Em 2030, o Sol irá “adormecer” e a Terra irá entrar numa nova Idade do Gelo?

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Alguns jornais advertiram: um novo estudo científico prevê que o Sol tenha menos actividade e por isso a Terra irá entrar numa nova era glacial.
Algumas revistas de astronomia, como a Astronomy Now, fizeram o mesmo.
E até o Science Daily enveredou pela mesma história, baseado no comunicado para a imprensa da Royal Astronomical Society.
A inovadora investigação, que prevê que a actividade solar diminua em 60% durante a década de 2030, foi apresentada, como todas as investigações fabulosas, por uma equipa de cientistas russa em Gales.
O Mínimo de Maunder foi várias vezes referido.
Imagens do rio Thames congelado foram publicadas.

The Frozen Thames, 1677 - pintura a óleo de Abraham Hondius.

The Frozen Thames, 1677 – pintura a óleo de Abraham Hondius.

O sensacionalismo prevaleceu… até que se começou a ouvir vozes contra.
Instituições que estudam o clima, prevêem que a temperatura média na Terra continue a aumentar.

A própria Astronomy Now (que referi atrás), distingue o que os cientistas disseram do que aquilo que depois foi publicado nos jornais e redes sociais: o que os cientistas dizem é que o novo modelo que desenvolveram prevê (mas não é certo) uma diminuição da actividade solar, semelhante àquela que se pensa existiu durante o Mínimo de Maunder – mas não dizem que isso vai fazer a Terra congelar.

O novo modelo solar que inclui dois dínamos solares, um mais próximo da superfície e outro no interior do Sol, na zona de convecção, prevê que o número de manchas solares vai diminuir. Este modelo parece prever com elevada eficácia o número de manchas solares.
Na verdade, é “só” isto. Nada tem a ver, sequer, com a “atividade solar” no sentido de prever a quantidade de energia que o Sol emite. O que é prevista é uma diminuição de 60% das manchas solares, não da atividade solar.

Mas as manchas solares estão sempre a aumentar e a diminuir durante os ciclos de 11 anos do Sol. E mesmo quando temos extremos na quantidade (ou falta dela) de manchas solares, o efeito na Terra é mínimo. Como é dito na Slate, a nossa estrela é bastante estável, e a quantidade de energia que envia para a Terra também é bastante estável; mesmo em períodos extremos de actividade (ou falta dela), a quantidade de energia enviada continua a ser praticamente a mesma (com uma diferença de até 0,1%).

Phil Plait diz que esta mesma história já apareceu em 2011, e já nessa altura era mentira. Diz também que fica à espera dos artigos científicos, avaliados por pares… porque até agora, nada. Mas por acaso já existe.

Curiosamente, um outro estudo que prevê uma diminuição das manchas solares, para um enorme mínimo, aponta para uma queda de temperaturas na Europa do Norte de 0,5ºC. Sim, é disto que estamos a falar: de números negligenciáveis.

O professor Donald Prothero diz na Skeptic que esta notícia é só mais um exemplo de mau jornalismo…
Também diz que este estudo não foi avaliado por pares nem sequer existem dados. Simplesmente, foi um relatório preliminar de um modelo matemático do comportamento do campo magnético do Sol. Só isto. Nada mais. Nada tem a ver com a Terra.
Ele termina dizendo que vivemos na era do jornalismo de tabloides, em que ninguém quer saber dos factos, ninguém quer informação credível, e que as mentiras e o sensacionalismo são o que as pessoas mais gostam de partilhar.

tabloid journalism

Já a Physics.Org diz que esta notícia expôs um grande falhanço na comunicação de ciência.

hoopla

3 comentários

  1. Em minha opinião tudo o dito acima falha o essencial.

    Facto: Os mínimos de Sporer, de Maunder e de Dalton associaram um número baixo de manchas solares (o testemunho possível na altura da actividade solar) a baixas temperaturas na Europa (no resto do mundo os dados são escassos).

    Não é impossível que tenha sido coincidência, mas seria quase como dizer que o aumento de CO2 e da temperatura também ser uma coincidência, até porque o contrário também se tem passado, alta actividade solar -> altas temperaturas.

    Se aceitarmos que não foi uma coincidência é preciso perceber o mecanismo ou pelo menos modelar o modo como ele actua (existem várias propostas, desde a influência da radiação cósmica na dinâmica das nuvens até acção sobre o jet stream). Importante saber se esse mecanismo teria uma incidência global.

    Parece claro que a variação isolada da saida de energia radiante do Sol não é suficiente, mas a radiação electromagnética não é a única influência do Sol sobre a Terra.

    Portanto se não existe uma explicação clara sobre o mecanismo, paraçe-me pouco científico por de parte a hipótese de arrefecimento com base no fluxo de radiação, mecanismo que não é provavel que tenha sido o responsável no passado.

    E sim, a evidência aponta para que o Sol está no presente a passar uma fase de baixa actividade, isso é um facto, não necessita de teoria. Se essa fase é curta ou qual é o mecanismo solar resposável, isso é que ainda não se sabe, e é nesse ponto que a “nova” teoria dos 2 dínamos se encaixa e veremos como as suas previsões se vão verificar.

    1. Olá José Simões,

      O problema não me parece ser do texto, que penso que está claro, mas sim da interpretação que deu a ele.

      Por exemplo:
      “Portanto se não existe uma explicação clara sobre o mecanismo, paraçe-me pouco científico por de parte a hipótese de arrefecimento com base no fluxo de radiação, mecanismo que não é provavel que tenha sido o responsável no passado.”
      Claramente, isto nada tem a ver com o post em causa, mas é derivado sim de uma falha de compreensão de texto.

      Da mesma forma que quando são publicados artigos a dizer que é mentira que o asteroide XPTO vai bater na Terra no próximo domingo, é errado existirem comentários de leitores a assumirem que o artigo diz que não vão existir asteroides em colisão com a Terra.

      abraços

  2. Certo, o Sol vai entrar em modo “Stand-by” e como é previsto por lei só pode produzir o máximo de 1 W.
    Vai ficar tudo ás escuras e as pessoas a tremerem com o frio até baterem com a cabeça numa árvore e curarem a bebedeira.
    BANGZZZ!

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