suficiente para transformar Metano (seu Carbono, para ser mais exato) em cristais de diamantes, cujos tamanhos podem ser variados de partículas, passando por jóias ideais para encaixar no anel de alguma dama milionária, a icebergs enormes. Mas cuidado, para pegá-las precisaria-se lidar com as tempestades mais violentas já observadas, numa verdadeira enxurrada de granizos de diamante varridos por ventos de 2.000 km/h.
As mesmas formações de nuvens de cristais preciosos tiveram sua presença indicada também em Urano, e mais recentemente nos gigantes maiores Saturno e Júpiter. Em ambos os gigantes, as convecções de massas gasosas trazendo nuvens das profundezas até áreas observáveis é comum e está relacionada com as colossais tempestades, como as grandes manchas de Júpiter, Saturno e Netuno.
Em CoRoT-7b: O Ciclo da Rocha
Se em Titã o Metano lembra o ciclo da água, a 500 anos-luz da Terra no Planeta CoRot-7b o processo se dá por rochas. É um planeta telúrico, isto é, rochoso como a Terra. No entanto, demasiado perto de seu Sol, a temperatura é quente o bastante para vaporizar rochas.
A atmosfera densa apresenta traços de poeira e fragmentos que se condensam de rochas vaporizadas pelo calor escaldante na superfície, e quando ganham peso precipitam-se sobre a superfície, encontrando vastas massas de rocha derretida. Sendo mais massivo que a Terra, é provável que a gravidade ambiente seja maior, tornando a precipitação das rochas ainda mais forte.
Em Belerofonte: Chuva de Ferro derretido
51-Pegasi-b, geralmente chamado Belerofonte, é um gigante de gás perto de sua estrela, com apenas 1% da distância orbital da Terra ao Sol – logo, um Júpiter quente. Com o dobro da temperatura superficial do planeta mais quente de nossa vizinhança (Vênus), formam-se nuvens de vapor de Ferro.
Como mesmo nas altitudes um Júpiter quente ainda é quente, o Ferro se condensa e vira um líquido, chovendo dessa forma sobre as camadas gasosas desse mundo ardente.
As ciências planetárias ainda têm pela frente um longo período de descobertas à medida que a sondagem sobre os planetas do Sistema Solar aumenta e os telescópios para observar os exoplanetas se tornam mais poderosos. Tem sido uma interessante dificuldade a classificação de mundos com formas, dimensões e composições tão diversificadas, algo totalmente inesperado por habitantes de um sistema tão bem dividido entre planetas telúricos e gigantes gasosos. As primeiras descobertas dos mundos exóticos das luas planetárias de Júpiter e Saturno, que começou com as missões Voyager, já mostrou um Universo muito rico e diverso dentro de nosso próprio quintal, e agora aumenta drasticamente com gigantes gasosos estranhos, planetas mistos impossíveis de classificar como terrestre ou gasoso, mundos feitos de puro diamante e mundos formados por oceanos globais. Chuvas são apenas algumas das diversas coisas muito diferentes e surpreendentes que passaremos a encontrar em outros mundos.
7 comentários
1 ping
Passar directamente para o formulário dos comentários,
i lovet xd
O texto é excelente!
Parabéns é encantador
Ótimo texto. Parabéns!
Muito bom.
Adorei o artigo.
Oi Jonatas,
Excelente artigo 🙂
Viu esta imagem? 😉
Crédito da imagem original em inglês é do Hashem AL-ghaili.
Author
Hummm, legal eu não tinha visto não. Muito boa 🙂
[…] 57 – Água em todo o lado no Universo: exemplos. Cometas de água. Estrela L1448-MM. Quasar APM 08279+5255. Água na atmosfera de 5 exoplanetas. Chuvas noutros mundos. […]