Nesta nova imagem enorme vemos nuvens de gás vermelhas iluminadas por estrelas massivas raras que começaram a brilhar há pouco tempo e por isso ainda se encontram profundamente enterradas em espessas nuvens de poeira.
Estas estrelas muito jovens e extremamente quentes são apenas personagens passageiras no palco cósmico e a sua origem permanece um mistério.
A enorme nebulosa onde estas gigantes se formaram, juntamente com o meio rico e fascinante que as envolve, foi capturada em pormenor pelo Telescópio de Rastreio do VLT do ESO (VST) no Observatório do Paranal, no Chile.
A RCW 106 é uma extensa nuvem de gás e poeira situada a cerca de 12 000 anos-luz de distância na constelação da Régua. O nome da região foi assim definido por se tratar da entrada nº 106 num catálogo de regiões H II da Via Láctea austral. O catálogo foi compilado em 1960 por três astrónomos do Observatório do Monte Stromlo na Austrália, cujos apelidos eram Rodgers, Campbell e Whiteoak, daí o prefixo RCW. As regiões H II como a RCW 106 são constituídas por nuvens de hidrogénio gasoso que está a ser ionizado pela intensa radiação estelar de estrelas jovens muito quentes, fazendo com que as nuvens brilhem e apresentem formas estranhas e maravilhosas.
A RCW 106 propriamente dita é uma nuvem vermelha situada acima do centro nesta nova imagem, embora uma grande parte desta enorme região H II se encontre escondida pela poeira e seja muito mais extensa do que a zona que é observada no visível. Podemos ainda observar nesta imagem de grande angular do VST muitos outros objetos sem qualquer relação com a região H II. Por exemplo, os filamentos que se vêem à direita da imagem são restos de uma supernova antiga (supernova SNR G332.4-00.4, também conhecida por RCW 103, que tem cerca de 2000 anos) e os filamentos brilhantes vermelhos em baixo à esquerda rodeiam uma estrela invulgar muito quente (filamentos denominados RCW 104, que rodeiam a estrela Wolf-Rayet WR 75; embora tenham números RCW, investigação posterior detalhada revelou que nenhum deles era uma região H II). Também podemos observar um pouco por toda a paisagem cósmica zonas de poeira escura obscurante.
Os astrónomos já estudam a RCW 106 há algum tempo, embora não sejam as nuvens vermelhas que lhes chamem a atenção, mas sim a misteriosa origem das estrelas poderosas e massivas que estão enterradas no seu interior. Embora sejam muito brilhantes, estas estrelas não podem ser observadas em imagens no visível, como é o caso desta imagem, uma vez que a poeira circundante é muito espessa, mas tornam a sua presença conhecida em imagens da região obtidas a maiores comprimentos de onda.
No caso de estrelas menos massivas como o Sol, compreendemos bem o processo que lhes dá origem — à medida que nuvens de gás se atraem mutuamente pela força da gravidade, a temperatura e densidade aumentam originando assim a fusão nuclear. No entanto, para estrelas mais massivas enterradas em regiões como a RCW 106, esta explicação não é totalmente adequada. Estas estrelas — conhecidas pelos astrónomos como estrelas de tipo O — podem ter massas de muitas dezenas de vezes a massa do Sol e não é claro como é que conseguem juntar e manter gás suficiente para se formarem.
As estrelas do tipo O formam-se muito provavelmente das zonas mais densas das nebulosas como a RCW 106 e são notoriamente difíceis de estudar. Para além do obscurecimento por parte da poeira, outra dificuldade prende-se com o facto das suas vidas serem muito breves. Estas estrelas queimam o seu combustível nuclear em meras dezenas de milhões de anos, enquanto as estrelas mais leves têm vidas que duram muitas dezenas de milhares de milhões de anos. A dificuldade em formar estrelas com esta massa e a brevidade das suas vidas, faz com que estes objetos sejam muito raros — apenas uma em cada três milhões de estrelas na nossa vizinhança cósmica é uma estrela do tipo O. Nenhuma delas se encontra suficientemente próximo de nós para que a possamos estudar com todo o detalhe e por isso a formação destas gigantes estelares passageiras permanece um mistério, embora a sua enorme influência seja inconfundível em regiões H II brilhantes como esta.
Este é um artigo do ESO, que pode ser lido aqui.
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