O verdadeiro responsável pela extinção dos Dinossauros pode ter sido a matéria escura?

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Pelo menos é o que dizem dois astrofísicos em um artigo recente. Um fino disco de matéria escura percorrendo nossa galáxia pode estar por trás de grandes quedas de meteoros que se acredita terem sido responsáveis por algumas das grandes extinções em massa do planeta Terra, incluindo aquela dos dinossauros.

Meteoritos atingem a superfície da Terra regularmente. 30 anos atrás, físicos sugeriram que este bombardeamento se intensifica ciclicamente, apontando alguma causa cósmica desconhecida. Uma explicação proposta na época era que o sol possuía uma companheira estelar não detectada, chamada de “Nêmesis” ou “Estrela da Morte”, que regularmente se balança, mandando cometas da remota nuvem de Oort para o nosso Sistema Solar interior.

milkyway

Os físicos teóricos Lisa Randal e Mattew Reece, da Universidade de Harvard, reciclaram outra proposta antiga, em seu último artigo, no qual o Sol, durante seu movimento oscilatório pelo “braço” da via láctea, atravessa uma densa camada de matéria escura que causa um “empurrão” gravitacional que acarreta a perturbação dos cometas da Nuvem de Oort.

Modelos anteriores não conseguiam verificar uma força gravitacional poderosa o bastante para causar esse efeito. Mas Randal e Reece tentam demonstrar que um fino disco de matéria escura no centro da galáxia poderia fazer exatamente isso, causando tempestades de cometas com periodicidade de aproximadamente 35 milhões de anos. Isto bate com algumas evidências estatísticas fracas encontradas em avaliações recentes de crateras de impacto. O artigo será publicado no periódico Physical Review Letters.

Matéria escura geralmente é pensada como interagindo muito fracamente com a matéria e, portanto, não estaria apta a formar tal disco. Mas os autores sugerem que uma pequena fração de matéria escura poderia se comportar de forma bem diferente. No ano passado, eles desenvolveram o conceito da “matéria escura dissipativa”, uma forma especulativa de matéria escura proposta numa tentativa de explicar sinais análogos do centro da galáxia observados pelo Telescópio Espacial de Raios Gama Fermi. O modelo dos pesquisadores contempla um disco escuro de aproximadamente 35 anos-luz (10 parsecs) de espessura, com uma densidade de cerca de uma massa solar por ano-luz ao quadrado (10 massas solares por parsec ao quadrado) – denso o bastante para disparar chuvas de meteoros periódicas.

Evidências de um ciclo de 35 milhões de anos, baseado nos registos de crateras de impacto, são superficiais, segundo Randall. Flutuações no registo de crateras significa que a busca por periodicidade sempre trarão provavelmente algumas correlações. Então ela e Reece contornaram o problema e previram que período poderia ser, dentro da base do seu modelo. “Se você então encontrar algo que bate [com as informações], terá uma significância estatística muito maior do que teria de outra forma”.

Eles compararam seu modelo, usando um ciclo de 35 milhões de anos, com o registo de crateras de mais de 20 km e criadas nos últimos 250 milhões de anos. Comparado com os bombardeamentos aleatórios de cometas, o modelo teve uma taxa de semelhança de 3, o que significa que bate com as datas observadas das crateras 3 vezes melhor que uma taxa aleatória.

Coryn Bailer-Jones, astrofísico do Max Planck Institute for Astronomy em Heidelberg, na Alemanha, discorda dos resultados. Ele diz que uma semelhança de 3 para 1 é um nível que “você normalmente nem se incomodaria em mencionar”. Ajustando os parâmetros que descrevem o disco escuro, você poderá encontrar diferentes resultados, segundo ele, nem sequer o modelo leva em consideração o facto de que asteroides, que não estão tão longe quanto a nuvem de Oort, podem ter causado as crateras.

A seleção arbitrária de crateras e o facto de que algumas estimativas de idade possuem margens de erro, adiciona certo ceticismo, segundo Adrian Melott, astrofísico da Universidade do Kansas. “Matéria Escura Dissipativa é uma explicação possível, mas não está claro se está explicando algo real”, diz.

Randall admite o caráter especulativo do modelo, mas considera um exercício válido. “O modelo está tentando tornar uma ideia meio maluca em ciência, dizendo que fará previsões baseadas nisso. Não estamos dizendo que 100% disso irá se provar verdade.”

Apesar das evidências estarem longe de serem sólidas, astrônomos serão capazes de testar se este disco escuro existe e se possui a densidade predita pelo modelo. A Missão Gaia, da Agência Espacial Europeia, lançada ano passado, mapeará o campo gravitacional da galáxia e poderá descartar ou confirmar a presença deste disco escuro.

Adaptado de artigo da Nature.

5 comentários

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  1. Muito bom !

    • José Simões on 30/04/2014 at 20:45
    • Responder

    A matéria escura.

    Tão abundante na galáxia mas no sistema solar se existe está abaixo da capacidade de detecção (que é boa). Dá que pensar.

    1. A matéria escura pode ser apenas visualizada por seus efeitos gravitacionais com outros corpos celestes, basicamente o mesmo que o buraco negro, e acredita-se que ou a matéria escura ou a energia escura, desculpem-me, eu esqueci qual das duas opções da obscuridade é a qual relato, seja o “vácuo” que até hoje tratávamos como vácuo, mas acho que juntei duas ou mais informações nada relacionáveis, se esse for o caso, me corrijam, nada pior que estar errado e não saber.

      1. Energia escura é o que se pensa que faz o Universo expandir-se a velocidades cada vez maiores.
        Não tem nada a ver com esta notícia 😉

  2. Parece-me um estudo altamente especulativo…

    Tal como o Coryn, acho que eles simplesmente ajustaram as evidências que quiseram à explicação que tinham preparada à partida. Tudo pode ser ajustado para provar o que quisermos, mesmo que nada exista.
    Da mesma forma que se pode ter a razão Pai Natal para as prendas de Natal, e a seguir vai-se ver as prendas e percebe-se que era o que constavam na “carta para o Pai Natal”.

    Em parte parece-me um problema dos crentes nos OVNIs. Antes de pensarem em naves extraterrestres, provem primeiro que existem civilizações avançadas extraterrestres e que elas conseguem viajar pelo espaço, incluindo que podem vir até aqui… só depois disso provado podem considerar a hipótese de realmente eles estarem a vir cá.
    Neste caso, antes de ligarem a extinções na Terra, primeiro têm que provar que existe esse ciclo, que a matéria escura existe nessa densidade, que existe a dissipativa… e só depois de provarem estes pressupostos, é que podem tentar perceber se existe uma correlação entre os dois.

    E mesmo que haja correlação, pode não existir causalidade:
    http://www.astropt.org/2011/10/16/correlacao-nao-implica-necessariamente-causalidade/

    Ou seja, o estudo parece-me com vários “buracos”…

    Mas o estudo é interessante anyway e eu adorei saber sobre ele 😉
    E acho que este seu artigo mostra os dois lados da questão… e enfatiza muito bem a parte da especulação 🙂

    abraços!

  1. […] – Extinções. Dinossauros (ar que respiravam, matéria negra). Humanidade. Clovis. Mamutes. Tunguska. […]

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