Microtúneis numa fina secção polida do meteorito Yamato 000593, numa imagem de microscopia electrónica de varrimento.
Crédito: NASA.
Cientistas da NASA anunciaram na semana passada a descoberta de evidências de interacções da matriz rochosa de um meteorito marciano com água líquida, quando este se encontrava na superfície do planeta vermelho. A equipa relata ainda a presença de estruturas com uma morfologia e composição semelhantes a depósitos e estruturas tubulares de origem biológica observados no interior de rochas terrestres.
A descoberta foi divulgada na edição de Fevereiro da revista Astrobiology e promete relançar o debate no seio da comunidade científica sobre a possibilidade de existência de vida na superfície marciana. Entre os autores deste trabalho encontram-se o falecido David McKay e os seus colegas Everett Gibson e Kathie Thomas-Keprta, três investigadores da NASA que integraram a equipa de cientistas que em 1996 publicou um controverso artigo na revista Science anunciando a descoberta de microfósseis no meteorito marciano Allan Hills 84001.
O meteorito Yamato 000593.
Crédito: NASA.
O novo estudo foca-se em estruturas observadas no interior do meteorito Yamato 000593 (Y000593), uma rocha com 13,7 kg de peso descoberta por uma expedição japonesa em 2000, no glaciar Yamato, na Antártida. Análises realizadas em 2002 e 2003 revelaram que Y000593 é um meteorito de origem marciana, pertencente ao subgrupo dos nakhlitos – rochas ígneas formadas há 1,3 mil milhões de anos, a partir de fluxos de magma basáltico na superfície do planeta vermelho. Estas rochas foram ejectadas de Marte pelo impacto de um objecto há pouco mais de uma dezena de milhões de anos. Alguns exemplares atingiram a Terra, caindo em regiões tão distintas como a Antártida e o Norte de África. Y000593 é o maior representante de um desses fragmentos, um meteoróide que terá chegado ao nosso planeta há cerca de 50 mil anos.
“Embora as missões robóticas a Marte continuem a lançar luz sobre a história do planeta, os meteoritos marcianos são as únicas amostras de Marte disponíveis para estudo na Terra” afirmou Lauren White, investigadora do Laboratório de Propulsão a Jacto, nos EUA, e primeira autora do artigo. “Na Terra podemos usar múltiplas técnicas analíticas para olharmos de forma mais aprofundada para o interior dos meteoritos (…). Estas amostras oferecem pistas para a antiga habitabilidade do planeta.”
Imagem de microscopia óptica mostrando veios ricos em iddingsito numa fina secção do meteorito Yamato 000593.
Crédito: NASA.
White e colegas observaram no interior de Y000593 uma rede de veios de cor acastanhada com centenas de micrómetros de comprimento, seccionando os cristais de olivina que formam parte da matriz do meteorito. Partindo destas estruturas, os investigadores encontraram microtúneis perpendiculares preenchidos por iddingsito, um mineral resultante da exposição da olivina a fluídos aquosos. Estas estruturas apresentam formas curvilíneas com dezenas de micrómetros de comprimento, semelhantes a estruturas de origem biológica descritas em vidros basálticos terrestres.
Estruturas esféricas embebidas numa camada de iddingsito, numa imagem de microscopia electrónica de varrimento. A área marcada a vermelho tem mais carbono que a área sem esférulas, marcada mais acima a azul.
Crédito: NASA.
A equipa liderada por White descobriu ainda aglomerados de esférulas embebidas em múltiplas camadas de iddingsito, com composição distinta dos carbonatos e das camadas vizinhas de silicatos. Estas formações têm entre 0,1 e 0,5 µm de diâmetro e são significativamente mais ricas em carbono que os minerais que as rodeiam. Estruturas idênticas foram também descritas no meteorito marciano Nakhla, um objecto que atingiu o Egipto em 1911, e que foi recuperado pouco tempo depois da sua queda.
De acordo com os investigadores, é possível que as esférulas de Y000593 tenham sido criadas por mecanismos abióticos. No entanto, a sua semelhança em tamanho, forma e composição a formações de origem biológica encontradas em amostras terrestres, deixa no ar a intrigante possibilidade destas estruturas poderem ser vestígios de antiga actividade biológica na superfície de Marte.
“Esta não é uma prova definitiva”, disse White. “Nunca podemos eliminar a possibilidade de contaminação em nenhum meteorito. No entanto, estas estruturas são interessantes e mostram que estes meteoritos deverão continuar a ser estudados.”
Podem ler mais sobre este trabalho aqui.
3 comentários
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Tenho algumas assim apanhadas com um iman nestes últimos dias têm caido bastante rochas do céu aonde apanhei em telhados e saidas de caleiras entre outros locais e algumas tipo teklites com uma cor verde escuro queimado visto a lupa como vidro queimado
Além da possibilidade da contestação devido a contaminação terrestre.
Existe outra possibilidade de contestação que é quanto a origem, que pode ser até mesmo de fora do sistema solar.
Se tem alguma rocha assim aqui, de lá.. sem sombra de dúvidas que elas existiriam em abundância lá..
mas parece que não é bem assim ..
?? fora do sistema solar?
Este meteorito é de Marte… que fica no nosso sistema solar 😉
[…] – Panspermia. Explicação. Zita Martins (colisão de cometas). Yamato 000593. Richard Hoover. Chandra Wickramasinghe. Vida na estratosfera (crítica). Vida veio de Marte. […]