Anti-GM de Fantasia

imagesAté agora suportava os seguidores dos macrobióticos até que li um texto do director do Instituto Macrobiótico de Portugal. Neste sítio dá-se corpo a fantasias de tratamentos. Até aqui tudo bem mas quando descubro um texto com erros científicos, de quem não sabe de ciência e esse texto amaldiçoa a investigação, entramos no campo da literacia. Vou então dissecar muito finamente o texto e reflectir sobre o mesmo.

“Em Portugal (…) não existe um verdadeiro movimento que discuta o potencial perigo deste tipo de alimentos para a saúde humana e ambiental.”

De facto, há um que estraga o trabalho de agricultores mas mesmo assim não é um grande grupo. Não há um verdadeiro movimento porque o perigo também não é assim tão verdadeiro.

“Por tudo o que tenho lido e estudado sobre o assunto sou contra a utilização de alimentos transgénicos (…). No mercado americano estão disponíveis produtos láteos derivados de vacas tratadas com uma hormona geneticamente manipulada (rBST) e existem já uma grande variedade de enzimas geneticamente manipuladas que são utilizadas pela indústria de processamento alimentar.”

O primeiro OGM para alimentação foi o tomate Flavr Savr, alterado de modo a durar mais tempo antes de apodrecer. Nunca aconteceu nada referente à ingestão deste OGM. Não se pode tirar uma opinião muito séria sobre um tema tão específico a partir de leituras vagas e, muitas vezes, facciosas. Os detergentes que o senhor usa também contêm enzimas. Alguns frutos e legumes que comemos também sofreram alterações genéticas para serem consumidos.

“A manipulação genética é uma experiência científica à escala mundial em que todos somos cobaias e da qual não se sabe minimamente quais vão ser os resultados.” (…) “Os alimentos GM não foram sujeitos a um escrutínio rigoroso.”

Não esperava conspiração num site destes, mas tudo bem. Na manipulação genética não somos cobaias e sabe-se quais são muitos dos resultados, pois são trabalhados para um efeito e esse efeito é registado. Alguns de nós sabe o quanto os produtos engenheirados são testados e seguidos. Mas sabem o que é mais maravilhoso neste tipo de pseudo-argumentos? É que o autor, sem querer, responde (reparem mais abaixo).

“quem parece lucrar com todo este processo são meia dúzia de multinacionais”

Onde é que nós já lemos isto? Aqui fico com a noção mais clara sobre o tipo de pensamento do autor e mais confiante numa auto-resposta sobre a falta de testes em plantas GM.

“Segundo um artigo recente da “Time” já se testaram cerca de 4500 plantas GM e para as companhias de biotecnologia”

Ora cá está! Afinal testaram, e foram 4500!

Para terminar: Há alguma confusão e desconhecimento quanto a estas técnicas. Transgénicos são produtos alterados através de transferência genética em laboratório. Alguns medicamentos, como vacinas, são transgénicos, muitos alimentos que desconhecemos são OGM (organismos que sofreram alteração genética de alguma forma, seja arcaica, como os cães, seja contemporânea)… animais de estimação… até nós somos OGM.

6 comentários

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  1. A questão é que os OGM podem não ser maléficos para a saúde dos consumidores mas, por ser difícil e cara a realização de estudos de impacto ambiental a longo prazo e pelo facto de a maioria dos estudos que visam problemas de impacto ambiental serem financiados por grupos como a Monsanto, não dispomos de informação fiável a respeito de questões como a resistência a pragas, já que convém à Monsanto que os agricultores comprem bastantes pesticidas dos que eles produzem (e não são baratos), e em relação à produtividade a longo prazo (‘curiosamente’ as variedades mais antigas de árvores de fruta têm uma grande longevidade, produzem praticamente todos os anos sem ser nessessário o emprego excessivo de tratamentos embora não em muita quantidade e são mais adaptáveis às mudanças de temperatura e humidade).
    Portanto, embora o senhor do instituto macrobiótico tenha dado azo ao descrédito, a preocupação relativa ao uso de OGM estava apenas mal fundamentada, o problema mais evidente não é o dos transgénicos para a alimentação mas o facto de os transgénicos tornarem os agricultores escravos de grandes multinacionais, já que são obrigados a comprar sementes e pesticidas de forma a manterem a produtividade.

    • Nuno José Almeida on 16/06/2014 at 11:53
    • Responder

    O problema das OGM não está nas OGM mas na lei da patentes completamente surreal, problema que se extende a muitas outras vertentes que não só as OGM.

  2. Pelo menos o autor tem razão num ponto; Alguém lucra com esta tecnologia, caso contrário não apostavam nela…

    1. Produtores aos milhões usam essa tecnologia porque têm benefícios com o custo de produção e com a simplificação do processo de plantio e manutenção, e há mercado (pessoas aos bilhões) que compram os alimentos deles.

        • José Simões on 16/06/2014 at 21:54

        O ganho para o produtor é moderado. Ganham bem a princípio, mas os preços das sementes vão subindo à medida que os agricultores dependem delas, é óbvio.

        SE, como espero, seja obrigatória a rotolagem, então é que o lucro vai por água abaixo deixando os agricultores que apostaram no cavalo, na miséria.

        Transformar a agricultura num casino não é uma acção que eu defenda.

    • José Simões on 15/06/2014 at 18:36
    • Responder

    Discordo muito do artigo. Infelizmente nem é muito informativo. Que tal uns links?

    Só um ou dois ponto.

    1. “até nós somos OGM”

    NÃO

    Claro que nós (e os cães) somos uma versão geneticamente modificada dos nosso predecessores. MAS não é essa a definição geralmente aceite.

    Se dermos um pulo à wikipédia teremos uma definição mais aceitável:

    “A genetically modified organism (GMO) is an organism whose genetic material has been altered using genetic engineering techniques”

    Ora é evidente que nós não somos o resultado de técnicas de engenharia. A nosso mudança genérica tem a ver fundamentalmente com a selecção natural e coma reprodução, talvez alguma mutação e quem sabe se alguma (rara?) transferência lateral de genes. Engenheiros? Só se os engenheiros foram os extraterrestres 🙂

    2. “já se testaram cerca de 4500 plantas GM e para as companhias de biotecnologia”

    Os testes não poder ser feitos PARA as companhias. Têm de ser feitos pela comunidade científica, sem conflito de interesses. Claro que se eu pago a um advogado ele vai argumentar em tribunal que eu tenho razão. É normal, Porque se esperaria aqui alguma coisa de diferente.

    Claro que ajudava se essas companhias não tivessem o hábito, que considero inaceitável, de patentear organismos vivos. Assim qualquer investigação na área, por equipes independentes, é muito dificultada.

    3. “quem parece lucrar com todo este processo são meia dúzia de multinacionais” / “Aqui fico com a noção mais clara sobre o tipo de pensamento do autor”

    Não tenho nada por princípio contra as multinacionais, nem contra as mononacionais. São empresas privados e procuram naturalmente o lucro. É o capitalismo, e até agora foi o sistema económico mais eficiente que foi experimentado. Sob qualquer ponto de vista.

    Não tenho tanta simpatia pelo esforços que fazem para corromper os burocratas e mesmo os políticos eleitos. Isso não é capitalismo, é “corrupção”, “crime organizado”.

    Mas ainda não fizeram uma OPA sobre o governo :-). As leis são feitas por parlamentos eleitos e como cidadão tenho direito de dar a minha opinião sobre o assunto.

    Tivemos uma ideia daquilo que esses senhores são capazes quando tentaram introduzir a “lei das sementes”, que simplesmente tenta proibir o uso de sementes que não façam parte de um mega catálogo – cuja manutenção seria evidentemente paga pelos contribuintes. Esse disparate completo foi parado pelo parlamento europeu, recentemente, mas está no caminho de ser introduzido pela porta do cavalo pelo TTIP.

    Tenho mais detalhes (e links) em:

    http://lasers-na-selva.blogspot.pt/2014/02/viva-agri-rejeita-proposta-de-lei-das.html

    http://lasers-na-selva.blogspot.pt/2014/03/contra-acordos-negociados-secretamente.html

    4. “Não esperava conspiração num site destes”

    A Monsanto (e um seu proxy, par ser mais exacto) processou o estado norte americano de Vermonte, porque aprovou uma lei que apenas obriga os produtos OMG a serem etiquetados por isso. Deve ser conspiração.

    http://rt.com/usa/165860-vermont-gmo-labeling-lawsuit/

    Ao jeito de conclusão:

    Os OGM têm talvez um futuro. Mas por uma questão de precaução devem estar sob vigilância. E essa compete a governos mandatados por parlamentos democrticamente eleitos, e não por burocratas supernacionais – mesmo que tenham cursos de ciência.

    O que se está agora a passar nos EEUU é um bom exemplo do que podemos vir a esperar no futuro. Na Europa. estejamos atentos.

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