12 anos após o acidente do Columbia
A 1 de Fevereiro de 2003, quando regressava à superfície terrestre após mais uma missão espacial bem-sucedida, o vaivém/ônibus espacial Columbia desintegrou-se na atmosfera sobre o Texas, matando a sua tripulação de 7 astronautas.
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Carlos Oliveira
Carlos F. Oliveira é astrónomo e educador científico.
Licenciatura em Gestão de Empresas.
Licenciatura em Astronomia, Ficção Científica e Comunicação Científica.
Doutoramento em Educação Científica com especialização em Astrobiologia, na Universidade do Texas.
Foi Research Affiliate-Fellow em Astrobiology Education na Universidade do Texas em Austin, EUA.
Trabalhou no Maryland Science Center, EUA, e no Astronomy Outreach Project, UK.
Recebeu dois prémios da ESA (Agência Espacial Europeia).
Realizou várias entrevistas na comunicação social Portuguesa, Britânica e Americana, e fez inúmeras palestras e actividades nos três países citados.
Criou e leccionou durante vários anos um inovador curso de Astrobiologia na Universidade do Texas, que visou transmitir conhecimento multidisciplinar de astrobiologia e desenvolver o pensamento crítico dos alunos.
3 comentários
“… Acho o acidente da Columbia mais trágico do que o da Challenger, no sentido que os astronautas devem ter visto nos computadores algo de errado ao entrar na atmosfera e tentado algo nos derradeiros segundos antes da desintegração fatal. Na Challenger, foi uma explosão repentina na subida e que nem detectaram ou sentiram alguma tensão. …”
Não concordo. Ambos devem ter sido semelhantes para os tripulantes que não perderam a consciência imediatamente.
Ver: http://www.nbcnews.com/id/3078062/ns/technology_and_science-space#.VNCT-Gd_vXo
Eu experimentei pessoalmente o que é o “Tempo de Consciência Útil” no centro de Treino Fisiológico do Hospital da Força Aérea em 1989, e é claro para mim que dava tempo para alguns dos tripulantes activarem o equipamento de oxigénio de emergência.
Além disso, numa emergência em que a despressurização não ocorre dum modo lento e traiçoeiro, qualquer pessoa é capaz de pelo menos um minuto de apneia, e isso é tempo suficiente para encontrar uma fonte de oxigénio.
Para aprofundar o tema, sugiro uma vista de olhos a esta tese (Tabela 2) na página 9 :
Desempenho de Pilotos e Segurança de Voo – O Caso da Hipoxia em Aviação Desportiva
https://ubithesis.ubi.pt/bitstream/10400.6/2053/1/Desempenho%20de%20Pilotos%20e%20Seguran%C3%A7a%20de%20Voo%20O%20Caso%20da%20Hipoxia%20e.pdf
Um texto mais sucinto: http://www.scielo.br/pdf/rbof/v67n5/v67n5a10.pdf
Sobre a segurança nas missões espaciais:
NASA Safety Panel Criticizes Commercial Crew Program for Lack of Openness
http://www.spacepolicyonline.com/news/nasa-safety-panel-criticizes-commercial-crew-program-for-lack-of-openness
Commercial Crew To Be Ready by 2017, But NASA Will Keep Flying on Soyuz Too
http://www.spacepolicyonline.com/news/commercial-crew-to-be-ready-by-2017-but-nasa-will-keep-flying-on-soyuz-too
Sugiro um artigo que se refere á burocracia da NASA e implicitamente ás actividades de EVA no espaço profundo, talvez (justamente) junto a um asteróide…:
“Estou decepcionado com o programa espacial actual”, diz ex-astronauta
http://www.dw.de/estou-decepcionado-com-o-programa-espacial-atual-diz-ex-astronauta/a-18221068
Alfred Worden participou da missão Apollo 15 e foi o primeiro a concluir uma Actividade extra-veicular fora da órbita terrestre.
Em entrevista à DW, ele relembra a viagem e critica a pesquisa espacial das últimas décadas.
Citação:
Todos que se envolveram no programa tinham apenas um objectivo: levar os astronautas à Lua e trazê-los de volta em segurança. Não havia nenhuma burocracia.
Quando tínhamos um problema, nos sentávamos à mesa, discutíamos e decidíamos o que fazer. Primeiro, ouvíamos a opinião de todos e aí formávamos uma opinião.
Assim, conseguíamos esclarecer várias questões técnicas rapidamente e chegar aos resultados correctos.
Ninguém tentou se promover ou preservar o seu trabalho. Não tínhamos gestores que se acotovelavam por cargos mais altos. Todos deram o melhor para chegar à Lua.
Hoje, vemos exactamente o contrário. A Nasa se tornou muito burocrática, como qualquer outro órgão do governo.
O lema é: “vou fazer de tudo para manter o meu emprego”.
Mas isso não significa necessariamente que você está fazendo o que é necessário para atingir um objectivo.
….
Estou decepcionado com o programa espacial dos últimos 30 anos.
E tenho minhas ressalvas quanto à Estação Espacial Internacional. Do ponto de vista político, ela é algo bom, uniu muitos países.
Mas tenho dúvidas sobre o retorno gerado pelos 100 bilhões de dólares. É muito dinheiro.
Por outro lado, se a estação espacial fosse usada para o que, na minha opinião, deveria ser usada, então, seria um investimento para o futuro.
O benefício real é que você pode levar todo o tipo de combustível em porções menores e colocar em um grande tanque. E quando você quiser ir a Marte, você pega esse tanque e o acopla à sua nave espacial. Ao invés de tentar levar todo o combustível de uma vez a partir da Terra.
Acho que há muito potencial, mas não estou seguro de que o estamos usando correctamente…. ”
Por acaso, concordo em parte com a opinião do entrevistado… embora já nos anos 60 existisse muita documentação e uma grande quantidade de papelada na NASA, de facto houve um crescimento exponencial nas décadas seguintes…
E aproveito para sugerir uma vista de olhos a esta questão:
http://en.wikipedia.org/wiki/Propellant_depot
Em 2001 obtive algum financiamento da ESA para trabalhar neste tipo de opção… mas o sector ainda continua (por agora) muito “sub-desenvolvido” em toda a Europa, e também no resto do mundo.
A ideia de reabastecimento em órbita até foi usada no filme de ficção http://en.wikipedia.org/wiki/Armageddon_(1998_film) mas isso foi feito dum modo tão ambivalente, que se fica na dúvida se o objectivo era ridicularizar a ideia, ou se era fazer uma divulgação “discreta e indirecta” para sugerir a possibilidade dum modo (subtil?)…
Para comparar:
http://en.wikipedia.org/wiki/Aerial_refueling / http://pt.wikipedia.org/wiki/Reabastecimento_a%C3%A9reo
Acho o acidente da Columbia mais trágico do que o da Challenger, no sentido que os astronautas devem ter visto nos computadores algo de errado ao entrar na atmosfera e tentado algo nos derradeiros segundos antes da desintegração fatal. Na Challenger, foi uma explosão repentina na subida e que nem detectaram ou sentiram alguma tensão.
Mas são acidentes que não podem ser esquecidos, pois eles são como os primeiros marinheiros que desbravaram os revoltosos mares em caravelas frágeis, que a cada acidente, foram aprimorando suas técnicas até ficarem seguras o bastante para desbravar cada vez mais longe.
Na verdade, e tal como o Rui Barbosa referiu num comentário ao post que escrevi na semana passada aquando do aniversário do acidente do Challenger, O Challenger não explodiu.
O Rui barbosa explica bastante bem no artigo que escreveu sobre o assunto no Em Órbita (http://www.zenite.nu/orbita/29o-aniversario-do-desastre-do-challenger/ ): “Uma concepção errada que ficou do acidente foi a de que o vaivém teria explodido, o que não é verdade. Da mesma forma não é verdade dizer que os sete astronautas morreram a quando da destruição do tanque. Na realidade a expansão dos gases que levou à destruição do Challenger em milhares de destroços, terá resultado na perda de pressurização da cabina onde se encontrava a tripulação que possivelmente terá ficado inconsciente.”
E quanto à tripulaão, o Rui explica: “No entanto é sabido que alguns sistemas de suporte de vida foram activados o que leva a supor que alguns tripulantes teriam estado conscientes logo após a destruição do tanque ou na queda para o Oceano Atlântico. (…) Todas as investigações indicam que a tripulação se encontra viva na altura em que se dá o impacto nas águas do Atlântico a uma velocidade de 3222 km/h. Com a despressurização os sete astronautas teriam dificuldade em respirar e segundo o relatório da Comissão Rogers que investigou o acidente, a tripulação “…possivelmente, mas sem haver uma certeza, terá perdido a consciência“. O impacto nas águas do mar resulta numa desaceleração de 200 g, esmagando a estrutura da cabina e destruindo tudo no seu interior. A cabina do Challenger pode ter sido suficientemente forte para não sofrer qualquer despressurização. No entanto caso a tripulação tenha perdido a consciência não se sabe se os astronautas poderiam ter readquirido a consciência à medida que a atmosfera se tornava mais espessa durante os últimos segundos da queda.”