Veios minerais no interior da cratera Gale foram formados pela evaporação de antigos lagos

JohnKlein_Yellowknife_Bay_MastCam_CuriosityBuracos feitos na rocha John Klein, em Yellowknife Bay, pela broca do robot Curiosity. É possível ver alguns pequenos veios de sulfato na superfície da rocha (escala equivalente a 2 cm).
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Malin Space Science Systems.

Uma equipa de investigadores descobriu novas evidências de que os veios minerais observados pelo robot Curiosity em Yellowknife Bay, no interior da cratera Gale, foram criados pela evaporação de antigos lagos marcianos. Usando um modelo computacional que prevê as deslocações do equilíbrio químico entre fluídos aquosos e matrizes rochosas sujeitos a diferentes condições físicas, os investigadores demonstraram que os veios minerais de Yellowknife Bay foram formados quando antigos sedimentos lacustres foram soterrados, aquecidos até a uma temperatura aproximada de 50 ºC e parcialmente corroídos por fluídos subterrâneos ascendentes.

“Com cerca de 20 vezes o teor de sulfato e de sódio da água mineral engarrafada, estas águas subterrâneas marcianas deveriam ter um sabor bastante desagradável”, disse John Bridges, professor do Departamento de Física e Astronomia da Universidade de Leicester, no Reino Unido, e um dos coautores deste trabalho. “No entanto, (…) alguns microrganismos terrestres gostam de fluídos ricos em enxofre e ferro, porque podem usar estes dois elementos para produzir energia. Portanto, se tivermos em conta a questão da habitabilidade na cratera Gale, o sabor da água é uma notícia muito emocionante.”

De acordo com os investigadores, a evaporação dos antigos lagos teria levado à formação de depósitos ricos em sílica e sulfato. Posteriormente, a dissolução desses depósitos – que os investigadores pensam estarem ainda presentes na série sedimentar da cratera Gale – terá levado à formação de veios de sulfato puro no interior das argilas litificadas de Yellowknife Bay. Os precipitados originais eram provavelmente constituídos por gesso gradualmente desidratado durante o processo de soterramento dos sedimentos lacustres ou por dissecação junto à superfície.

A equipa comparou a composição das soluções aquosas da cratera Gale com a de águas superficiais e subterrâneas terrestres, e a dos fluídos que se pensa terem sido responsáveis pela precipitação de minerais no interior de meteoritos marcianos e de rochas analisadas na superfície de Marte pelos robots Spirit e Opportunity. Os resultados sugerem que os fluídos diagenéticos de Yellowknife Bay eram ligeiramente alcalinos, e com concentrações relativamente mais elevadas de sódio, potássio e silício, e baixos teores de magnésio, ferro e alumínio.

Os investigadores descobriram ainda que as argilas litificadas da cratera Gale apresentam características análogas às de antigos sedimentos lacustres do Período Triásico encontrados em Watchet Bay, na região sudoeste da Grã-Bretanha, o que suporta o modelo de formação dos veios de sulfato usado neste estudo. “Este resultado fornece evidências adicionais da longa e variada história da água na cratera Gale”, afirmou Ashwin Vasavada, investigador da missão Curiosity no Laboratório de Propulsão a Jato, nos Estados Unidos. “Devem ter estado presentes várias gerações de fluídos, cada um com a sua química singular, para explicar o que hoje encontramos no registo geológico [no interior da cratera Gale].”

Este trabalho foi publicado na revista Meteoritics and Planetary Science e está disponível aqui.